Férias fecham urgências de obstetrícia e pediatria

Lisboa e Vale do Tejo é região mais afectada, com oito serviços de urgência de ginecologia e obstetrícia abertos e seis fechados. Maternidade Alfredo da Costa é a única a receber grávidas em Lisboa.

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Segundo a Ordem dos Médicos, a situação assume contornos de maior gravidade em locais como a Unidade Local de Saúde da Região de Leiria, onde existem constrangimentos no Serviço de Urgência Ginecológica/Obstétrica entre os dias 02 e 19 de Agosto Miguel Manso
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O Verão é sempre complicado para os hospitais, nomeadamente por causa das férias dos profissionais de saúde. Assim, o primeiro fim-de-semana de Agosto arranca já marcado por vários constrangimentos nas urgências pediátricas e de obstetrícia, sendo esta última especialidade um “calcanhar de Aquiles” do Serviço Nacional de Saúde (SNS), porque é onde se sente mais a carência de médicos nestas alturas.

Neste fim-de-semana, e segundo o mapa interactivo do portal do SNS, a região de Lisboa e Vale do Tejo será a mais afectada, com oito serviços de urgência de ginecologia e obstetrícia abertos e seis fechados.

Nesta região, para sábado, dia 3 de Agosto, e domingo, dia 4, está previsto o encerramento das seguintes urgências de obstetrícia: Hospital Garcia de Orta (em Almada), Beatriz Ângelo (em Loures), São Francisco Xavier (em Lisboa), Santa Maria (cujo serviço está encerrado há um ano mas reabre parcialmente na segunda-feira), Hospital de São Bernardo (em Setúbal) e Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra).

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Os hospitais Beatriz Ângelo e de São Bernardo também terão as respectivas urgências pediátricas encerradas nos dois dias. Neste domingo, nesta região, há a indicação de que também o Hospital de Torres Novas terá a urgência pediátrica encerrada.

De salientar que na área metropolitana de Lisboa a Maternidade Alfredo da Costa (MAC) é a única que recebe grávidas. Ao que o Público apurou, a MAC, durante o dia de Sábado, esteve sob alguma pressão, mas não necessitou de pedir ajuda a nenhum privado. Houve, no entanto, necessidade de transferir algumas mulheres que tiveram partos normais e cujos bebés estavam saudáveis para dar lugar a grávidas que chegaram em trabalho de parto.

Depois, na região Centro, os constrangimentos são os seguintes: no domingo não haverá urgências pediátricas no Hospital de Leiria, que desde hoje e até ao dia 19 também não terá aberto o seu serviço de urgência de obstetrícia e ginecologia.

A Direcção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) justifica esta situação com a "indisponibilidade dos recursos humanos necessários para garantir o serviço durante este período de férias de Verão" e sublinha que "o encerramento foi articulado com a Unidade Local de Saúde de Coimbra, para que continue a ser dada resposta às utentes da área de influência de Leiria".

"No que diz respeito aos partos programados, a solução passa por um encaminhamento, com o acordo das grávidas, para o Centro Materno e Infantil do Norte [Porto], que irá receber as utentes de Leiria", lê-se num comunicado.

Segundo a DE-SNS, o transporte vai ser acautelado pela Unidade Local de Saúde da Região de Leiria, "estando programados dez partos para os próximos dias" e, segundo a informação recolhida por esta entidade, "as grávidas e respectivas famílias estão satisfeitas com a alternativa que lhes foi apresentada".

Na região Norte, apenas o Hospital de Chaves apresenta constrangimentos, mas nas urgências de pediatria, que estarão encerradas durante todo o fim-de-semana.

Já no Algarve está previsto que os encerramentos afectem apenas o Hospital de Portimão, que terá as urgências de obstetrícia e ginecologia encerradas durante todo o fim-de-semana.

Em comunicado, a Ordem dos Médicos (OM) veio alertar para a gravidade destas decisões e consequente redução da capacidade de resposta do SNS à população nas semanas que se aproximam.

Apelou ainda ao Ministério da Saúde e à Direcção Executiva do SNS para que encontrem soluções para fazer face ao encerramento dos serviços de urgência nos meses de Agosto e Setembro, de forma a evitar situações que coloquem em causa a qualidade dos cuidados de saúde prestados e a segurança das pessoas que recorrem a esses serviços.

Ligar sempre para a Linha SNS Grávida

Segundo a OM, a situação assume contornos de maior gravidade em locais como a Unidade Local de Saúde da Região de Leiria, onde existem constrangimentos no serviço de urgência ginecológica/obstétrica entre os dias 2 e 19 de Agosto e onde, a partir do dia 5, não é disponibilizado qualquer atendimento urgente nesta área.

Estes constrangimentos levaram dez grávidas de Leiria a terem de se deslocar ao Porto, a quase 200km de distância, para terem os seus bebés. Num esclarecimento, a DE-SNS sublinhou que o mapa de fechos e aberturas está “de acordo com o previsto e com o que tem acontecido nas últimas semanas".

Disse ainda que a grande parte dos serviços estão abertos este fim-de-semana e voltou a destacar a necessidade de se ligar sempre para a Linha SNS Grávida (808 24 24 24), recordando que “em apenas três meses este gesto reencaminhou cerca de 16 mil grávidas para os cuidados de saúde mais adequados”.

Para o bastonário da OM, Carlos Cortes, "é inadmissível que ano após ano não sejam acautelados os factores que contribuem para o encerramento de urgências, nomeadamente criando condições adequadas para atrair mais médicos para o SNS".

"Não podemos privar toda uma região de aceder às urgências de obstetrícia durante 18 dias, obrigando as grávidas e doentes a deslocarem-se até Coimbra, que fica a mais duas horas de distância em alguns casos, e ao Porto para situações de cuidados programados", defendeu Carlos Cortes.

O bastonário dos médicos exige que "as informações dos constrangimentos sejam divulgadas atempadamente à população e às corporações de bombeiros". "É preciso planeamento no tempo certo, porque não é novidade que o Verão é um período delicado para o SNS, tal como o será o Inverno", salienta.

Para Carlos Cortes, são necessárias "medidas urgentes que proporcionem boas condições de trabalho e que valorizem os médicos, contribuindo assim para a segurança dos doentes e evitando a degradação do SNS".