O Minho à mesa em quatro restaurantes de aldeia

Comida de conforto, espírito de partilha, sentido de comunidade. Destacamos quatro moradas da boa mesa que, embora fora de grandes centros, em aldeias ricas em tipicidade, nunca estão demasiado longe.

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Um dos objectivos da Casa da Viúva é dar a provar a dar a conhecer vinhos. Na carta, tem cerca de 400 referências de todas as regiões portuguesas.. Rui Oliveira/Arquivo Público
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Wine Bar Casa da Viúva

No final de Agosto, fez 11 anos que o Wine Bar Casa da Viúva abriu as suas portas, na aldeia de Quintandona, na rua do mesmo nome, às portas de Penafiel.

Conta-nos Paulo Sousa, o gerente, que os petiscos, mais ligeiros do início rapidamente evoluíram, fazendo a ementa crescer bastante. Actualmente dá para fazer uma refeição, embora, alerta Paulo, não sirvam acompanhamentos de arrozes nem massas. Mas há um primado que desde o início se mantém bem vivo: o da partilha.

“O grosso dos nossos clientes vem em grupo e é disso de que gostamos, porque a nossa ideia é que toda a gente partilhe de todas as iguarias que servimos, sempre com o propósito de fazermos a sua harmonização com vinhos. Felizmente é muito raro vir um cliente isolado, mas quando aparece, alguma coisa se há-de arranjar.”

Como um dos objectivos da casa é dar a provar a dar a conhecer vinhos, a garrafeira tem também de corresponder. E corresponde.

A casa tem cerca de 400 referências de todas as regiões de Portugal, não podendo faltar uma boa representação dos Vinhos Verdes, a região onde este wine bar está inserido, incluindo o único produzido na freguesia, Vinha da Gasalha. De resto há praticamente toda a gama da Aveleda e os conhecidos loureiros, alvarinhos, arintos, numas dezenas de opções de escolha.

O espaço é bastante atraente, quer dentro, quer na esplanada, e os cerca de 90 lugares no interior e os 60 lugares fora acolhem maioritariamente clientes dos concelhos vizinhos, mas também pessoas de mais longe, já que a vizinhança da A4 e da A41 dá uma boa ajuda.

As sinergias com casas de turismo rural permitem-lhe ter entre 10 e 20% de clientes estrangeiros, praticamente dos cinco continentes, mas maioritariamente americanos, belgas e holandeses.

O pessoal da casa divide-se em dois grupos de quatro, um grupo na sala e outro na cozinha, todos os elementos com formação em hotelaria. Da equipa de sala, dois têm cursos de escanção, um factor importante para acrescentar mais valor à mesa.

Entre os petiscos mais requisitados contam-se peixinhos da horta, pimentos de Padrón, folhados de alheira em massa filo com molho sweet chilly, saladas várias, polvo em várias preparações, costeletão de novilho, e, nas sobremesas, o pudim abade de Priscos ou o pão-de-ló molhado.

Um conselho a seguir para evitar surpresas: fazer sempre reserva antecipada.

Wine Bar Casa da Viúva
Rua de Quintandona, Quintandona, Lagares (Penafiel)
Tel.: 912245910
Das 12h30 às 15h30 e das 19h às 23h. Encerra domingo ao jantar e à segunda (Inverno: encerra também à terça)
Preço médio: 35 euros

Uma antiga escola primária deu lugar ao Calçada dos Petiscos, um restaurante bem arranjado e luminoso. DR
A posta de vitela com legumes e batatas fritas é um dos pratos mais pedidos no Calçada dos Petiscos. DR
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Uma antiga escola primária deu lugar ao Calçada dos Petiscos, um restaurante bem arranjado e luminoso. DR

Calçada dos Petiscos

Era uma antiga escola primária quando virou tasquinha, em 2011. Há seis anos, transformou-se novamente, agora num bonito e bem decorado restaurante. Fica na estrada municipal 1262, que liga as duas metades da aldeia, Rosem de Cima e Rosem de Baixo, e entronca na outrora nacional (hoje regional) 210.

O espaço está muito bem aproveitado, bem arranjado, luminoso e apesar de ser um restaurante “perdido” numa aldeia, 60% dos clientes são pessoas do Marco de Canaveses e concelhos limítrofes, mas também gente de mais longe, como Braga ou Porto e turistas estrangeiros.

De Inverno, com menos pessoas a viajar e com poucos turistas, a frequência da casa é feita de pessoas da terra, de empresas da zona e da Escola Profissional de Agricultura que fica bem perto.

Filipe Mota, o “maestro”, é secundado pela sua tia Maria Mota, que oficia na cozinha.

Os pratos mais pedidos são a posta de vitela com legumes e batatas fritas e o anho assado no forno com todos – isto é, batatinhas e arroz, como manda a tradição nortenha.

Mas, é evidente, há outros pratos bem marcantes da cozinha regional, como os bacalhaus de variadíssimas maneiras e os lombos de vaca e vitela assados no forno. A imaginação da cozinheira levou-a dar uma volta à feijoada, cozinhando um misto de feijoada clássica e dobrada à moda do Porto: leva feijão branco, dobrada, mas também várias outras carnes, além de enchidos.

Nas sobremesas o protagonista é uma invenção da casa, um doce feito com banana, natas batidas com uma cobertura de caramelo.

