Câmara de Lisboa vai apoiar jornalistas: “Não há qualquer interferência política”, diz Moedas

Programa do município de Lisboa vai atribuir 10 mil euros a conteúdos propostos por jornalistas e para projectos para plataformas digitais. Candidaturas estão abertas até 31 de Outubro.

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Carlos Moedas apresentou o programa de apoio aos media nesta quarta-feira Rui Gaudêncio/Arquivo
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A Câmara Municipal de Lisboa acaba de lançar um programa para apoiar conteúdos propostos por jornalistas e projectos para plataformas digitais, anunciou a autarquia, nesta quarta-feira, numa cerimónia no edifício dos Paços do Concelho. Ao todo, serão distribuídos 200 mil euros por dez projectos jornalísticos e dez para plataformas digitais, tendo cada um dez mil euros. Os conteúdos têm de estar relacionados com cultura e com Lisboa. Carlos Moedas, presidente do município, disse que se optou por este modelo de apoio aos media porque “não interfere politicamente” nos trabalhos. “Os jornalistas vão poder desenvolver investigações”, afirmou.

O programa foi apresentado por Gonçalo Reis, administrador não executivo da Lisboa Cultura, a empresa municipal da cultura de Lisboa, onde se insere o programa Lisboa, Cultura e Media. O ex-presidente da RTP referiu que este será um programa anual “para apoiar conteúdos na área do jornalismo e na área do digital”.

Na área do jornalismo, quem concorrer terá de ter carteira profissional, mas não tem de estar necessariamente vinculado a um órgão de comunicação social. Já na categoria digital, qualquer pessoa pode concorrer e pode fazê-lo para conteúdos ligados a plataformas, podcasts ou redes sociais. “Os prémios vão ser atribuídos directamente aos jornalistas e aos produtores de conteúdos”, informou Gonçalo Reis, assinalando que é necessário que este programa seja “recorrente” para que tenha algum impacto. Como tal, disse que no primeiro semestre de 2025 será lançada uma segunda edição.

As candidaturas estão abertas até 31 de Outubro, às 11h59. Antes, a 15 de Outubro, haverá uma sessão de esclarecimento de dúvidas. O anúncio dos vencedores está marcado para Janeiro de 2025 e os projectos terão de estar terminados até 31 de Março de 2026. As propostas serão avaliadas por um júri composto por Miguel Esteves Cardoso, Paula Moura Pinheiro, Pedro Boucherie Mendes e Rosália Amorim. O regulamento pode ser consultado no site da Lisboa Cultura.

“Não queremos ter conhecimento dos prémios. Só queremos ter conhecimento quando forem publicados”, afirmou Gonçalo Reis, referindo que o “peso” do valor do programa “consome menos de 1% do orçamento do Lisboa Cultura” e que nenhum equipamento da empresa ficará “prejudicado”. E fez ainda questão de notar: “Não queremos subsidiar. Não queremos escolher meios de comunicação social. Não queremos intervir em conteúdos editoriais. Não queremos promover reportagens simpáticas e fofinhas.”

Na sua intervenção, Carlos Moedas (PSD) disse que a intenção de criar este programa de apoio aos media veio da altura em que publicou, em Janeiro deste ano, o artigo de opinião “Liberdade de imprensa, sempre!” no PÚBLICO. “Não é só salvaguardar o jornalismo, mas é salvaguardar a democracia”, afirmou. Entretanto, o autarca tinha dito em Julho que o programa iria avançar. Agora, com a sua apresentação, oficializou-se essa intenção.

Carlos Moedas disse até que todo este assunto tem um lado pessoal, pois o seu pai foi jornalista. “Cresci dentro do jornalismo. As minhas primeiras memórias são a ver o meu pai a escrever no seu bloco de notas”, contou. “Muitas vezes, perguntam-me o que senti no 25 de Abril. Senti que o meu pai pôde voltar a ser o José Moedas”, disse, sublinhando que o “verdadeiro jornalismo só pode existir em democracia” e que pretende que o programa seja anual.

Aos jornalistas, no final da cerimónia, o presidente da Câmara de Lisboa garantiu que “não há qualquer interferência política” neste programa. “Os jornalistas vão poder desenvolver investigações em temas” ligados à cultura e à cidade, considerou.

Questionado sobre a razão para ser este o tipo de financiamento aos media e não outro, o autarca reforçou que se optou “por este meio de apoio porque não interfere politicamente”. “Tem havido no país muitas experiências de apoio, mas todas elas, ou uma grande parte delas, tiveram um lado de interferência política, mesmo que fosse indirecta”, afirmou. “O presidente da câmara não tem qualquer interferência e a Lisboa Cultura também não tem qualquer interferência. A decisão é feita pelo júri.” Carlos Moedas acrescentou que esta é uma forma de apoiar o jornalista e não o órgão de comunicação social. “Não conheço um jornalista que não queira aprofundar um assunto. Ele não tem é tempo nem recursos”, frisou.

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