Homem que drogava mulher para ser violada por outros homens vai a julgamento em França

O homem misturava medicamentos para dormir e ansiolíticos na comida ou no vinho da mulher quando estavam em casa. Dominique Pélicot já se declarou culpado e pode enfrentar 20 anos de prisão.

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A polícia encontrou 20 mil ficheiros, imagens e vídeos, da mulher a ser violada mais de uma centena de vezes KENZO TRIBOUILLARD
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Durante uma década, Dominique Pélicot sedou a mulher e contactou homens através da Internet para a violar enquanto gravava. Começou nesta terça-feira, 3 de Setembro, o julgamento, em França, do caso que tem abalado o país. A mulher, Gisele Pélicot, pediu que o julgamento fosse aberto “para que a justiça seja feita em público”. Dominique Pélicot — que já se declarou culpado — e outros 50 homens enfrentam 20 anos de prisão se forem condenados por crime de violação agravado.

O homem de 71 anos misturava medicamentos para dormir e ansiolíticos na comida ou no vinho da mulher quando estavam em casa, em Masan, na região de Provença, em França. Era através de um fórum online em que os membros fantasiavam sobre actos sexuais não consensuais que Dominique Pélicot chamava outros homens para sua casa. Os investigadores afirmam que a vítima foi drogada “até um estado de quase coma”, de tal forma que não se lembrava de nada. Só num ano, terá comprado 450 comprimidos para dormir.

A vítima pediu ao tribunal que o julgamento fosse aberto ao público, após o procurador e os advogados dos acusados terem pedido que fosse fechado por motivos de “decência”. “Isso é que o que os agressores queriam”, disse o advogado de Gisele Pélicot. “Ela quer que as pessoas saibam o que lhe aconteceu e acredita que não há motivo para se esconder. Ela quer que o julgamento seja aberto para que a justiça seja feita em público.” Mais de uma dezena de pessoas vestidas de preto reuniram-se à porta do tribunal para exigir justiça para a vítima e "pena máxima" para o agressor.

O caso veio a público em Novembro de 2020, quando o acusado foi preso por filmar debaixo das saias de mulheres num supermercado. Nessa altura, a polícia encontrou numa pen de Dominique Pélicot uma pasta intitulada “abusos” — lá dentro, encontrou 20 mil ficheiros, imagens e vídeos, da mulher a ser violada mais de uma centena vezes.

Durante o tempo em que as violações decorreram, os três filhos do casal e a própria chegaram a pensar que podia ter alguma doença porque muitas vezes não se lembrava de partes do seu dia. Chegou a acordar com o cabelo cortado sem se lembrar de ter ido à cabeleireira. Quando ligou para o salão, confirmaram que tinha estado lá no dia anterior. Só em 2020 percebeu que aqueles sintomas eram resultado da medicação que o marido lhe dava.

Dominique Pélicot dava ordens específicas aos homens: não podiam ter nenhum cheiro característico e se a vítima se mexesse deviam parar imediatamente.

A filha do casal saiu da sala a chorar durante o julgamento, acompanhada pelos dois irmãos, após o juiz ter mencionado as fotos que Dominique Pélicot mantinha da filha. Caroline Darian, nome fictício, disse ao jornal Le Parisien que teme que o pai lhe tenha feito o mesmo que fez à mãe após ter sido encontrado uma foto sua “com roupa interior de outra pessoa” no computador dele, numa pasta intitulada “à volta da minha filha, nua”. “Estou convencida que estava drogada, mas isso ele nunca vai admitir.”

Dominique Pélicot também terá violado e assassinado uma agente imobiliária de 23 anos em 1991. Outra agente imobiliária, de 19 anos, foi atacada nas mesmas circunstâncias, mas conseguiu escapar. A polícia afirma que o ADN extraído do sangue encontrado no local corresponde ao do homem.

O julgamento a decorrer no tribunal de Avignon deverá durar até Dezembro.

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