Quanto a vinhos, o da região é sobejamente acarinhado, já que há umas dezenas de referências, a esmagadora maioria de produtores da sub-região de Amarante, com especial preferência para os de Marco de Canavezes. “O cliente estrangeiro gosta muito de experimentar, de conhecer”, afiança Filipe Mota.

Calçada dos Petiscos
Rua Souto do Picão, Rosem (Marco de Canavezes)
Tel.: 255589774
Das 12h às 16h e das 19h às 22h
Encerra ao domingo e nos feriados
Preço médio: 30 euros

A lampreia, na sua época, é um dos pratos fortes da Tasquinha da Portela. Nelson Garrido/Arquivo Público
Na garrafeira da Tasquinha da Portela, descansam mais de 400 referências de vinho, sobretudo alvarinhos de praticamente todos os produtores de Monção e Melgaço. DR
Na Tasquinha da Portela, entre as carnes, todas de criação no Alto Minho, destacam-se os grelhados. DR
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A lampreia, na sua época, é um dos pratos fortes da Tasquinha da Portela. Nelson Garrido/Arquivo Público

Tasquinha da Portela

Uma visita a este restaurante na aldeia de Paderne comporta, em si, um 2 em 1: pode apreciar-se alguns petiscos de primeira água e, antes ou depois, conforme se pretenda abrir o apetite ou ajudar à digestão, visitar uma igreja a poucas dezenas de metros, chamada do Divino Salvador, ou no dizer local, Igreja do Convento, pois há um convento que já foi de freiras e depois de frades e agora parece estar bastante abandonado. O conjunto tem cerca de mil anos e é Monumento Nacional desde 1910.

O restaurante, esse abriu em 2005, como lugar de petiscos, pela mão de Filipe Vieira. Foi evoluindo lentamente até que há quatro, cinco anos, com a colaboração do chef António Alexandre, ocorreu uma mudança importante, reflectida na muito maior utilização de produtos da época e da região.

A clientela tem à disposição três salas, uma com 100 lugares, outra com 72 lugares e uma terceira só para grupos entre 10 e 20 pessoas, que abriga a garrafeira – onde descansam mais de 400 marcas, sobretudo alvarinhos de praticamente todos os produtores de Monção e Melgaço.

Dos principais clientes, metade são espanhóis e um terço são portugueses da região. O resto são turistas, nacionais, mas também ingleses, chineses, alemães, fruto de a casa estar num dos Caminhos de Santiago.

Os bacalhaus em várias confecções são o prato mais pedidos pelos espanhóis. Nas carnes, todas de criação no Alto Minho, destacam-se os grelhados. Também o polvo tem tratamento bem afinado. E a lampreia, obviamente, no tempo dela. Nas sobremesas a mais pedida é o arroz doce com telhas de canela.

Tasquinha da Portela
Rua Padre Albertino Pereira, 282, Paderne (Melgaço)
Tel.: 968825682
Das 10h às 22h
Encerra segunda ao jantar e à terça
Preço médio: 30 euros

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Na Terra do Eido, as doses são pensadas para a partilha à mesa. Mas também há porções adequadas a quem almoça ou janta sozinho. Rui Miguel Fonseca/Global Imagens

Terra do Eido

Na década de 1950 foi mercearia, depois tornou-se café de aldeia, mas acabou por encerrar por volta de 2005. Foi preciso chegar o casal Lúcia Vaz e Jorge Fernandes, ela chefe de sala, ele a oficiar nos tachos e panelas, para ganhar nova vida na função de restaurante.

O Terra do Eido fica a curta distância do Paço de Cardido e do Paço de Calheiros, a meio de uma recta grande da N202, na povoação de Brandara. É imediatamente reconhecível pela parte superior da casa pintada de um bordeaux bem vivo.

É um restaurante que aposta muito na partilha. Gostam de grupos de familiares, de amigos, que possam dividir vários petiscos. E se aparecer um cliente só? “Não tem problema”, assegura Lúcia. “Temos meias doses dos pratos fixos, do bacalhau com broa e da posta de novilho.”

Mas os petiscos são a ideia forte da casa, aliás apenas a ideia inicial, que depois evoluiu.

O que mais sai são os cogumelos recheados, gambas ao alho, pica-pau, mexilhão à espanhola e ameijoas à Bulhão Pato, para além das tábuas de enchidos e queijos. Nas sobremesas, a par do strudel de maçã e da mousse de chocolate com chocolate negro, brilha uma tarte de feijão com sorvete de tangerina.

Os vinhos da Região dos Vinhos Verdes são tratados com especial carinho e o restaurante tem uma disponibilidade de escolha grande, já que trabalha com quase todos os produtores de Melgaço, do vale do Lima e de Amarante. De fora da zona, tem também alguns com boa qualidade de Douro e Alentejo.

No interior do restaurante há 45 lugares disponíveis, a que se acrescentam 50 numa esplanada coberta. Para quem tem miúdos poder desfrutar melhor dos petiscos, há um parque infantil para entretê-los.

Terra do Eido
Rua de Santiago de Brandara (N202), 258, Brandara (Ponte de Lima)
Tel.: 258742055
Das 11h às 00h. Encerra à segunda e à terça
Preço médio: 30 euros


Este artigo foi publicado na edição n.º 13 da revista Singular.
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