“Discute-se tudo, menos o essencial.” Administradores pedem revisão da rede de urgências

Só em torno da capital existem cinco maternidades: São Francisco Xavier, Maternidade Alfredo da Costa, Santa Maria, Amadora-Sintra e Loures.

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Director executivo do SNS afirmou recentemente que é preciso repensar a rede das urgências de ginecologia/obstetrícia Rui Gaudêncio
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Perante as dificuldades que se vivem nas urgências de ginecologia/obstetrícia, o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) não tem dúvidas de que “a solução é investirmos mais no SNS”. Xavier Barreto lamenta que os partidos políticos estejam a discutir a situação “como se fosse uma batalha campal” em vez de soluções. “Discute-se tudo, menos o essencial”, aponta, defendendo uma revisão da rede de urgências e uma revisão das tarefas atribuídas aos enfermeiros especialistas.

Xavier Barreto diz que são “positivas” as recentes declarações do director executivo do SNS, que afirmou que é preciso repensar a rede das urgências de ginecologia/obstetrícia. No próximo fim-de-semana, volta-se a repetir o cenário de oito urgências fechadas em todo o país, com especial impacto na região de Lisboa e Vale do Tejo. Só em torno da capital existem cinco maternidades: São Francisco Xavier, Maternidade Alfredo da Costa, Santa Maria (cuja urgência de obstetrícia deverá estar a funcionar em pleno depois do Verão), Amadora-Sintra e Loures.

Para o responsável, deveria ter-se assumido uma reformulação da rede de maternidades: “Vamos ter de concentrar actividade durante algum tempo e essa concentração será necessariamente pelo tempo que demorarmos a conseguir voltar a ter os profissionais de saúde de que precisamos.”

“Acho que seria positivo para a rede de maternidades de Lisboa e Vale do Tejo o encerramento de uma dessas maternidades e a concentração dos partos nas restantes, naturalmente com a redistribuição de profissionais”, admite o presidente da APAH, lembrando que essa foi uma discussão que já esteve em cima da mesa há uns anos.

Afirmando que essa decisão deve resultar de “um trabalho de análise muito detalhado feito por um grupo multidisciplinar alargado”, Xavier Barreto admite que a discussão sobre a concentração de urgências seja difícil tendo em conta que o Governo é “apoiado numa minoria” e que haverá “eleições autárquicas no próximo ano”. “Por muito que tentemos explicar que os encerramentos são em prol das populações, os autarcas vêem sempre o encerramento como um retrocesso”, diz.

Lamenta, por outro lado, que os principais partidos políticos estejam a discutir a situação “como se fosse uma batalha campal”, aludindo à recente troca de acusações entre PS e PSD.

“Com a informação que temos de pessoas em formação, das que se vão aposentar, das maternidades que existem no país, podemos fazer uma previsão e, com base nessa previsão e na evidência, podemos apresentar uma solução. Qual é a rede de urgências que queremos ter hoje, daqui a um ano, daqui a seis anos? Acho que esta é uma discussão que tem de ser feita de uma forma franca com todos os partidos políticos. Não percebo porque não se faz”, afirma.

"Não existem médicos disponíveis"

O plano de emergência para a saúde contempla dez medidas para o eixo bebés e mães em segurança. Apenas a criação da Linha SNS Grávida está concluída. Da lista faz parte a medida que prevê a atribuição de incentivos financeiros para aumentar a capacidade de realização de partos – o valor inicialmente avançado foi de 750 euros por cada parto acima da média a atribuir à equipa. A medida está em curso, segundo a informação disponível no Portal do SNS.

Questionado sobre se pode ajudar a resolver a situação actual, Xavier Barreto assume ter “muitas dúvidas”. “A questão salarial já não é a única questão ou a questão determinante. Não existem médicos disponíveis, não formámos obstetras suficientes ao longo dos últimos anos”, diz, apontando duas outras medidas que considera que seriam muito mais eficazes no imediato. “Acho que faria muito mais sentido, e acrescentava mais horas médicas ao sistema, se avançássemos com a ideia de dar tarefas acrescidas aos enfermeiros especialistas.”

“A realocação de tarefas e a discussão das equipas [tipo que devem estar nas escalas das urgências] são discussões que já podíamos ter feito. O plano tem várias medidas que são importantes, muitas delas são pagamentos adicionais, mas estas duas são medidas que podem ser estruturantes e, por isso, deviam ter avançado de forma mais rápida”, defende.

No mapa com a execução do plano de emergência, as medidas de “actualização dos rácios de pessoal e da composição das equipas nos locais de parto em função de critérios técnico-científicos atendíveis” e o “reforço do acompanhamento da grávida por especialistas de enfermagem de saúde materna e obstetrícia” estão ainda por iniciar.

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