Forças russas aproximam-se de Pokrovsk, ucranianos rebentam ponte em Kursk

Cidade no Donetsk é um importante cruzamento de rotas de abastecimento das forças ucranianas na linha da frente. Forças de Kiev rebentam uma segunda ponte sobre o rio Seim na região russa de Kursk.

Foto
Soldados ucranianos junto à cidade de Pokrovsk, objectivo russo desde há vários meses Stringer / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
04:16

É a maior preocupação do momento da Ucrânia na sua frente leste, o avanço rápido das forças russas em direcção à estratégica cidade de Pokrovsk. Este domingo, Moscovo anunciou que tinha ocupado Svyrydonivka, uma aldeia de 35 habitantes que em si tem pouco valor, mas mostra que os soldados da Rússia já estão a poucos quilómetros desse centro administrativo no ocidente de Donetsk, importante nas rotas de abastecimento ucranianas na sua frente leste.

Na sexta-feira, as autoridades ucranianas mandaram as pessoas acelerar o processo de retirada da cidade de 65 mil habitantes que tem sido o objectivo militar da tropa russa há meses. As forças russas “estão a avançar a um ritmo acelerado”, alertaram os responsáveis políticos locais numa mensagem no Telegram citada pelo Guardian. “A cada dia que passa, há cada vez menos tempo para recolher os bens pessoais e partir para regiões mais seguras.”

“Como resultado das operações activas, unidades do grupo central das Forças Armadas libertaram a aldeia de Sviridonovka [nome em russo da localidade], na República Popular de Donetsk”, disse o Ministério da Defesa da Rússia num comunicado publicado no Telegram, citado pela Europa Press. A aldeia fica junto ao lago Kazeni Torets, a 15 km de Pokrovsk, e caiu depois de as forças ucranianas terem averbado derrotas em Vozdvizenka, Kalinovo, Ptichye, Novoekonomicheskoe e Dolinovka, acrescentou o comunicado.

Pokrovsk fica num cruzamento de estradas importantes para o abastecimento dos soldados ucranianos que combatem as forças russas na frente leste, bem como das localidades que ficam ao longo dessa linha.

Por seu lado, a Ucrânia anunciou a destruição de uma segunda ponte na região russa de Kursk, onde as suas forças conseguiram ocupar mais de 80 localidades e controlam mais de mil quilómetros quadrados de território, depois da sua incursão surpresa de 6 de Agosto. Segundo Kiev, os danos nesta segunda ponte vão provocar problemas nas rotas de abastecimento russo para a sua linha da frente.

“Menos uma ponte”, escreveu o comandante da Força Aérea ucraniana, Mykola Oleshchuk, no Telegram, mostrando um vídeo aéreo de uma explosão numa ponte perto da cidade russa de Zvannoye. “A aviação da Força Aérea continua a privar o inimigo de capacidades logísticas com ataques aéreos de precisão”, acrescentou na mensagem citada pela AFP.

O alto responsável ucraniano não adiantou pormenores sobre quando tinha acontecido o ataque, mas bloggers militares russos, citados pela AFP, partilharam fotografias da destruição da que parece ser a mesma ponte datadas de sábado. Na sexta-feira, Kiev já tinha anunciado a destruição de uma ponte em Glushkovo, uma cidade vizinha, igualmente sobre o rio Seim.

As forças ucranianas parecem ter conseguido isolar uma parte significativa do distrito de Glushovsky, embora fotografias por satélite mostrem que os russos aparentemente instalaram uma ponte móvel no lugar daquela que os ucranianos destruíram. Segundo a agência de notícias russa Tass, pelo menos 20 mil pessoas foram retiradas do distrito de Glushkov que se irão juntar aos milhares retirados de Kursk e que foram levados para centros de acolhimento.

A imagem sem a ponte Reuters
E a imagem onde aparentemente se vê uma ponte onde estava a outra Reuters
Fotogaleria
A imagem sem a ponte Reuters

O perigo da escalada

Para o Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, aquilo que a Ucrânia está a fazer com a invasão das regiões russas de Kursk e Belgorod é muito perigoso porque está a empurrar Moscovo e Vladimir Putin para o recurso a armas nucleares tácticas.

“A escalada da Ucrânia na região de Kursk é uma tentativa de empurrar a Rússia para acções assimétricas, por exemplo, a utilização de armas nucleares”, disse o chefe de Estado bielorrusso numa entrevista à agência de notícias russa Sputnik. Adiantando que os sistemas de mísseis balísticos Iskander, que a Rússia instalou na Bielorrússia, estão “prontos para disparar mísseis com ogivas nucleares contra a Ucrânia”.

“Se o que está a acontecer em Kursk se mantiver, iniciar-se-á uma escalada que terminará com a destruição da Ucrânia. Nunca ninguém derrotou este império e ninguém derrotará a Rússia”, acrescentou o chefe de Estado bielorrusso.

O Governo ucraniano tem uma visão distinta da incursão das suas forças em território russo, porque não vê a operação militar como uma escalada do conflito, antes, como uma forma de conseguir trunfos suficientes para forçar a Rússia a sentar-se à mesa para encontrar uma forma negociada “justa” de sair desta guerra que se prolonga há dois anos e meio.

“Precisamos de infligir derrotas tácticas significativas à Rússia”, escreveu no Telegram Mykhailo Podolyak, conselheiro do Presidente Volodymyr Zelenski. “Na região de Kursk, vemos claramente como a ferramenta militar é objectivamente utilizada para convencer a Federação Russa a entrar num processo de negociação justo.”

Sugerir correcção
Ler 6 comentários