Está o caldo entornado quando ela é mais velha do que ele…
Uma diferença de 5 anos já causa urticária, uma de 10 desafia os mais conservadores e mais de 20, é notícia.
No álbum de fotografias, ele com 21 anos e ela com 27, uma diferença de seis anos, comentada na aldeia, em 2003. “Olha, ela já uma mulher feita metida com um puto”. Parece inacreditável, os dois rostos jovens, que Maria, hoje à distância, observa como dois jovens apaixonados, sem qualquer ruga a mais que permitisse distinguir faixas etárias, ter gerado tanta polémica. Como é agressiva a leitura popular de uma mulher mais velha que se apaixona por um homem mais novo. É doida, imatura, não tem juízo. Deve sustentá-lo. Ele quer divertir-se. Há imensos atributos que toda e qualquer mulher ouve de forma gratuita. Da vedeta internacional Madonna, à nacional Cristina Ferreira (basta ver as caixas de comentários nas redes sociais), as mulheres não podem namorar com homens mais novos, sem que sejam criticadas pela escolha.
Uma diferença de 5 anos já causa urticária, uma de 10 desafia os mais conservadores e mais de 20, é notícia. E se muitos poderão pensar que estes tipos de preconceitos já não existem, a cinematografia, prova-nos o contrário. O filme The Idea of You que retrata o romance entre Solène, uma mãe solteira de 40 anos e um jovem de 24 anos, vocalista de uma banda, mostra como ainda não é um mar de rosas, a realidade de uma mulher que decide assumir um relacionamento com alguém mais novo. O filme demonstra igualmente que gostar de alguém, significa, por vezes, deixar ir, deixar partir, quando se percebe que as diferenças ou as dificuldades ultrapassam em muito, o tempo de qualidade passado junto. E na película referida, surge o reencontro anos mais tarde e a certeza de que não é a diferença de idades a ditar o fim de um amor verdadeiro.
Sabemos que o romance entre uma mulher mais velha e um homem mais novo pode efetivamente ser sol de pouca dura, se se encontrarem em fases muito distintas da vida, com ambições que podem colidir, mas não são romances que se devam evitar. São fortes, intensos e marcam aquela mulher e aquele homem para a vida toda. Disso, não há dúvidas. Tudo é vivido ao máximo e muitos casais leem o último capítulo da sua história, juntos, assumindo o compromisso de que é mesmo para a vida toda, a partilha em comum.
Importante é perceber que cada vez mais e perante a honestidade dos tempos modernos, cada um só está com quem quer, o tempo que lhe der na real gana. E como é bom observar casais, que decidem, sabe-se lá porquê e apesar das adversidades, permanecer juntos. O mistério do amor faz esbater qualquer diferença, nomeadamente a etária. Há pessoas que têm a sorte de se encontrar, de rir juntas, de conversar tanto, que o tempo passa a voar. E o tempo, esse malvado, sempre com pressa, porque quando estamos bem, o Natal pode demorar para chegar.
Esqueçam as diferenças etárias, porque tristes daqueles que não conhecem a cumplicidade de um verdadeiro amor, tenha ele a idade que tiver. E já agora, qual é a sua definição de amor? Quando e como é que reconhece que é amor? Lia há dias a escritora Chimamanda Adichie e sobre a forma como encara o amor, define-o assim: “ser-se altamente valorizado por outro ser humano e valorizar altamente outro ser humano”. Da minha parte, é amor quando sentimos que alguém nos torna a vida mais leve, que nos ajuda nos nossos fardos individuais. Ou, simplesmente, como me disse há dias a minha amiga Joana, amor é o silêncio, é chegar ao final do dia e querer estar com aquela pessoa, no sofá, cada um a fazer scroll no telemóvel, juntos de mão dada.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990.