Ir de férias vs. fazer turismo

Os residentes, esses, queixam-se de que os preços praticados são cada vez mais altos e usam estratégias para não gastar acima das suas possibilidades.

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Nos últimos dias, o PÚBLICO tem estado a publicar uma série de trabalhos que reflectem sobre o estado do turismo em Portugal, partindo do pressuposto de que esse sector de actividade está a mudar (ou vem mudando) a face da economia do país, com benefícios para uns e prejuízos para outros.

Num dos artigos já publicados, Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da Associação de Hotelaria de Portugal, confirmava que “o turismo continua a crescer com toda a pujança” dentro e fora de portas. Isso tem implicações nos países mais afectados, incluindo o nosso que, por enquanto, ainda beneficia de um clima temperado, mediterrânico, pouco afectado pelas alterações climáticas — que já condicionam as decisões de 76% dos viajantes europeus.

Os dados sobre o impacto das mudanças climáticas nas viagens de turismo constam das conclusões do mais recente relatório da European Travel Commission: mais de dois terços dos inquiridos afirmaram que já estão a ajustar os seus hábitos de viagem em função do clima, evitando (17%) destinos com temperaturas extremas, por exemplo.

Noutro artigo já publicado, ficámos a saber que as regiões de Lisboa e do Algarve têm mais turistas por habitante ou mais alojamentos locais por habitação do que Barcelona e Amesterdão, onde as autoridades já estão a impor restrições à actividade turística.

Resultado: embora tenha havido um ligeiro abrandamento do turismo em Junho relativamente a Maio, a verdade é que os proveitos totais do primeiro semestre de 2024 subiram 12,3% em relação ao período homólogo de 2023, com uma grande ajuda das dormidas de não-residentes.

Os residentes, esses, queixam-se de que os preços praticados são cada vez mais altos e usam estratégias para não gastar acima das suas possibilidades: alguns escolhem destinos mais em conta (em 2023, houve menos 10% de turistas portugueses no Algarve e este ano a tendência é a mesma); outros mantêm-se fiéis ao Sul, mas fazem as refeições em casa para poupar dinheiro. Vão de férias, o que é diferente de fazer turismo. Sabemos que é assim porque a produção de lixo na região está mais elevada do que há um ano.

Enquanto Portugal estiver na rota dos turistas internacionais, a economia vai colhendo os frutos desta “estratégia” — e os supermercados agradecem. Só há um problema com esse caminho: é que as modas são, por definição, passageiras. Se Portugal perder o interesse (e dinheiro) dos que vêm de fora, o sector do turismo vai precisar muito mais do que uma nova campanha “Vá para fora cá dentro”. Vai precisar de uma reconciliação.

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