Impacto da Inteligência Artificial na Educação – um desafio de todos

As nossas instituições de ensino têm obrigatoriamente de preocupar-se muito mais, e rapidamente, em desenvolver o pensamento crítico do que em transmitir conhecimento.

Ouça este artigo
00:00
04:25

Que indústrias enfrentarão as maiores disrupções até 2030? Há uma quase unanimidade em referir que serão as da saúde e da educação. Estas são indústrias relevantíssimas para a humanidade, mas sabemos que em termos de métodos e processos não mudaram praticamente nada nas últimas décadas. Temos uma tecnologia, a Inteligência Artificial (IA), que vai nestes próximos anos “virar do avesso” estas duas áreas. Estamos perante uma disrupção que vai atingir sobretudo, e em primeiro lugar, aquilo que a humanidade mais tem de diferenciado e de nuclear para a sua sobrevivência.

Atualmente, o sistema de ensino pode já não estar a dar as respostas de que os nossos jovens precisam, tão pouco está a responder a quem já trabalha e necessita de evoluir nas suas competências. As nossas escolas e universidades estão a tornar-se cada vez menos relevantes no processo de ensino, aprendizagem e de avaliação. O futurista Peter Diamandis escreveu no final de 2023: “A indústria dos jogos vai comer o nosso sistema educacional ao pequeno-almoço, pois jogar é divertido, enquanto o nosso processo de ensino não o é, antes pelo contrário”. Dá o exemplo da avaliação e salienta que esta, no ensino, tem por base a penalização, sempre que erras desconta-se na nota, enquanto nos videojogos é o contrário, sempre que acertas sobes de nível.

Qual é a forma mais motivadora? Temos de encontrar um equilíbrio entre novas metodologias, novos processos de avaliação, novas competências, e personalização, “ensino à medida”, com o apoio que a tecnologia, nomeadamente a IA pode dar. Nunca foi tão fácil, ou antes nunca estivemos tão próximos de atingir o nirvana em termos do processo de ensino-aprendizagem como é o caso do ensino individualizado e inclusivo, cada um pode aprender o que quer, quando quer e ao ritmo que desejar. Esta completa personalização do processo de ensino-aprendizagem só é possível utilizando os mecanismos da IA, que permitirão desmaterializar, desmonetizar, descentralizar e democratizar a melhor educação do mundo. É uma oportunidade única de nos aproximarmos do “santo graal” do processo de ensino-aprendizagem.

Um dos perigos da IA generativa é o potencial de massificação. Temos sempre, por isso, de estimular o pensamento crítico na educação e de uma forma transversal na própria sociedade. As nossas instituições de ensino devem, nestas novas gerações, introduzir o gosto pelas perguntas, o gosto pela folha em branco e pela criatividade - isso é algo em que a geração Z tem dificuldades. Temos de estar atentos a isso. Como sabemos os LLM (Large language Models) como o Chat GPT são, no início de qualquer conversa, um ecrã em branco, é preciso colocar o “prompt”, é preciso perguntar para deixarmos de ter um ecrã sem informação. Nas instituições de ensino não podemos evoluir tecnologicamente sem que, ao mesmo tempo, desenvolvamos aquilo que a humanidade tem de melhor, a sua criatividade, capacidade de empatia, pensamento crítico e acima de tudo, a construção de relações de confiança. Pensar que a tecnologia vai resolver tudo é tão criticável como pensar que ela não é uma ferramenta absolutamente necessária.

O pensamento crítico nunca foi tão importante como agora, não só para evitar a massificação como para percebermos que a IA generativa exige um processo conjunto. A IA generativa é um “copiloto” e é assim que a devemos utilizar. As nossas instituições de ensino têm obrigatoriamente de preocupar-se muito mais, e rapidamente, em desenvolver o pensamento crítico do que propriamente em transmitir conhecimento. Este pode hoje ser encontrado em várias fontes e, muitíssimo importante, está hoje descentralizado - quanto a mim é o estágio máximo da liberdade e responsabilização humana.

Podemos ir mais longe e referir que todas as empresas e organizações, independentemente do seu âmbito, num futuro próximo, deverão ser lideradas como se fossem organizações de ensino. Este é, provavelmente, o desafio maior das atuais instituições de ensino, além de toda a revolução por que passarão, também serão o farol e a referência para todas as outras empresas e organizações no futuro.

Como diz Fei-Fei Li (uma das cientistas mais importantes na investigação da relação da humanidade com a IA), “passaremos de uma economia do trabalho para uma economia da dignidade”. A dignidade é uma propriedade dos humanos e não das máquinas. As nossas escolas têm de perceber isto, têm que proteger a dignidade das futuras gerações. Claro que isso se faz com a IA, nomeadamente a generativa, mas, como vimos, esta é um copiloto que exige de nós pensamento crítico.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Sugerir correcção
Ler 13 comentários