Quatro militares da GNR mortos e um desaparecido após queda de helicóptero. Decretado dia de luto nacional

Helicóptero de combate aos incêndios despenhou-se no Douro, em Lamego, ao tentar amarar. Piloto foi resgatado com vida. Buscas subaquáticas suspensas com um militar ainda desaparecido.

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O helicóptero de combate ao incêndio estava a combater o fogo em Baião quando se despenhou Nelson Garrido
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Quatro militares da Guarda Nacional Republicana (GNR) morreram e um foi dado como desaparecido na sequência da queda de um helicóptero de combate a incêndios no rio Douro, entre Lamego (distrito de Viseu) e Peso da Régua (Vila Real). O primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou que foi decretado dia de luto nacional para este sábado.

O helicóptero terá sofrido uma falha no regresso de uma operação de combate às chamas na localidade de Gestaçô, concelho de Baião, o que obrigou o piloto, que foi resgatado com vida, a tentar uma amaragem no rio Douro, próximo da localidade de Samodães. O alerta para o acidente foi dado às 12h36 e dezenas de meios foram rapidamente mobilizados para o local. Os militares da GNR a bordo da aeronave pertenciam à Unidade de Emergência de Protecção e Socorro (UEPS) do Centro de Meios Aéreos de Armamar (no distrito de Viseu) e tinham entre 29 e 45 anos.

Rui Lampreia, comandante da Zona Marítima do Norte e Capitão do Porto do Douro e de Leixões, explicou que foram encontrados dois corpos "no interior da aeronave, que se pariu em duas partes", e que outros dois "foram encontrados junto à cauda" do aparelho. As autoridades não avançam com possíveis causas para este acidente.

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No último ponto de situação feito pelas autoridades no local, pelas 20h45, Rui Lampreia informou que as operações de busca subaquáticas já tinham sido interrompidas, devido à falta de visibilidade. Durante a noite vão prosseguir operações de busca nas margens do rio e a área vai manter-se vigiada, até ao retomar das buscas na água, que deverá acontecer pelas 6h.

O comandante adiantou que serão mantidas "buscas nas margens, buscas apeadas e também alguma vigilância nocturna na área” e, “alguma vigilância nocturna nas margens, no sentido de tentar localizar o militar que se encontra desaparecido e que, por alguma razão, tenha conseguido chegar à margem”.

“A visibilidade da água não é boa e deve manter-se igual” no sábado, mas “existem técnicas de mergulho para realizar as buscas subaquáticas que permitem ultrapassar essas limitações”, adiantou ainda Rui Lampreia.

"Não vamos descansar enquanto não encontrarmos o camarada que está desaparecido", garantiu o comandante da Zona Marítima do Norte, em declarações aos jornalistas no local.

Sobre a identidade das vítimas, a porta-voz da GNR, tenente-coronel Mafalda Almeida, adiantou que os cinco militares a bordo do helicóptero eram homens com idades entre os 29 e os 45 anos. O militar que continua desaparecido é o mais novo, com 29 anos.

"A família da Guarda está de luto. Temos esperanças que o militar possa ser encontrado e que possamos dar algum conforto à família", afirmou Mafalda Almeida. "O que nos preocupa neste momento é o bem-estar dos nossos militares e das famílias que estão de luto (...) É por isso que vamos continuar as buscas incessantemente."

Dia de luto em homenagem à "dedicação" dos militares

Ao início da tarde, poucas horas depois do acidente, Luís Montenegro deslocou-se para Lamego. Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que já estava a caminho do Norte do país para se reunir com viticultores em São João da Pesqueira (Viseu), cancelou a sua agenda para a tarde desta sexta-feira e esteve presente no local onde decorriam as buscas. No entanto, sem prestar declarações aos jornalistas.

O primeiro-ministro, que chegou a acompanhar as operações a bordo de uma lancha, junto ao local onde terá caído o helicóptero, afirmou que o Governo propôs ao Presidente da República que fosse decretado um dia de luto nacional em homenagem às vítimas do acidente.

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Lusa

"O senhor Presidente da República anuiu que fosse decretado o dia de luto nacional para amanhã em homenagem à dedicação, ao brio, à entrega destes homens", referiu Montenegro. "Hoje é um dia muito, muito triste para Portugal. É com um profundo pesar, consternação e muita solidariedade que apresentamos às famílias dos quatro militares que padeceram neste trágico acidente uma referência de todo o apoio que é possível numa ocasião como esta", acrescentou.

Questionado sobre o porquê de ter entrado numa lancha, Montenegro explicou: "Quis estar pessoalmente com os mergulhadores que estavam a desempenhar uma missão muito perigosa e a colocar a vida em perigo."

"Creio que a presença do primeiro-ministro não foi motivo de nenhuma perturbação nas operações de busca. Fazer disso crítica é um desrespeito pelas instituições. Já não digo por mim, porque eu sou muito pouco importante, mas as instituições que represento como primeiro-ministro. O povo português que represento, estas mulheres e estes homens da Guarda Nacional Republicana, dos bombeiros, da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, das Forças Armadas, da Marinha, do Exército, da Força Aérea, merecem que os responsáveis pelas tutelas de todas estas áreas possam estar ao seu lado", referiu o chefe do Governo.

