Médio Oriente prepara-se para ataques perante “última tentativa” de diplomacia

Israel prevê ataques vindos do Irão e do Líbano. Rara visita do ministro dos Negócios Estrangeiros jordano a Teerão trouxe um pequeno sinal de esperança.

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O ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, Ayman Safadi, foi recebido pelo ministro iraniano em funções, Ali Bagheri Kani, em Teerão Majid Asgaripour / VIA REUTERS
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O ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, Ayman Safadi, fez neste domingo uma rara visita a Teerão no que foi visto como “a última tentativa antes da tempestade”, sendo a tempestade uma resposta iraniana ao assassínio, por Israel, do líder do Hamas na sua capital na semana passada e ainda do Hezbollah à morte de um seu comandante um dia antes, e que era esperada a qualquer momento: fontes americanas e israelitas citadas pelo diário Times of Israel diziam que poderia ocorrer já nesta segunda-feira.

Apesar de ser tida como inevitável, havia ainda esperança de que a resposta iraniana pudesse mostrar força sem levar a uma resposta de Israel. E havia quem tivesse alguma esperança na via diplomática para evitar o pior, para evitar uma sucessão de acções que ultrapassem limites e acções de escalada, e permitir uma saída, provavelmente após uma acção iraniana e de movimentos apoiados pelo Irão.

Oficialmente, a mensagem levada na visita, a primeira de um responsável jordano ao Irão em duas décadas, era do rei Abdullah.

Mas o analista iraniano Arash Azizi escreveu na rede social X: “O ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia vai a Teerão com mensagens dos EUA e Israel. O Irão deverá mandar uma mensagem de volta, destinada aos EUA e Israel. Por outras palavras, o Irão está a negociar indirectamente com Israel.”

O jornalista da BBC Nafiseh Kohnavard escrevia que a visita decorreu “depois de o Irão se recusar a responder a várias chamadas e pedidos de países ocidentais e regionais para não retaliar contra Israel”. A resposta “foi que não há espaço para negociações ou tolerância desta vez”.

Cita ainda um diplomata na região que afirmou não ser claro o que a visita do ministro jordano poderia conseguir, mas que, de qualquer modo, era “a última tentativa antes da tempestade”.

O termo de comparação anterior foi a resposta iraniana em Abril a um ataque israelita que matou elementos dos Guardas da Revolução do Irão em Damasco, na Síria, e que foi visto como “coreografado e telegrafado” – coreografado já que foi feito para impressionar dado o grande número de projécteis (e também para obter mais informação sobre a capacidade defensiva de Israel) e telegrafado já que foi feito com demora e aviso prévio, que permitiu uma preparação que ajudou a que não houvesse grandes consequências, o que permitiu também a que Israel (também sob pressão americana) não respondesse.

Apreensão no Líbano

O local onde a situação estava a ser vista com maior apreensão era no Líbano, com vários governos a apelarem aos seus cidadãos para deixarem o país – depois de Alemanha, Reino Unido e Suécia, neste domingo França e Itália fizeram o mesmo apelo.

A analista Kim Ghattas, que vive no país, descreveu escolhas terríveis de pessoas que vivem no estrangeiro e estão de férias a visitar familiares, de pessoas que não viajaram até ao país nas férias e consideram ir ver a família (por vezes, explicou, quem está fora está ainda mais angustiado do que quem está no país), famílias com filhos que vão começar a estudar fora em Setembro e pensam se devem antecipar a ida ou mantê-la, pessoas que temem perder oportunidade para estar com pais ou familiares idosos.

A pressão era aumentada pela falta de hipóteses de transporte, com várias companhias aéreas a cancelar já na semana passada voos de e para Beirute.

O envolvimento do Hezbollah libanês (sobre o qual o executivo do país não tem qualquer controlo) era visto como quase certo dada a morte do seu comandante numa acção reivindicada por Israel (que não confirmou oficialmente a autoria do ataque que matou Haniyeh). O ataque contra esse comandante, Fuad Shukr, foi uma resposta do Estado hebraico a um ataque que atingiu, muito provavelmente por erro, uma localidade drusa dos montes Golã, território conquistado à Síria por Israel na guerra de 1967 e anexado em 1981.

De Israel, também se registaram alguns cancelamentos de companhias aéreas.

No país, os media diziam que o ataque era esperado “em várias frentes”, com um ataque directo do Irão acompanhado de acções do Hezbollah libanês e ainda provavelmente de vários outros grupos da região que recebem apoio iraniano.

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