Parlamento unânime no pesar pela morte do crítico Augusto M. Seabra e da actriz Graça Lobo

Assembleia da República recorda um dos críticos culturais mais decisivos do pós-25 de Abril e a actriz e encenadora que foi figura marcante nos palcos portugueses.

Augusto M. Seabra, um dos fundadores do PÚBLICO
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Augusto M. Seabra, um dos fundadores do PÚBLICO miguel silva
Graça Lobo na peça <i>Aqui Estou eu Vírgula Graça Lobo</i>
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Graça Lobo na peça Aqui Estou eu Vírgula Graça Lobo miguel silva
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A Assembleia da República aprovou esta sexta-feira por unanimidade dois votos de pesar pela morte do crítico cultural e programador Augusto M. Seabra e pela actriz e encenadora Graça Lobo.

Em sessão plenária, os deputados reconheceram o legado de Augusto M. Seabra na promoção das artes em Portugal e "o papel único na discussão política e cultural" no país, endereçando condolências à família e amigos do crítico cultural e programador, que morreu no passado dia 5 de Setembro, aos 69 anos.

O projecto, da autoria do PS, lembra que Augusto M. Seabra foi autor de uma vasta obra enquanto cronista e comentador, e escreveu "regularmente para os principais jornais nacionais e internacionais tendo sido, enquanto apaixonado pelo cinema, pela música e pelo teatro, programador e júri de diversos festivais nacionais e internacionais, como Cannes ou San Sebastián".

Os socialistas recordam ainda que Augusto M. Seabra licenciou-se em Sociologia pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresas (ISCTE), e iniciou a sua carreira em 1977 na crítica musical, "expandido o seu trabalho para o cinema, colaborando em jornais como A Luta, o Expresso, o Diário de Notícias, tendo sido ainda um dos fundadores do jornal PÚBLICO".

"A sua memória tornava Augusto M. Seabra uma enciclopédia que acrescentava à sua crítica a história e a capacidade de pensar pela sua própria cabeça, sem se deixar levar pelas conjunturas do momento, numa altura em que a opinião crítica no espaço público mantinha, ainda, uma centralidade decisiva na formação do espaço público", é recordado no projecto.

Os deputados aprovaram ainda outro voto de pesar da autoria do PS pela morte da actriz e encenadora Graça Lobo, que morreu no passado dia 9 de Setembro aos 85 anos, recordando-a como uma "mulher irreverente que se tornou uma referência para várias gerações de actores e encenadores que com ela trabalharam, deixando um importante legado para o teatro português".

Os socialistas lembram que Graça Lobo "destacou-se como actriz e encenadora, representando, ao longo da sua carreira, textos que definiram o teatro contemporâneo como Luigi Pirandello, Samuel Beckett, Jean Genet ou Harold Pinter".

O projecto refere que em Fevereiro de 1967 Graça Lobo estreou-se na Casa da Comédia, nas Noites Brancas, a partir de Dostoiévski, com encenação de Norberto Barroca (1937-2020), "quando ainda era aluna do Conservatório Nacional, tendo ainda feito parte do Teatro Estúdio de Lisboa e do Teatro Experimental de Cascais, de Carlos Avilez".

"Se no início da sua carreira foi pioneira no teatro independente, desafiando os anos da ditadura, em 1979 sente necessidade de fundar a Companhia de Teatro de Lisboa, onde põe em cena James Joyce, Harold Pinter, Noel Coward, Alan Ayckbourn, Miguel Esteves Cardoso, entre outros autores", lê-se na iniciativa.

Reconhecendo "o legado que deixa de irreverência, dedicação, talento, paixão e coragem na arte de representar e a perda que o seu desaparecimento representa para a cena artística portuguesa", os deputados manifestaram o seu profundo pesar à família e amigos de Graça Lobo.

Esta sexta-feira de manhã, os deputados aprovaram também um outro voto de pesar, da autoria do Livre, pela morte do pintor português Edmundo Cruz, "cuja obra ficou marcada pelas pinturas de paisagens e ofícios rurais" e que morreu no passado dia 21 de Agosto, com 96 anos, em Sintra.

O projecto recorda que Edmundo Cruz, que começou por ser engenheiro e maquinista naval e "foi um excelente artista e o inventor da máquina de estampagem de tecidos em ambos os lados, na vertical".

"O artista, inspirado pelas paisagens de Sintra e do Alentejo, pela ruralidade, a pesca e a vida marítima, foi e será sempre uma referência para a cultura e a arte portuguesas", lê-se na iniciativa.