Luís Montenegro deixou ainda várias palavras de reconhecimento à forma como todas as autoridades envolvidas nas operações de resgate e de busca "prontamente responderam à solicitação e ao alerta que foi emitido".

"Foi no exercício da missão de salvamento daquilo que é o interesse público, o interesse das pessoas, do nosso património, que acabaram por ser vítimas deste acidente", referiu ainda.

Partidos e Parlamento Europeu expressam pesar

Também os dirigentes de vários partidos políticos lamentaram a perda de vidas humanas no acidente em Lamego. Pedro Nuno Santos, o secretário-geral socialista, enviou "sentidas condolências à GNR e às famílias dos militares". "Que a sua dedicação e entrega sejam sempre lembradas e honradas", escreveu na rede social X.

Em comunicado, o CDS-PP também endereçou condolências à GNR e aos familiares das vítimas do acidente, bem como uma "mensagem de solidariedade" à Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil. O partido anunciou ainda o adiamento das actividades de reentré política agendadas para este sábado, dia em que se assinalará um luto nacional pelos militares da GNR falecidos em Lamego.

Mariana Mortágua, líder do Bloco de Esquerda, lamentou a "terrível notícia da morte de militares da GNR", endereçando condolências às famílias das vítimas através da rede social X.

"Gostava de deixar às famílias, em nome pessoal e em nome do Chega, um voto profundo de sentimento de pêsames a todos, esperando que encontrem a paz", declarou André Ventura, presidente do Chega, numa conferência de imprensa na sede do partido, em Lisboa.

"Sinceras condolências à família, amigos e à GNR", escreveu na mesma rede Inês Sousa Real, deputada e porta-voz do PAN, sublinhando o papel dos militares da GNR na "defesa de todos nós e do património natural".

Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, declarou que "a Europa ficará para sempre grata" pelo "altruísmo" dos militares da GNR que morreram esta sexta-feira.

Drones, barcos e mergulhadores

Durante a tarde, três equipas de mergulho (de Mesão Frio, Resende e Lamego), uma equipa de drones, várias embarcações e equipas da Unidade de Emergência de Protecção e Socorro da GNR, nas margens, estiveram a participar nas operações de socorro.

"As buscas estão a decorrer no perímetro da queda e ao longo de toda a extensão da margem de forma evolutiva e por baixo de água, onde há mais dificuldade em fazer a progressão. Neste momento estamos a fazer buscas circulares e depois vamos alargando. Estão reunidas as condições para que o sucesso das buscas aconteça a qualquer momento", garantiu Rui Lampreia, comandante da Zona Marítima do Norte e Capitão do Porto do Douro e de Leixões. "Estão reunidas todas as capacidades que o país tem à sua disponibilidade para dar resposta a uma situação deste tipo. Não descansamos enquanto não os encontramos".

O comandante explicou ainda que o piloto foi resgatado por uma embarcação e que, entre outros ferimentos, tem uma fractura nas pernas, tendo sido transportado para o Hospital de Vila Real. Não foram adiantados mais detalhes sobre a forma como o piloto foi encontrado.

Acidente aconteceu pelas 12h30

Em comunicado, a GNR detalhou que soube às 12h50 da queda de um helicóptero de combate a incêndios no rio Douro,​ na localidade de Samodães.​ "Desconhece-se para já, as causas do acidente", disse fonte oficial da força de segurança. O piloto estava a minutos de aterrar o helicóptero em Armamar quando tentou a amaragem.

Durante o ponto de situação feito pelas 16h, Adriano Resende, comandante da GNR de Viseu, avançou já foi activado o apoio psicológico da Polícia Marítima e do INEM. "A equipa estava a regressar à base e, por qualquer circunstância que ainda vai ser apurada, deu-se este acidente. Vamos fazer de tudo para localizar os nossos militares e trazê-los para terra".

Dois investigadores do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários já estiveram no local onde o helicóptero se despenhou, apurou o PÚBLICO. Uma das primeiras preocupações dos investigadores será ouvir o testemunho do piloto — um homem na casa dos quarenta anos, com "muita experiência e muitas horas de voo" — para tentar perceber o que aconteceu e reconstituir o acidente ouvindo pessoas que tenham assistido à trajectória do helicóptero. O gabinete deverá, primeiro, produzir um relatório preliminar e só depois um relatório final.

O helicóptero acidentado, do modelo AS350 – Écureuil, era operado pela empresa HTA Helicópteros, fundada em 1996 e sediada em Loulé, no Algarve. O piloto, sabe ainda o PÚBLICO, trabalhou noutra empresa que opera helicóptero de combate a fogos antes de ingressar na HTA.

Em 2020, a HTA Helicópteros tinha uma frota de dez helicópteros e actuava em Portugal e Espanha em diversas áreas: transporte de doentes, apoio ao combate a incêndios, formação de pilotos, transporte turístico ou filmagens aéreas para cinema e televisão.


Com Gina Pereira e Carolina Amado

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