Biden mostra-se optimista em relação a acordo em Gaza, “mas ainda não chegámos lá”

Pausa nas negociações para os dois lados apreciarem nova proposta; mediadores esperam uma resposta na próxima semana. No terreno, Israel diminui ainda mais a “zona humanitária”.

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O Exército israelita emitiu novas ordens de mudança para a população deslocada, diminuindo ainda mais o que chama de “zona humanitária” HAITHAM IMAD / EPA
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O Presidente dos EUA, Joe Biden, disse esta sexta-feira, em relação a um acordo para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, que “estamos mais próximos do que alguma vez estivemos” de o conseguir, “mas ainda não chegámos lá”.

As negociações estão a ser vistas como a chave não só para o que irá acontecer com a guerra em Gaza (onde o número de mortos palestinianos ultrapassou já os 40 mil) e com os reféns israelitas ainda vivos que estão no território, como para uma guerra alargada, já que parece depender desse acordo a retaliação iraniana a um ataque israelita que matou o chefe do Hamas, em Teerão.

“Não quero dar azar, mas pode ser que tenhamos alguma coisa”, declarou Biden, quando as negociações prosseguiam num segundo dia. “Está muito, muito mais próximo do que há três dias. Por isso, é fazer figas.”

A declaração de Biden acontece depois da divulgação, pelos EUA, Qatar e Egipto, de que está em cima da mesa uma nova proposta final que foi apresentada ao Hamas e a Israel, e que os mediadores esperam que possa levar a um acordo até ao final da próxima semana, segundo o diário norte-americano The Washington Post.

Não foram dados pormenores sobre o que prevê esta proposta, apenas que se baseia em “zonas de entendimento” e que supera “os obstáculos que se mantêm, de modo a permitir uma concretização rápida”, ainda segundo a declaração citada pelo Post.

Os próximos dias veriam trabalho das delegações sobre detalhes técnicos, e “responsáveis dos governos encontrar-se-ão de novo no Cairo antes do final da próxima semana para concluir o acordo nos termos que foram avançados hoje”.

O Hamas, que participa indirectamente nas conversações depois do assassínio do seu anterior líder, Ismail Hanyieh, que vivia no Qatar e da sua substituição por Yahya Sinwar, que vive na Faixa de Gaza e está escondido desde o ataque de 7 de Outubro, dissera anteriormente que não estava a receber sinais positivos.

O porta-voz do movimento Sami Abu Zuhri afirmou à Reuters que os EUA estão a tentar criar “uma falsa atmosfera positiva”, acusando a administração de Joe Biden de não querer realmente o fim da guerra e estar apenas a “ganhar tempo”.

De Israel, um comunicado do gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu dizia que o país “reconhece os esforços feitos pelos Estados Unidos e pelos mediadores para dissuadir o Hamas da sua recusa de um acordo que liberte os reféns”, e insistia nas suas condições para assinar.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, está prestes a visitar Israel, onde deverá reunir-se com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, provavelmente na segunda-feira, para discutir a proposta de acordo. Blinken tinha adiado uma viagem prevista quando um potencial ataque iraniano estava a ser dado como iminente.

Se é esperado que o Irão possa fazer depender um ataque das conversações, o Hezbollah continua a afirmar que irá responder a um ataque israelita que matou um dos seus comandantes, Fouad Shukr, no Líbano. Esta sexta-feira, o movimento xiita libanês divulgou um vídeo mostrando o que pareciam ser mísseis em camiões deslocando-se em túneis subterrâneos – ou seja, mais difíceis de detectar e destruir.

A Al-Jazeera diz que se trata sobretudo de uma mensagem de dissuasão. Desde 7 de Outubro, Israel tem levado a cabo ataques contra o Hezbollah, num conflito que apesar de ser visto como sendo de baixa intensidade levou à retirada de mais de 90 mil pessoas de localidades israelitas do Norte e quase 100 mil no Sul do Líbano.

Mesmo em relação a um potencial ataque do Irão, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, afirmou que se mantém uma avaliação de que pode acontecer “a qualquer momento”, com “pouco aviso ou sem qualquer aviso”.

Zona humanitária menor

Enquanto isso, na Faixa de Gaza, o Exército israelita emitia novas ordens de mudança para a população deslocada, diminuindo ainda mais o que chama de “zona humanitária” (mas onde, apesar do nome, se registam, por vezes, ataques, como voltou a acontecer esta sexta-feira em Al-Mawasi, segundo a Al-Jazeera).

Entre as zonas afectadas estavam algumas de Deir Al-Balah, no centro, que se vinha a tornar um dos principais destinos de deslocados, já que é uma rara zona de Gaza em que o Exército israelita não fez uma grande incursão terrestre.

Em Julho, a ONU estimava que “nove em cada dez pessoas na Faixa de Gaza tenham sido deslocadas internamente pelo menos uma vez e até dez vezes, infelizmente, desde Outubro”, nas palavras de Andrea De Domenico, responsável por questões humanitárias nos territórios palestinianos ocupados.

O Exército justificou a diminuição da zona “humanitária” com o disparo de rockets a partir dali.

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