Autora de Mamã, quero ser um menino! apresenta queixa contra Habeas Corpus

Apresentação foi invadida por mais de dez pessoas da associação Habeas Corpus, que terão causado desacatos na recta final do evento.

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Elementos da associação Habeas Corpus invadiram apresentação do livro no Centro Cultural Raiano, em Idanha-a-Nova Nuno Ferreira Santos
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A autora do livro Mamã, quero ser um menino avançou que vai apresentar queixa contra elementos da associação Habeas Corpus, após terem invadido uma apresentação no Centro Cultural Raiano, em Idanha-a-Nova, no sábado à tarde.

“A queixa será apresentada durante o dia na PSP de Castelo Branco. Não sei se os vídeos que foram gravados servem para alguma coisa, mas vou apresentá-los, pois vê-se que tentam agredir pessoas”, indicou Ana Rita Almeida.

Em declarações à agência Lusa, a autora do livro publicado em Maio deste ano explicou que a apresentação foi invadida por mais de dez pessoas, que causaram desacatos na recta final do evento, numa altura em que já se preparava para recitar um poema e passar para a sessão de autógrafos.

“Foi uma coisa atroz, para criar desacatos e desinformação: gritaram 'isto acabou aqui', questionando porque se estava a apoiar um livro homossexual. Fui retirada da sala, juntamente com o presidente da Câmara Municipal, que também tinha feito uma intervenção momentos antes”, descreveu.

Segundo a autora, nos dias que antecederam a apresentação do livro, inserida da programação da XXIV Feira Raiana, elementos da Habeas Corpus começaram a movimentar-se e a organizar-se para a invadirem.

“Tentaram arranjar um autocarro para trazer 50 manifestantes, partilhas de boleias, mas não conseguiram, até que o antigo juiz Rui Fonseca e Castro disse que pagava as despesas a qualquer pessoa que se disponibilizasse para ir a Idanha”, referiu.

O local da apresentação acabou por não ser publicamente divulgado, estando inicialmente agendado para um espaço ao ar livre e passando, à última hora, para o Centro Cultural Raiano, “precisamente para evitar que marcassem presença”.

“Ontem [sábado] de manhã já tinha ido à PSP para apresentar queixa, depois das movimentações que tinha percebido, tendo ficado em aberto e aguardando-se por aquilo que ia acontecer na apresentação. A GNR esteve na apresentação, com elementos à paisana misturados na plateia e duas patrulhas”, acrescentou.

À Lusa, a autora contou ainda que, a 10 de Junho, participou numa sessão de autógrafos na Feira do Livro de Lisboa, onde apareceram elementos da Habeas Corpus. "Como estavam em número reduzido, limitaram-se a seguir-me sem que desse conta, mas reportando-o depois em redes sociais", onde fizeram uma série de considerações negativas.

Nos dias seguintes viu as suas redes sociais “serem invadidas” de comentários onde era chamada de “pedófila, paga pela Maçonaria e pelo Governo socialista de António Costa para promover a homossexualidade junto das crianças”.

Também as redes sociais da corporação, onde é bombeira voluntária, chegaram a ter publicações em que os comentários “tiveram de ser desactivados face ao seu teor”.

“Já não me estavam a incomodar só a mim, nas minhas redes sociais, mas também no segundo lugar onde trabalho, pois sou bombeira voluntária. Inicialmente não apresentei queixa, achei que os comentários de ódio iriam passar e ainda ninguém tinha atentado verdadeiramente contra a minha segurança”, sustentou.

Ana Rita Almeida realçou que o seu livro conta a história de uma menina que “não se enquadra no que a sociedade impõem que é uma menina: feminina e que gosta de brincar com bonecas”.

“Esta menina é diferente, o que chamaríamos há uns anos atrás a típica 'maria rapaz'. Gosta de brincar com carrinhos, jogar a bola, andar de calções e quando vai à escola tem medo que as outras meninas não brinquem com ela, mas as crianças não quiseram saber”, indicou.

O livro apresenta as inseguranças que a menina desabafa junto da sua mãe, “dizendo que no fundo quer ser um menino” e recebendo da mãe uma mensagem de conforto e aceitação. “Estamos perante uma questão de identidade de género, mas na forma como a história está escrita, o leitor tem a liberdade de interpretar o lado da história que lhe for mais confortável”, concluiu.