Zelensky diz ter plano para “forçar a Rússia a acabar a guerra”
Presidente ucraniano quer apresentar as suas ideias a Biden e aos dois candidatos à Casa Branca, mas continua a afastar diálogo com Putin. Em Kursk, a Ucrânia controla cem localidades russas.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, diz ter um plano para acabar com a guerra no seu país numa posição favorável para o cumprimento dos objectivos de Kiev e quer apresentá-lo ao Presidente dos EUA, Joe Biden, bem como aos dois candidatos à Casa Branca.
Foi durante uma conferência de imprensa nesta terça-feira que Zelensky voltou a abordar a forma como antevê um possível desfecho do conflito que dura há mais de dois anos e meio. Admitindo que a guerra apenas poderá terminar com um diálogo entre a Rússia e a Ucrânia, o Presidente ucraniano ressalvou que pretende que o seu lado esteja na posição mais forte possível para entrar em negociações.
E há um plano para que isso seja alcançado. “O principal ponto deste plano é forçar a Rússia a acabar com a guerra”, afirmou Zelensky, sublinhando que qualquer negociação futura deverá ser “justa” para com a Ucrânia. O chefe de Estado ucraniano não quis revelar muitos pormenores sobre as suas intenções, mas reconheceu que a incursão em território russo, como a que decorre há várias semanas em Kursk, é uma das formas de pressionar Moscovo, mas que deve ser complementada com medidas económicas e diplomáticas.
A Ucrânia controla cerca de cem localidades russas na província de Kursk, numa área de quase 1300 quilómetros quadrados (superior aos avanços territoriais russos na Ucrânia desde o início do ano), de acordo com o balanço feito nesta terça-feira pelo comandante das Forças Armadas ucranianas, o general Oleksandr Sirskii. Foram capturados 594 militares russos na ofensiva que decorre desde o início de Agosto.
Zelensky prevê viajar até aos EUA para participar na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque, no início de Setembro, para apresentar o seu plano não só a Biden, mas também à vice-presidente e candidata democrata, Kamala Harris, e ao seu adversário republicano, Donald Trump.
Não é certo se o plano referido por Zelensky poderá fazer parte das discussões na próxima conferência de paz, que ainda não está marcada, mas para a qual Kiev já mostrou abertura para que estejam presentes representantes russos. A primeira conferência, organizada na Suíça em Junho, não contou com qualquer delegação da Rússia, o que levou a China a também não estar presente.
Kiev defende que o próximo encontro deverá ser organizado num país do Sul Global, afirmou nesta terça-feira o conselheiro presidencial Andrii Iermak.
A Ucrânia tem rejeitado qualquer solução que implique a perda de território, incluindo a península da Crimeia, anexada há uma década por Moscovo, ou a obrigação à neutralidade geopolítica. O Presidente russo, Vladimir Putin, tem, porém, referido regularmente que eventuais negociações para o fim do conflito devem contemplar as “novas realidades territoriais”, ou seja, reconhecer como legais as anexações de quatro províncias ucranianas ocupadas desde o início da invasão.
A enorme distância que separa as posições dos dois países tem impedido o arranque de qualquer diálogo significativo. “Não pode haver compromissos com Putin, o diálogo hoje é, em princípio, vazio e sem significado porque ele não quer acabar com a guerra diplomaticamente”, afirmou Zelensky.
De Moscovo voltaram a surgir avisos dirigidos aos países ocidentais de que o reforço do apoio militar à Ucrânia irá aumentar o perigo de eclosão de uma guerra mais ampla. O ministro dos Negócios Estrangeiros Serguei Lavrov disse que o Ocidente está a “brincar com o fogo” por considerar autorizar Kiev a usar mísseis avançados fornecidos pelos membros da NATO contra alvos em território russo.
“Estamos agora a confirmar uma vez mais que brincar com o fogo – e eles são como crianças pequenas a brincar com fósforos – é uma coisa muito perigosa para tios e tias crescidos a quem foram entregues armas nucleares em alguns países ocidentais”, afirmou Lavrov, deixando um aviso: “Os americanos associam, erradamente, as conversas sobre uma Terceira Guerra Mundial a algo que, Deus não permita, se vier a acontecer, irá afectar exclusivamente a Europa.”
Kiev tem reforçado os apelos junto dos aliados ocidentais para que seja autorizado o uso de armamento sofisticado estrangeiro, nomeadamente mísseis de longo alcance, para atacar alvos militares em território russo. No entanto, vários países, incluindo os EUA e França, têm rejeitado esta hipótese por temerem uma reacção mais agressiva por parte da Rússia.