Difícil de recusar
Luís Montenegro tinha avisado no início da semana que a contraproposta sobre o Orçamento do Estado seria “irrecusável”. E esta será seguramente difícil de recusar.
A uma semana da apresentação do Orçamento do Estado, viveu-se um autêntico clima de guerra fria entre Governo e o PS, esta quinta-feira no Parlamento. Em vez de discretas aproximações e cedências calculadas em torno do Orçamento do Estado para 2025, o que se assistiu foi a ataques e crispação sem precedentes no dia decisivo de mais uma reunião, a segunda, entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos.
Uma hora depois do debate, porém, o primeiro-ministro entregou ao líder socialista uma série de propostas que consubstanciam uma verdadeira aproximação às reivindicações feitas pelo PS, quer no IRS Jovem (desaparece num ápice o regime defendido pelo Governo), quer no IRC (a descida de imposto será muito mais ténue e pode nem sequer ter impacto em 2025), aceitando ao mesmo tempo o aumento de pensões mais baixas (até aos 1500 euros) ou um maior investimento em alojamento estudantil pedido por Pedro Nuno Santos.
Luís Montenegro tinha avisado no início da semana que a contraproposta seria “irrecusável”. E esta será seguramente difícil de recusar.
A viabilização do Orçamento do Estado, no entanto, pode custar muito caro ao PS. Sobre isso não há dúvidas. O ataque enérgico do primeiro-ministro ao líder do PS horas antes de entregar uma proposta com grande índice de razoabilidade foi sinal disso mesmo.
Na verdade, Luís Montenegro montou o cerco a Pedro Nuno Santos desde o primeiro minuto. O guião estava lá todo no discurso de tomada de posse no Palácio da Ajuda e no debate do Programa do Governo, quando o primeiro-ministro avisou o PS de que “não rejeitar o Programa do Governo” era “dar ao Governo as condições de o executar”. O PS absteve-se de seguida nas duas moções de rejeição do programa apresentadas pelo BE e PCP, e esta quinta-feira no Parlamento Montenegro voltou a lembrar isso mesmo. Para ser coerente, disse, só falta a viabilização do Orçamento do Estado.
No Parlamento, primeiro, e na declaração em São Bento, depois, o primeiro-ministro colocou as últimas peças de um cerco completo a Pedro Nuno Santos.
A bola está agora no Largo do Rato e a margem para sair da posição em que o próprio Pedro Nuno Santos ajudou a colocar-se parece pequena.
Se por ventura não houver acordo, se não houver Orçamento e o país cair novamente em eleições antecipadas meses depois de os portugueses terem ido às urnas, de quem será a culpa? É esta a pergunta que as pessoas fazem e a resposta a esta interrogação pode ajudar Pedro Nuno Santos a tomar em breve uma decisão.