PJ alerta população para a perigosidade dos presos em fuga e pede cautelas

Cerca de 24 horas depois da fuga de cinco reclusos, as autoridades não avançaram novas informações e medem expectativas. A PJ explicou como proceder em caso de avistamento de algum dos foragidos.

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Os cinco reclusos que fugiram da prisão de Vale de Judeus continuam desaparecidos Facebook do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional
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Vinte e quatro horas depois da fuga de cinco reclusos, pouco se sabe sobre o assunto. Os foragidos são perigosos, um (argentino) na lista dos mais procurados do FBI, e são capazes de matar para continuar em liberdade. A operação de captura é complexa e as forças policiais estão em cooperação, mas avisam que é necessário baixar as expectativas de uma resolução rápida.

Este domingo, pelas 11h, elementos do Sistema de Segurança Interna (SSI) falaram em conferência de imprensa na sede da instituição, em Lisboa, para abordar a fuga, no sábado, da prisão de Vale de Judeus, em Alcoentre. Na conferência estiveram presentes responsáveis da Guarda Nacional Republicana (GNR), da Polícia de Segurança Pública (PSP), Polícia Judiciária (PJ), Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) e do SSI.

Não foram avançadas novas informações sobre o paradeiro ou a forma como fugiram e foram medidas expectativas em relação à captura rápida dos foragidos. "Que haja a presença de espírito para reconhecer que a investigação não é simples e a ideia de que pode haver resultados imediatos é falaciosa", pediu Manuel Vieira, secretário-geral adjunto do SSI.

Luís Neves, director nacional da PJ, fez questão de sublinhar o perigo que os foragidos representam. "Estamos a falar de gente muito violenta", disse, acrescentando que os reclusos "tudo farão para continuar em liberdade", nomeadamente pôr em causa a vida de outros. "O factor vida humana está em causa", alertou mesmo, repetindo o "grau de complexidade e violência" dos homens.

Por isso, fez um apelo directo: "Peço à população que se abstenha completamente de ter qualquer contacto com estas pessoas. Qualquer informação que tenham, usem os canais normais. Ou seja, o 112", explicou. Contudo, "se o cidadão sentir que tem um grau de proximidade relativo com alguma força policial, deve (em caso de posse de informação útil) usá-la", acrescentou, reforçando a cooperação entre os órgãos.

Seguiu-se uma apresentação mais detalhada do perfil de cada um dos reclusos. O director da PJ alertou para Rodolfo Lohrmann. O argentino, preso em 2016, "é um perito em disfarce. Quando foi apanhado, tinha documentos falsificados com uma aparência muito autêntica". Lohrmann esteve preso em Monsanto e, depois de uma tentativa frustrada de fuga, foi transferido para a prisão de Vale de Judeus.

Por outro lado, “um dos suspeitos, o georgiano, é aquele a quem não é reconhecido um grau elevado de violência", salvaguardou, referindo-se a Shergili Farjiani.

Foram ainda confirmadas as suspeitas de que se tratou de uma fuga pormenorizadamente pensada. "Foi uma organização muito complexa, com grande capacidade financeira", corroborou Luís Neves.

Também Rui Abrunhosa Gonçalves, director-geral da DGRSP, usou da palavra para dizer: "Neste momento, o que está em curso é uma investigação, no nosso serviço de auditoria e inspecção, das circunstâncias que levaram a este desfecho, para perceber o que falhou nestas circunstâncias. Temos de apurar o que correu mal nesse aspecto."

Questionado sobre um eventual afastamento das suas funções, foi peremptório: "Não acho que devamos atirar a toalha ao chão e se vir que a confiança em mim depositada caiu, não têm que me dizer para sair, eu sairei. Não sinto isso para já e sair na primeira contrariedade não é a minha forma de estar na vida."

Manuel Vieira assumiu que nunca foi equacionado o encerramento total das fronteiras e a inspecção veículo a veículo. "Não é proporcional nem adequado. Isso exige determinadas medidas e comunicações. Já tomámos medidas adequadas para garantir um controlo com maior intensidade em zonas em que se estima que os evadidos possam estar", justificou, sem especificar essas zonas.

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Marcelo pede para não se criar alarme sobre fugitivos

Em conferência de imprensa, o director da Polícia Judiciária sublinhou que as autoridades estão a levar a cabo uma "investigação muito complexa" que exige "reserva", inclusivamente por parte da comunicação social, "para se poder alcançar os objectivos" — que são apurar como aconteceu a fuga e deter novamente os reclusos evadidos. Mais tarde, Marcelo Rebelo de Sousa pediu que não se crie alarme sobre o caso da fuga de cinco reclusos da prisão de Vale de Judeus e que se dê tempo às autoridades competentes para investigarem.

"Respeitando naturalmente a liberdade de comunicação e o papel dos órgãos de comunicação social, estou de acordo com o pedido de não se criar alarme nem alarido na opinião pública, para não dificultar as investigações", declarou o Presidente da República aos jornalistas, durante a Festa do Livro nos jardins do Palácio de Belém, em Lisboa.

Interrogado se este caso constitui um problema de segurança nacional, o chefe de Estado respondeu: "Eu acho que neste momento o sensato é não dizer nada. Quer dizer, é ter mais informação, é ter a informação mais completa possível". "E então da parte do Presidente da República, viram como eu, na tragédia do Douro, estive silencioso até o mais tarde possível, precisamente para ter a certeza de que tinham os dados todos, uma vez que os dados parciais não jogavam uns com os outros", acrescentou, referindo-se à queda de um helicóptero de combate a incêndios florestais, em 30 de Agosto, em que morreram cinco militares da GNR.

Sobre o caso da fuga de cinco reclusos do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre, no distrito de Lisboa, no sábado, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que é preciso "dar tempo, algum tempo" às autoridades competentes para investigarem. "É preferível apurar serena e cabalmente o que se passou e depois informar, a ter informações avulsas, dispersas, que por um lado criam confusão, por outro lado esclarecem pouco, e não sei se não podem até facilitar aqueles que fugiram", argumentou.

O chefe de Estado disse saber que "há uma preocupação da aceleração do tempo da parte da opinião pública e da comunicação social", mas contrapôs que "para quem investiga o tempo tem um valor fundamental para permitir a investigação". "Às vezes, bem-intencionadamente, o facto de se especular se está aqui, está acolá, está a fazer isto, se há informações ou não, isso acaba por prejudicar as investigações e facilitar quem se encontra em fuga", advertiu.

Questionado sobre o silêncio da ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, sobre este caso, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que, "antes mesmo de haver uma intervenção do Governo, nomeadamente da senhora ministra da Justiça", é preciso "as autoridades competentes apurarem o que se passou".

O Presidente da República espera que, "quando houver possibilidades", os portugueses sejam informados, "com alguma periodicidade", da actuação conjunta das autoridades envolvidas neste caso "para dar a segurança de que realmente estão a actuar como estão ao serviço Portugal" e que, "em tempo oportuno", seja explicado "como é que foi possível acontecer" esta fuga.

"Mas isso aí é o que eu penso que só ganha em ser apurado cabalmente, quer dizer, isso pode demorar algum tempo, quer dizer, saber exactamente como se passou. Até isso, que parece muito simples, para evitar que haja respostas imediatas e depois contraditórias. Vejam o que aconteceu na tragédia do Douro", advogou.

Artigo actualizado às 19h36 de 8 de Setembro para acrescentar as declarações aos jornalistas do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.