Sismo: por que razão não chegou um alerta aos portugueses?

Planos especiais existentes, incluindo de comunicação, só são activados quando o sismo tem uma magnitude superior a 6,1 na escala de Richter. O desta madrugada foi de 5,3.

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Autoridades de protecção civil e o Governo juntaram-se numa informação prestada às 8h Tiago Petinga / LUSA
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Instantes depois de o sismo de magnitude 5,3 na escala de Richter ter abalado parte do país na madrugada desta segunda-feira, 26 de Agosto, acordando milhares de portugueses que sentiram o abanão, muitas pessoas procuraram respostas no telemóvel, nos sites ou junto dos contactos telefónicos das autoridades sobre o que tinha acontecido. E muitos queixaram-se de não terem conseguido aceder, por exemplo, à página do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e de não terem recebido qualquer alerta da Autoridade Nacional de Protecção Civil, ao contrário do que acontece, por exemplo, quando há risco elevado de fogos. O que se passou?

De acordo com o comandante nacional da Protecção Civil, André Fernandes, nada de anormal. Durante a informação prestada à comunicação social, pouco depois das 8h desta segunda-feira, não houve qualquer informação especial a chegar aos portugueses porque não tinha de haver. A magnitude do sismo, que teve o epicentro a 60 quilómetros a oeste de Sines, “não reúne critérios para activação dos planos especiais existentes para este tipo de eventos”, disse.

André Fernandes explicou que esses planos só são activados quando a magnitude do sismo é superior a 6,1 na escala de Richter, altura em que, garantiu, “há accionamento directos dos planos e, aí sim, uma comunicação diferente”.

O comandante nacional afirmou ainda que só às 5h40 é que houve a confirmação, por parte dos diferentes serviços regionais e sub-regionais da protecção civil, de que não existiam danos pessoais ou materiais decorrentes do sismo, pelo que só depois disso é que se considerou haver condições para emitir uma informação concreta. A plataforma escolhida para isso foi o Facebook, onde, pelas 6h, foi colocada uma mensagem a dar conta do sismo, das medidas de autoprotecção que devem ser seguidas e da página do IPMA onde pode ser deixado o testemunho de quem sentiu o sismo. “Temos de olhar para o evento sísmico em si”, afirmou o comandante nacional, afirmando que a resposta necessária foi sempre sendo dada.

Quem procurou informação directamente na página da Protecção Civil não a teve nas primeiras horas, e quem tentou saber o que se passava junto do IPMA também não teve melhor sorte — nos minutos a seguir ao sismo, o site esteve em baixo e há relatos de quem também não tenha conseguido aceder à tal página onde se pode relatar de que forma se sentiu o sismo. Fonte do IPMA diz que este organismo ainda está “a avaliar” o que se passou, mas argumentou que “o excesso de procura” da página deverá ter estado na origem da sua indisponibilidade.

Esse excesso de procura de informação entupiu também as linhas telefónicas dos diversos organismos ligados à Protecção Civil, com particular incidência para os serviços de bombeiros. André Fernandes confirmou ter havido “um pico” de chamadas, mas que quem conseguiu ser atendido recebeu informações e recomendações sobre como actuar.

Já o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também defendeu a forma como a resposta ao que estava a acontecer foi dada, embora reconheça que a informação à população possa ter sido menos atempada do que o desejado.

Aos jornalistas, o Presidente da República disse que “funcionou o que devia ter funcionado”, lembrando que só um sismo com intensidade superior a 6,1 implica a activação de procedimentos especiais. Ainda assim, alertou: “Sei que a Protecção Civil está atenta a pormenores de comunicação e à capacidade de fazer face àquilo que é dar resposta a parte dos portugueses a quererem informação — e já não é a primeira vez que acontece muito, muito imediata. Também disso se retiram lições para o futuro”, afirmou.

Quem acedeu à página da Google assim que sentiu o sismo foi, provavelmente, quem mais rapidamente teve a confirmação de que não sonhara a existência de um abalo. Ainda que a informação inicial tenha sido algo confusa (falou-se numa magnitude de 5,0 e de 5,9 e ao final da manhã a que era apontada era 5,4), a página abria directamente com a informação de que ocorrera um terramoto com epicentro a pouco mais de 80 quilómetros de Lisboa.

Também alguns donos de smartphones com o sistema Android receberam um alerta, enviado pela Google, que está ligada à rede mundial de sismógrafos. Já os donos de iPhone tiveram de aguardar que a informação começasse a ser divulgada pelos órgãos de comunicação social.

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