Musk culpa o Governo britânico pela violência, não as redes sociais
Elon Musk considera que “a guerra civil é inevitável” no Reino Unido e culpa Keir Starmer, o primeiro-ministro. A ministra da Justiça inglesa considera os comentários “irresponsáveis”.
Elon Musk, dono da Tesla e da rede social X, tem sido atacado pelo papel que a sua rede social desempenhou ao fomentar os motins do Reino Unido. No entanto, encontra outro responsável: o Governo britânico.
O bilionário da tecnologia recorreu à rede social da qual é proprietário para partilhar imagens dos motins que têm desestabilizado o Reino Unido na última semana. "A guerra civil é inevitável", escreveu. Praticamente no mesmo momento, fez publicações em que mencionava a conta do primeiro-ministro britânico e criticou-o por se preocupar mais em policiar discursos do que em proteger as comunidades, avança o The Washington Post.
As publicações pareceram uma resposta aos comentários de Keir Starmer, feitos na semana passada numa conferência de imprensa. O político usou a frase "desordem violenta claramente provocada online" e alertou as empresas de redes sociais de que os motins seriam um crime que estava a acontecer "sob a alçada" das redes.
Heidi Alexander, ministra da Justiça, considerou os comentários de Musk "profundamente irresponsáveis". Para além disso, não considera o uso da expressão "guerra civil" aceitável e urgiu, na Times Radio, a que "todos os que têm uma plataforma exerçam o seu poder de forma responsável".
Em causa estão os motins iniciados depois de um ataque com faca que matou três crianças, uma das quais portuguesa, numa aula de dança temática de Taylor Swift, em Southport. O ataque deixou várias outras crianças e adultos feridos, em estado crítico.
Nas redes sociais espalhou-se a narrativa de que o suspeito seria um imigrante muçulmano que teria entrado ilegalmente no Reino Unido. No entanto, o homem já foi identificado como Axel Rudakubana, de 17 anos, e nasceu em Cardiff, no País de Gales, segundo o The Washigton Post. Não se conhece a religião do jovem, mas os pais serão do Ruanda, onde a maioria da população é cristã.
Estas informações, contudo, não foram suficientes para travar o discurso anti-imigração, inflacionado nas redes sociais, e as manifestações alastradas a pelo menos 15 cidades. Já foram atacadas mesquitas e hotéis e albergues onde comummente estão requerentes de asilo. Atiram-se tijolos a casas, fazem-se ameaças em centros de refugiados e atacam-se polícias em nome da protecção dos ingleses face à comunidade muçulmana.
O X tem sido uma das redes sociais onde mais se proliferam discursos de extrema-direita e Elon Musk tem sido criticado por permitir o regresso de figuras controversas à plataforma como, por exemplo, o activista de extrema-direita Tommy Robinson.
O magnata também tem criticado sucessivamente o Governo britânico e Starmer, nomeadamente, ao partilhar a narrativa de que a polícia britânica será exagerada a lidar com manifestantes brancos e benevolente com infractores de lei imigrantes e muçulmanos.
Yvette Cooper, secretária de Estado de Assuntos do Interior, também comentou a situação. Assumiu que as redes sociais tinham funcionado como um "impulsionador" dos motins e, em entrevista à BBC, assumiu que o Governo iria abordar esta questão com as grandes empresas da tecnologia que "precisam de assumir alguma responsabilidade por isto". Ademais, garantiu que a polícia iria estar atenta à "criminalidade online".
Apesar da conversa, as autoridades britânicas estarão sempre dependentes da boa vontade das empresas tecnológicas para seguirem as suas orientações, já que a lei britânica sobre segurança online, que exige que as plataformas tomem medidas contra conteúdos ilegais, só entrará em vigor no início do próximo ano. A legislação equivalente da União Europeia, a Lei dos Serviços Digitais, já está em vigor, mas o Reino Unido já não faz parte da UE