Durante um ano, eles deram comida a um cão perdido. Depois levaram-no para casa

Barley fugiu dos primeiros donos em Maio de 2023 e não mostrou vontade de regressar. Durante 14 meses, procurou estar longe de pessoas, até que Deanna e Denny apareceram com pedaços de bacon.

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Barley com os novos donos, Deanna e Danny Suggitt Deanna Suggitt
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O cão não se deixou apanhar durante 14 meses Holly Henderson
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Mas não conseguiu resistir a uma armadilha com bacon e cachorros quentes Deanna Suggitt
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Denny Suggitt com Barley Deanna Suggitt
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No dia em que Deanna e Denny Suggitt ouviram falar de um cão fugitivo chamado Barley, decidiram imediatamente ajudar. “Tocou-me o coração”, afirma a mulher que vive em Sault Ste. Marie, no Michigan, a cerca de 112 quilómetros do local onde Barley desapareceu.

O cão saiu de junto dos donos em Maio do ano passado. O casal de Southfield, Michigan, tinha-o resgatado há seis meses. Estavam a acampar no Parque Estatal de Tahquamenon Falls quando fugiu.

Os tutores procuraram o animal e fizeram uma publicação nas redes sociais a dar conta do seu desaparecimento. A notícia começou a circular pela localidade e muitas pessoas, incluindo os Suggitts, tentaram encontrar Barley.

“Toda a gente queria ajudar”, recorda Deanna Suggitt, acrescentando que o cão era nervoso e não se aproximava de humanos.

Durante vários fins-de-semana seguidos, os donos de Barley fizeram uma viagem de ida e volta de dez horas na esperança de encontrar e levar o cão para casa. Mas depois de muitas tentativas falhadas, pararam os esforços. Os Suggitts, no entanto, não desistiram.

Estavam em contacto com outras pessoas da localidade que tentavam encontrar Barley e, um dia, receberam uma dica promissora. Alguém os alertou para o facto de o animal andar a vaguear por um quintal na região selvagem de Upper Peninsula, a cerca de 128 quilómetros do local de onde fugiu.

O casal montou uma zona para o alimentar. Na altura, não faziam ideia de que iriam continuar a procurar Barley durante mais de um ano.

Duas vezes por dia, sem falta, faziam uma viagem de ida e volta de 40 quilómetros para deixar uma tigela cheia de comida no mesmo local. Serviam fígado cozido, salsichas quentes e ração seca.

Ele vinha como um relógio quando eles chegavam, às 8h30 e às 14h todos os dias. “Tornou-se o pequeno território dele”, adianta Denny Suggitt, salientando que o simpático proprietário do quintal autorizou o casal a construir um espaço para alimentar o fugitivo. A par disto, instalaram várias câmaras de vigilância para poderem monitorizar o cão.

Quando começaram a deixar comida, o animal aparecia depois de eles se afastarem. “Assim que saíamos, ele aparecia, pegava na tigela e ia para a floresta. Não comia à frente das pessoas. Passado algum tempo, estávamos a ficar sem tigelas”, recorda Denny.

“Começámos a alimentá-lo no chão”, acrescenta Deanna, para explicar que deixaram de usar taças. Passava várias horas por semana a preparar as refeições do animal e servia-as ainda quentes. “Achei que ele conseguia cheirar melhor assim.”

Lentamente, Barley começou a sentir-se mais à vontade com os Suggitts, que já estão reformados. De semana para semana aproximava-se mais deles, até que um dia estava a um metro e meio. Pensei: “Se conseguisse fazer isto durante mais alguns meses, talvez ele me deixasse tocar-lhe”, afirma a mulher. O casal manteve os primeiros donos do cão informados.

Aos poucos, Barley deixou de ser tímido ao pé do casal e passou a ansiar pela chegada deles. “Abanava a cauda”, conta Deanna.

Sempre que chegavam atrasados a uma das entregas de refeições, o cão ficava ali a olhar para a estrada como que a perguntar onde é que o casal estava. Segundo Denny, nunca faltaram a uma refeição, mesmo durante as tempestades de Inverno.

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Meses depois de ter fugido dos primeiros donos, Barley deixou que Deanna se aproximasse Deanna Suggitt/Holly Henderson

Mas, apesar de se ter afeiçoado a eles, não se aproximava da armadilha para o capturarem.

