Metrobus do Mondego: processo em tribunal arrasta inauguração para meados de 2025
Empresa impugnou concurso para instalação de barreiras de segurança e data de arranque da operação é uma incógnita. Mesmo com decisão rápida e favorável na justiça, obra vai levar mais seis meses.
No início de 2025, o Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM) arrisca-se a ter motoristas contratados, parque de materiais e oficinas pronto, os 40 autocarros articulados previstos e, mesmo assim, não começar a transportar passageiros entre Serpins, na Lousã, e o Largo da Portagem, em Coimbra. Tanto o troço suburbano (entre Serpins e o Alto de São João, à entrada de Coimbra), como o curto canal urbano que vai até ao Largo da Portagem deverão estar praticamente concluídos nos primeiros meses do próximo ano, mas um processo em tribunal faz com que a data de arranque operação seja ainda uma incógnita.
“Ainda não é possível indicar a data de início da operação comercial do sistema com passageiros dada a existência de um contencioso no Tribunal Administrativo e Fiscal”, anunciou a Metro Mondego, nesta quinta-feira, num comunicado enviado às redacções.
Uma das empresas que perderam o concurso para fornecimento e instalação de guardas de segurança no canal entre Serpins e o Alto de São João impugnou o processo, explica fonte oficial da Metro Mondego ao PÚBLICO, o que faz com que não possam ser instalados os 30,7 quilómetros de barreiras de protecção previstas no concurso público.
“Estes dispositivos de segurança são uma peça fundamental para a operação regular do Sistema de Mobilidade do Mondego”, sublinha a empresa, “sem os quais o sistema não poderá ser certificado”.
A Infra-Estruturas de Portugal (IP), que é a dona da obra, terá assim de aguardar por uma decisão do tribunal que lhe seja favorável para avançar com a empreitada, cujo preço base era de seis milhões de euros e tinha um prazo de execução de 180 dias.
Mesmo com uma decisão favorável logo em Setembro e com um célere visto do Tribunal de Contas, os seis meses de execução da obra atiram um eventual início de operação de passageiros para final de Março, início de Abril, na melhor das hipóteses. Perante esta incerteza, a empresa diz estar a trabalhar com a IP para “colocar o SMM ao serviço dos cidadãos tão brevemente quanto possível”. Não se sabe é quando.
Novo sistema, velhos atrasos
Mesmo sem passageiros, a Metro Mondego poderá começar com uma “operação experimental” em Janeiro de 2025. A empresa já iniciou alguns testes no canal, mas uma nova fase com percursos completos deverá começar no início do próximo ano. Também o parque de material e oficinas, que ocupará uma área de dois hectares em Sobral de Ceira e está actualmente em construção, deverá estar pronto nessa altura.
Em paralelo, está em curso um trabalho de recrutamento de motoristas e reguladores de tráfego para operar o sistema. Para já, fonte oficial da Sociedade Metro Mondego refere que a empresa não está a enfrentar dificuldades narradas por outros operadores (como a Unir, no Porto, ou a Carris Metropolitana, em Lisboa) para contratar motoristas.
A Metro Mondego informa ainda que estão a decorrer “diversos procedimentos de contratação pública indispensáveis à operação”, como “fornecimento de energia, manutenção e conservação das infra-estruturas e limpeza dos veículos”.
Em curso estão também os trabalhos para instalar o canal de metrobus entre o Largo da Portagem e a estação de Coimbra B (que levará à extinção da ligação ferroviária com a estação ribeirinha) e as obras que atravessam o núcleo da cidade, para rasgar a Linha do Hospital. Em Fevereiro de 2024, a Metro Mondego tinha já admitido dificuldades em ter a ligação ao Hospital da Universidade de Coimbra pronta em 2025.
Os deslizes de calendário não são propriamente uma novidade num sistema que foi apresentado em 2017 com um cronograma de quatro anos. Ainda antes disso, foram levantados os carris do Ramal da Lousã, em 2010, com o pretexto de substituição por um metropolitano ligeiro de superfície que nunca chegou. A obra de instalação chegou a arrancar, mas foi interrompida com a crise económica.
Passaram-se anos até que fosse anunciada a “solução metrobus” (autocarros com baterias, a circular em via dedicada) para substituir o projecto anterior. Desde então, têm sido apontadas várias datas para a entrada em funcionamento do sistema de mobilidade. Em 2017, previa-se que estivesse pronto em 2021.
Em Janeiro de 2024, numa espécie de viagem pré-inaugural do SMM com o então primeiro-ministro demissionário António Costa a bordo, os responsáveis pelas obras apontavam o “final do ano” como horizonte para que os autocarros começassem a circular no troço suburbano. Agora, com nova derrapagem, a previsão é 2025, também sem mês marcado.