Imagens de violação do caso Pélicot vão ser exibidas em tribunal

Vítima de violação pelo marido e por mais de 50 desconhecidos, enquanto estava drogada, quer que a exibição das imagens faça a opinião pública pensar. Juiz aceitou parcialmente o pedido.

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Imagens de violação do caso Pélicot vão ser exibidas em tribunal ZZIIGG / REUTERS
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O advogado de Gisele Pélicot, a mulher que foi violada pelo marido e por mais de 50 desconhecidos ao longo de uma década, requereu esta sexta-feira ao tribunal francês que julga o caso que as imagens dos crimes fossem exibidas na sala de audiência, mesmo com a presença de jornalistas e de outras pessoas. O juiz aceitou que os registos fossem mostrados em caso de pedido da acusação ou da defesa, mas apenas sem público, noticia o canal televisivo France 24.

Stéphane Babonneau, advogado de Gisele, justifica que a sua cliente defende o pedido porque quer que as imagens façam a opinião pública reflectir.

"Este é um julgamento com o poder para mudar a sociedade. Mas, para que mude, temos de ter coragem de enfrentar o que é realmente uma violação, não apenas uma descrição de um processo policial", disse aos jornalistas às portas do tribunal de Avignon, no sul de França.

"Não há que ter medo de confrontar a violação, como decidiu fazer Gisele Pélicot depois de ver os vídeos", continuou Babonneau, citado pela France 24, referindo-se à decisão da vítima de renunciar ao anonimato e a um julgamento à porta fechada. Pélicot tomou esta decisão para que a vergonha associada a estes casos deixe de recair sobre a vítima e passe a recair sobre o criminoso.

Contudo, o juiz do caso apenas autorizará a exibição dos vídeos sem a presença de jornalistas ou de outras pessoas estranhas ao julgamento, justificando-se com o carácter chocante dos conteúdos.

Suspeito assume que não houve consentimento

Lionel R., um homem de 44 anos e um dos 50 acusados de violar Pélicot, admitiu entrentanto a sua culpa e pediu desculpa à vítima, noticiou o The Guardian.

O homem assumiu ter violado Pélicot a 2 de Dezembro de 2018, apesar de, alegadamente, não ter tido "a intenção de violar". "Mas uma vez que não obtive o consentimento da senhora Pélicot, não tenho alternativa se não aceitar os factos", continuou.

"Peço desculpa. Só posso imaginar o pesadelo que viveu. E eu faço parte desse pesadelo. Sei que as minhas desculpas não vão mudar o que aconteceu, mas queria dizer-lhe isto", disse, citado pelo jornal britânico.

"Nunca pensei para mim mesmo: 'vou violar aquela mulher'. Mas sou culpado de violação. Se eu soubesse que ela não estava consciente do que ia acontecer, não tinha ido lá. Devia ter verificado se ela estava de acordo com isso. Não falei com ela e, por isso, não obtive o seu consentimento. Sinto-me culpado", assumiu o arguido.

Lionel tentou responsabilizar Dominique Pélicot, marido da vítima, argumentando que as suas "explicações não eram muito claras" e que acreditou tratar-se apenas de "um jogo" do qual Gisele faria parte consensualmente. "Nunca imaginei que ela pudesse não fazer parte deste jogo. Esse foi o meu primeiro grande erro", concluiu.

O julgamento decorre até Dezembro e os arguidos podem vir a cumprir penas de 20 anos de prisão por violação agravada.

São 50 co-arguidos, com idades entre os 26 e 74 anos, acusados de violar Pélicot, entre 2011 e 2020, a convite do seu (à data dos crimes) marido. Dominique drogava a mulher e recrutava homens online para que a fossem violar.

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