Portugal fecha presença em Paris com Maria Martins no 14.º lugar

Depois de duas medalhas e um 14.º lugar, o ciclismo de pista fez, em Paris, muito mais do que se pedia. Será que Sangalhos vai deixar de ter espaço para tantas crianças que lá vão bater à porta?

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Maria Martins em acção em Paris HUGO DELGADO / LUSA
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Depois de Iúri Leitão e Rui Oliveira – o primeiro em dose dupla –, ver Maria Martins competir no ciclismo de pista fez soar os sensores de sonho. “Se somos assim tão bons nisto, ela se calhar ainda lá vai”, terão pensado os mais afastados do contexto do ciclismo. Mas não seria justo, por muito embebedados que estivéssemos pelos sucessos de quinta-feira e sábado.

Numa prova ganha pela norte-americana Jennifer Valente (dominou a prova do início ao fim), o 14.º lugar conquistado neste domingo pela atleta portuguesa, na prova feminina de omnium, está ajustado ao nível actual de “Tata” Martins, à falta de competição de estrada nos últimos meses e, sobretudo, à análise ao valor de quase duas mãos cheias de rivais que teve.

Maria poderia ter chegado mais longe? Poderia – a própria disse depois da prova que queria um pouco mais, igualando pelo menos o sétimo lugar de Tóquio. E assumiu que não sabe bem o que se passou a nível físico, apontando, ainda assim, que as emoções das conquistas de Leitão e Oliveira foram muito difíceis de gerir e lhe enevoaram a "paz interior", mesmo que por um bom motivo. Diz, no fundo, que não se sentiu pressionada a conquistar algo, mas que foi difícil manter-se focada.

Para quem gosta de se guiar por aqui, o nome de Maria Martins rolava, nas casas de apostas, entre o 14º e o 20.º lugares no favoritismo para a prova feminina de omnium olímpico. Estamos a falar de uma prova com 22 atletas. Nesse sentido, ela cumpriu a previsão, apesar de ter ficado a 41 pontos de um diploma - ao contrário de Daria Pikulik e Ally Wollaston, polaca e neo-zelandesa que foram prata e bronze como agradáveis surpresas.

Mas voltemos a Tata. Sim, ela saiu de Tóquio com um diploma patrocinado pelo sétimo lugar, mas fê-lo em condições particulares: na prova de scratch, uma queda mandou ao chão sete ciclistas, entre as quais três das favoritas.

Mas isso são detalhes. O que interessa e que vai ficar para registo é que Tata Martins sai de Paris, aos 25 anos, sem vergonha do resultado alcançado, mesmo que seja inevitável dizer que poderia, com pernas mais frescas, ter feito um pouco melhor.

Depois de duas medalhas e um 14.º lugar, o ciclismo de pista fez, em Paris, muito mais do que se pedia. Será que Sangalhos vai deixar de ter espaço para tantas crianças que lá vão bater à porta? Quem não quererá ser a nova Maria, o novo Iúri ou o novo Rui?

Como aconteceu

Vamos às más notícias: voltou a corrida de omnium, que é muito complexa. Mas também temos boas notícias. A primeira é que há poucas competições olímpicas mais entusiasmantes do que esta. É mexida, dinâmica, provoca ansiedade, tem reviravoltas permanentes, tem quatro vertentes, tem muita estratégia e é feita sempre a alta velocidade. A segunda boa notícia é que quem já viu a prova de Iúri Leitão na quinta-feira já ficou um pouco mais conhecedor.

Mas vamos rever tudo. Durante a manhã, Maria Martins passou por quatro provas de ciclismo de pista, de preceitos e regras diferentes. A primeira, chamada scratch, é fácil de explicar: é como se fosse uma corrida de estrada, mas na pista. O primeiro a cruzar a meta depois de 7,5 quilómetros vence e soma pontos.

A portuguesa começou discreta, com uma corrida feita quase sempre na cauda do grupo e com muitas idas à parte superior da pista, possivelmente a medir o pulso às rivais e ver quem se sentiria melhor.

Abordou as últimas cinco voltas em posição muito recuada e não conseguiu ir ao sprint, acabando em 13.º lugar – não foi excelente, mas minimizou perdas nos últimos metros, até pela queda da inglesa Neah Evans. A campeã olímpica e do mundo, Jennifer Valente, ganhou o scratch.

Tata modesta

Depois, a tempo race, na qual há sprints em todas as voltas e o primeiro ciclista a passar a meta ganha um ponto. Mas atenção: quem der uma volta de avanço ganha 20 pontos e quem levar uma volta de avanço perde 20.

Maria Martins voltou a ter um desempenho modesto, sem capacidade – ou interesse – em ir buscar pontos a sprints. A corrida também não facilitou, dado que teve três fugitivas durante muito tempo, que nem davam volta de avanço nem eram neutralizadas. No caso da americana Valente nem parecia fazer muito sentido a aventura, dado que mesmo que tivesse sucesso só passaria de segunda para primeira – 40 pontos em vez de dois.

Depois, a prova de eliminação. No fundo, a última ciclista a passar a meta, de duas em duas voltas, é eliminada e deve abandonar a pista. Mais do que quem passa em primeiro, importa quem não passa em último – lógica oposta à maioria das corridas. É intenso, mas divertido.

Habitualmente forte nesta corrida – foi assim em Tóquio, nos Mundiais e nos Europeus –, Tata não confirmou essa premissa em Paris.

Eliminada cedo

Na eliminação, até pareceu estar bastante confortável, quase sempre em posições seguras e de pouco risco – cruzou a meta quase sempre ali entre a quinta e a oitava posições.

Mas acabou, na nona eliminação, por se deixar ficar numa posição interior e sem margem para acelerar, caso precisasse. E precisou. Não deu para entender se Tata achava que estava mais segura do que estava ou se apenas ficou presa. Seja como for, saiu.

Quem não saiu foi Jennifer Valente, que voltou a ficar no topo.

Corrida final

Por fim, a prova de pontos, influenciada pelo que for somado até então, e que vai definir as posições finais e as medalhas. É uma corrida mais longa, que distribui pontos às quatro primeiras a cada dez voltas – e tem também a tal regra das voltas de avanço.

Martia Martins começou a prova discreta, como já tinha sido nas anteriores, não se colocando ao vento para ataques ou sequer para liderar perseguições – chegou a abrandar na cabeça do grupo numa fase crucial, baralhando a perseguição à francesa Fortin, que foi buscar 20 pontos.

A primeira movimentação da portuguesa foi a 47 voltas do fim, sem sucesso, e outra a 24, novamente sem sucesso – e nesta última foi bastante claro que Tata não estava nos seus melhores dias, sem capacidade de colocar uma boa cadência na pedalada.

Na frente não havia como bater Jennifer Valente, que dominou o omnium do início ao fim.

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