Acusado de extorsão, tráfico sexual e transporte para prostituição, Diddy fica em prisão preventiva

Com as acusações que enfrenta, Combs pode ser condenado a uma pena mínima obrigatória de 15 anos de prisão, podendo ser sentenciado com pena perpétua se for considerado culpado das três acusações.

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As pressões legais aumentaram no último ano e Combs enfrenta vários processos civis movidos por mulheres e homens que o acusam de agressão sexual e outras condutas incorrectas Eduardo Munoz/REUTERS

O magnata da música Sean “Diddy” Combs vai permanecer em prisão preventiva até ao julgamento que decorrerá de três acusações federais por conspiração de extorsão, tráfico sexual e transporte para prostituição, deliberou a juíza Robyn Tarnofsky, nesta terça-feira. A acusação destacou o facto de o músico ter usado a sua fama para coagir mulheres a participarem em actos sexuais degradantes; a defesa alegou que os actos descritos pelos procuradores foram consensuais.

Segundo os procuradores, Combs, de 54 anos, utilizou o império comercial que controlava, incluindo a sua editora discográfica Bad Boy Entertainment, para transportar mulheres, bem como trabalhadores do sexo masculino, através de fronteiras estatais, para participarem em espectáculos sexuais gravados, denominados Freak Offs, aos quais o magnata da música assistia e durante os quais se masturbava.

“O arguido Sean Combs abusou física e sexualmente das vítimas durante décadas”, disse à juíza a procuradora Emily Johnson, defendendo a aplicação da prisão preventiva. “Ele é extremamente perigoso para a comunidade”, reforçou.

O rapper, que foi detido em Manhattan, na segunda-feira à noite, foi, na tarde desta terça, conduzido à sala de audiências da juíza Robyn Tarnofsky, onde se declarou inocente. A juíza, porém, decidiu que Combs deve permanecer sob custódia até ao julgamento, valorizando o argumento da acusação de que a potencial sentença pesada poderia incentivar Combs a fugir. Com as acusações que enfrenta, Combs pode ser condenado a uma pena mínima obrigatória de 15 anos de prisão, podendo ser sentenciado com prisão perpétua se for considerado culpado das três acusações.

A próxima audiência do caso foi marcada para 24 de Setembro.

Crimes começaram há pelo menos 16 anos

De acordo com a acusação, Combs aliciava as mulheres dando-lhes drogas, como a cetamina e ecstasy, apoio financeiro ou convencia-as com promessas de apoio à carreira ou de uma relação amorosa. Combs utilizava então gravações clandestinas dos actos sexuais como "garantia" de forma a assegurar o silêncio das mulheres e, por vezes, exibia armas para intimidar as vítimas de abuso e as testemunhas, segundo os procuradores.

"As vítimas não acreditavam que pudessem dizer não a Combs sem porem em risco a sua segurança ou enfrentar mais abusos", disse Williams numa conferência de imprensa. "Este gabinete está determinado a investigar e a processar qualquer pessoa que se envolva em tráfico sexual, independentemente do seu poder, riqueza ou fama."

A acusação não especifica quantas mulheres terão sido vítimas. Também não há alegações de que o próprio Combs se tenha envolvido directamente em contactos sexuais indesejados com as mulheres, embora seja acusado de as agredir com socos, pontapés, arrastamento e arremesso de objectos.

Um rol de acusações

Combs, de 54 anos, foi detido em Manhattan por agentes federais na segunda-feira à noite, numa altura em que se acumulam os processos judiciais que o acusam de abuso físico e sexual, mas esta não é a primeira vez que tem problemas com a Justiça norte-americana. Em 2001, foi acusado de suborno e de posse de armas num processo penal decorrente de um tiroteio numa discoteca que deixou três pessoas feridas — o rapper viria a ser absolvido.

“Estamos desapontados com a decisão de perseguir o que acreditamos ser uma acusação injusta contra Combs pela Procuradoria dos EUA”, lamentou Marc Agnifilo, advogado de Combs à Reuters. O advogado detalhou que Combs se mudou voluntariamente para Nova Iorque, antecipando as acusações. “Sean ‘Diddy’ Combs é um ícone da música, um empresário que se fez a si próprio, um homem de família carinhoso e um filantropo comprovado que passou os últimos 30 anos a construir um império, a adorar os seus filhos e a trabalhar para elevar a comunidade negra.”

Combs, que também é conhecido como P. Diddy e Puff Daddy, foi uma figura importante do hip-hop nos anos 1990 e 2000. Fundou a editora Bad Boy Records e é-lhe atribuída a responsabilidade de ajudar a transformar em estrelas rappers e cantores de R&B como Mary J. Blige, Faith Evans, Notorious B.I.G. e Usher.

Da violência doméstica às agressões em trabalho

A sua reputação foi posta em causa em Novembro passado, quando a antiga namorada Casandra Ventura, uma cantora de R&B conhecida como Cassie, o acusou de abuso físico em série, escravatura sexual e violação durante a sua relação de uma década. Mas ela viria a concordar com um acordo extrajudicial e o rapper rejeita quaisquer acusações. No entanto, foi divulgado um vídeo em que se vê Sean Combs a agredir Cassie. As imagens, provenientes do sistema de segurança do hotel onde o casal estava hospedado, mostram Diddy a atirar mulher ao chão, a pontapeá-la e depois a arrastá-la.

As pressões legais aumentaram no último ano e Combs enfrenta vários processos civis movidos por mulheres e homens que o acusam de agressão sexual e outras condutas incorrectas. Os seus advogados têm lutado contra esses processos em tribunal. Há seis meses, agentes federais realizaram buscas nas suas casas em Los Angeles e Miami Beach, na Florida.

Na semana passada, em Nova Iorque, a cantora Dawn Richard interpôs uma acção judicial em que acusa Combs de agressão sexual, agressão física, tráfico sexual, discriminação sexual e fraude. Combs nega as acusações.

Ainda neste mês, Puff Daddy foi condenado a pagar cem milhões de dólares (cerca de 90 milhões de euros) num outro processo de agressão sexual contra Derrick Lee Smith, que acusou o produtor de o ter drogado e agredido sexualmente numa festa há quase 30 anos. O advogado de Combs garantiu que o rapper vai pedir a anulação da sentença.

Combs também rejeitou as reivindicações num processo de tráfico sexual de Fevereiro interposto por Rodney “Lil Rod” Jones, que Combs empregou como produtor no seu lançamento de 2023 The Love Album: Off the Grid.

Notícia actualizada com detalhes sobre as acusações contra Combs (21h32) e deliberação da juíza (22h20)