Fnam exige que Ana Paula Martins seja substituída por alguém que perceba de Saúde

Greve de dois dias de médicos e enfermeiros está a causar constrangimentos, sobretudo ao nível da actividade programada, nomeadamente cirurgias e consultas nos centros de saúde e hospitais.

Foto
A dirigente da Fnam, Joana Bordalo e Sá, no arranque da greve, esta manhã, em frente ao Hospital de São João, no Porto ESTELA SILVA / LUSA
Ouça este artigo
00:00
04:35

A presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam) acusou esta terça-feira Ana Paula Martins de "falta de diálogo e de soluções" e, por isso, exige "um ministro ou uma ministra que perceba de saúde e consiga servir o SNS [Serviço Nacional de Saúde]".

Joana Bordalo e Sá falava aos jornalistas, no Porto, a propósito da greve de dois dias que hoje começou e que admite que irá causar "constrangimentos a nível dos vários serviços, sobretudo ao nível da actividade programada, seja a nível das consultas, nos centros de saúde, hospitais e também da cirurgia programada".

Apesar de não dispor de números sobre a adesão à greve, a dirigente da FNAM acredita que esta será maciça, "tendo em conta também a desmotivação e a revolta que existe por parte dos médicos". "Isto é um transtorno enorme na vida dos doentes. No entanto, o único responsável aqui é a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, que nada fez para evitar esta situação", sublinhou.

No seu entender, "a única coisa que este Mistério da Saúde programou para os médicos do serviço público de forma unilateral, teve consequências desastrosas, ao alterar as regras dos concursos. Assim, a esmagadora maioria dos especialistas que acabaram a especialidade em Março, há meio ano, ainda está por colocar, numa altura em que faltam tantos médicos".

Joana Bordalo e Sá criticou também o pagamento do trabalho extraordinário, cujas regras "foram alteradas de forma unilateral", estando a registar-se imensas irregularidades".

A recente decisão do Ministério da Saúde que, em despacho publicado esta terça-feira e que foi noticiado pelo PÚBLICO no sábado, determina que os dirigentes das Unidades Locais de Saúde devem alterar as férias dos profissionais sempre e quando estas ameacem as escalas das urgências, especialmente durante os expectáveis picos de procura no Inverno, numa tentativa de evitar o encerramento daqueles serviços, também foi engrossou os motivos de contestação na paralisação que começou hoje. "É uma medida abusiva, que representa um assalto às nossas férias que estavam programadas desde Abril, em concordância com as direcções de serviço, com as próprias administrações, e que correm o risco de serem canceladas", criticou Bordalo e Sá.

"Quando faltam médicos nas escalas e nas urgências, não é porque os médicos estão de férias, é mesmo porque faltam médicos e este ministério de Ana Paula Martins nada fez para os garantir e, por isso, nós também não nos cansamos de repetir que exigimos um ministro ou uma ministra que perceba de saúde e que consiga servir o Serviço Nacional de Saúde", sustentou.

Joana Bordalo e Sá acrescentou que "não foi permitido nenhum bom acordo com os médicos até à data, nem com o executivo anterior, nem com este." "Para sermos sérios numa negociação e não termos apenas uma negociação de fachada, tínhamos que ter as grelhas salariais decididas e negociadas até ao fim deste mês, para estarem inscritas no Orçamento do Estado, mesmo que fossem só para serem aplicadas em 2025", salientou.

Considerou ainda que "não é sério querer discutir grelhas no fim deste ano ou só no próximo ano, porque se não está inscrito no orçamento do Estado, não vai haver efeito nenhum e, portanto, isso era fundamental".

"Além disso, temos mesmo as questões das condições de trabalho para as quais nós temos muitas soluções e consideramos que pelo menos algumas delas deveriam começar a ser resolvidas, nomeadamente a reposição das nossas 35 horas de trabalho para ficarmos equivalentes ao resto da administração pública. Foi algo que nos foi retirado e que nunca foi reposto", apontou.

A Fnam defende também que "os novos médicos internos voltem a fazer parte da carreira porque eles estão fora e não estão protegidos e são 11.000 médicos em 32.000 do SNS, ou seja, 1/3 da força de trabalho".

"Temos aqui um leque de soluções, mas o Ministério da Saúde e Ana Paula Martins mantêm esta atitude de teimosia de não ouvir os profissionais, não ouvir os médicos e não abraçar pelo menos algumas das suas soluções", acusou.

"Não há qualquer tipo de dúvida que, para os médicos serem apaziguados e voltarem ao Serviço Nacional de Saúde, é necessário uma negociação que, de facto, seja séria e não seja apenas uma negociação de fachada. E se nada acontecer iremos escalar a nossa luta e todo o sector da saúde ter-se-á que unir, porque isto não é só para os médicos", acrescentou.

A dirigente da Fnam considerou ainda que "todos os profissionais de saúde, neste momento, estão a passar dificuldades enormes no SNS. "Os médicos e os profissionais de saúde querem ficar no SNS, mas para isso têm que ter condições dignas para aí poderem estar."

Além desta greve de dois dias, realiza-se a partir das 15h30 uma manifestação nacional em frente ao Ministério da Saúde, em Lisboa, para a qual a Fnam convida todos os profissionais e utentes por considerar que não é apenas uma questão da luta da melhoria das condições de trabalho dos médicos, "é uma luta pelo Serviço Nacional de Saúde que a Federação Nacional dos Médicos defende como sendo pública, acessível, universal, de qualidade e tem que chegar a todos".