“Quando deixávamos a comida na armadilha, ele não entrava”, revela Deanna.

Caçadores profissionais também tentaram apanhar Barley, mas sem sucesso. A área tem animais selvagens, incluindo ursos, coiotes e linces, e fica perto de uma estrada movimentada.

“Não sabíamos se um caçador o ia apanhar, se um carro o ia apanhar, se os outros predadores o iam apanhar. Havia muitas hipóteses”, afirma Denny Suggitt.

Felizmente, o Inverno foi bastante ameno e o bem-estar do Barley tornou-se um trabalho de equipa. Um vizinho fez uma cama de palha na sua propriedade para o cão, outros mantinham-no debaixo de olho e chamavam os Suggitts sempre que o viam.

“Toda a gente conhecia o Barley”, garante Deanna.

No início de Julho, entrou em contacto com Sharon Hansen, uma caçadora de cães reformada do Corpo de Veterinários do Exército dos EUA. Sharon viajou mais de cinco horas para ajudar o casal a apanhar o animal.

“Trabalho em casos especiais, quando os outros caçadores têm dificuldade em capturar ou as pessoas têm dificuldade em apanhar”, revela.

Montou uma armadilha de 3,5 por 2,5 metros perto da zona de alimentação de Barley e ajustou-a diariamente à medida que observava a sua linguagem corporal. Ficou em casa dos Suggitts durante duas semanas enquanto esperava para apanhar o cão.

“Foram necessárias duas semanas para o habituar à armadilha e para o fazer progredir dia após dia”, revela. No dia 25 de Julho, 14 meses depois de ter desaparecido, o cão mordeu o isco.

“Ele não se conseguiu controlar”, conta Denny, acrescentando que encheram a armadilha com comida de cheiro forte, como bacon, hambúrgueres, fígado de galinha e salsichas. “Ficámos muito contentes”, acrescenta a mulher.

Depois de mais de um ano de preocupação com um cão que só tinham visto ao longe, o casal mal podia acreditar que ele estava finalmente a salvo. “Ele é muito resistente”, assegura Deanna.

Embora Sharon Hansen os tenha levado até à meta, a ex-caçadora garante que a dedicação dos Suggitts é a principal razão para Barley ter sobrevivido.

“Gosto de contar a história das pessoas que realmente fizeram o trabalho braçal durante um ano. A Deanna e o Denny dedicaram tempo, comida e custos. Tudo isso faz sentido. Para não mencionar o custo emocional de um cão que eles nunca tinham conhecido antes.”

Sharon também diz estar grata ao dono do quintal por ter permitido que os Suggitts construíssem uma zona de alimentação. “O Barley tinha uma grande equipa”, completa.

Os Suggitts trouxeram-no temporariamente para o Abrigo de Animais do Condado de Chippewa, no Wisconsin, enquanto reorganizavam a casa para o receberem.

O casal tem uma cadela que também foi resgatada chamada Sadie, e queriam garantir que Barley tinha espaço suficiente enquanto se habituava [à nova casa]. “A Deanna construiu esta fortaleza em casa para o manter separado”, afirma Holly Henderson, directora do abrigo. Diz ainda que esteve em contacto com os donos originais de Barley que "querem que o cão fique com Deanna e Denny”.

Depois de mais de um ano a viver na rua, Barley foi examinado. Ele até engordou alguns quilos.

“O que é hilariante é que ele é gordinho. A Deanna cuidou realmente dele e muito bem."

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Depois de um banho e avaliação veterinária, Barley foi adoptado pelo casal de reformados Deanna Suggitt
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O cão vive com o casal desde o dia 5 de Agosto Denny Suggitt

O cão, que resulta do cruzamento de várias raças e que terá cerca de dois anos, está na casa dos Suggitts desde 5 de Agosto. Até agora, está a correr bem.

Apesar de ainda ser tímido e arisco, os novos tutores têm esperança de que Barley continue a ganhar mais confiança a cada dia. “Havemos de lá chegar”, acredita Deanna Suggitt.

“Só queremos que ele volte a ser um cão e aprenda a divertir-se”, acrescenta o marido.


Exclusivo PÚBLICO/ The Washington Post

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