Uma nova geração de incêndios, cada vez mais extremos

É indispensável que as populações estejam cientes de que, quando uma série de variáveis se combinam, os incêndios podem ser altamente imprevisíveis, perigosos e destrutivos.

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Os incêndios rurais provocaram recentemente, uma vez mais, perda de vidas, prejuízos materiais e danos nos ecossistemas das regiões Norte e Centro do país. Estes acontecimentos são a demonstração evidente da ocorrência, com uma maior frequência, de eventos extremos.

Assim, a preparação das populações é, cada vez mais, um fator de grande pertinência no que diz respeito à prevenção e, num contexto de mudanças climáticas, ganha uma preponderância acrescida. Alguns estudos indicaram que, um pouco por todo o mundo, o impacto provocado pelos incêndios é cada vez mais severo. Em Portugal, apesar dos incêndios rurais serem um problema recorrente e incisivo, o conhecimento das populações sobre o risco de incêndio é considerado baixo. Desta forma, surgiram, em 2017, no âmbito de várias medidas reativas aos incêndios desse ano, os programas Aldeia Segura e Pessoas Seguras, tendo como principal objetivo desenvolver e implementar comportamentos de autoproteção nas comunidades rurais.

Avançou por todo o país a implementação destes programas, no entanto, ainda não se fez uma avaliação séria e profunda dos resultados reais da aplicação das medidas. Atualmente, verifica-se que o número de implementações tem diminuído nos últimos anos, como destaca o relatório de 2023 da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (Agif).

Contudo, apesar do esforço inicial de implementação, há uma série de problemas recorrentes que têm sido identificados no decorrer das implementações dos programas. Em muitas localidades onde a implementação já foi realizada, existe falta de adesão da comunidade, em parte por desconfiança, mas sobretudo pela ausência de uma comunicação eficaz e recorrente. Um outro desafio com o qual os municípios se debatem, uma vez que são as entidades responsáveis pela implementação dos programas, é a falta de recursos financeiros e humanos.

Para além disto, há uma imperativa necessidade de investimento em infraestruturas adequadas e seguras (abrigos/refúgios/rotas de evacuação), assim como melhorias nos sistemas de comunicação e ações de sensibilização e simulacros regulares. Só assim, iremos conseguir tornar os programas Aldeia Segura e Pessoas Seguras mais eficazes, garantindo, desta forma, que a população esteja mais informada e melhor preparada para agir de forma mais rápida e eficaz.

Por outro lado, é muito importante perceber que, cada vez mais, podem surgir incêndios extremos. Quando uma série de variáveis se conjugam, destacam-se as condições climáticas excecionais (temperaturas altas, baixa humidade relativa, ventos fortes e secas), a que se soma a acumulação de combustíveis, a degradação dos ecossistemas, o abandono do espaço rural, as atividades humanas, a interface urbano-rural, as mudanças climáticas e o uso do solo. Quando todas estas variáveis se combinam, o cenário poderá ser catastrófico! É relevante compreender também que os incêndios extremos são, de forma geral, caracterizados por apresentarem comportamentos imprevisíveis e profundamente destrutivos, mas também por excederem a capacidade de supressão do sistema de combate.

Na falta de uma preparação adequada das populações para esta nova realidade, grandes tragédias podem voltar a ocorrer! É indispensável que as populações estejam cientes de que, quando uma série de variáveis se combinam, os incêndios podem ser altamente imprevisíveis, perigosos e destrutivos.

Assim, é imprescindível reforçar, de forma contínua, uma verdadeira implementação, monitorização e avaliação dos programas de prevenção e de sensibilização. Garantiremos, desta forma, que estas políticas de prevenção estão ajustadas a uma nova realidade e que efetivamente contribuem para preparar as comunidades. Adotar uma abordagem preventiva ainda mais robusta, que priorize a educação para o risco, que sensibilize e que melhore as capacidades de resposta, é essencial. E, obviamente, uma estratégia preventiva a médio e longo prazo deve ser sustentada por um compromisso político sólido e duradouro.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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