Líder do Hamas assassinado no Irão. Grupo responsabiliza Israel

Ismail Haniyeh morreu num ataque à sua residência na capital iraniana. Israel ainda não assumiu responsabilidade. Assassinato “será recebido com uma resposta dura e dolorosa”, garante Irão.

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Líder do Hamas assassinado. "Netanyahu quer arrastar os EUA para confronto com o Irão" Reuters, Joana Gonçalves
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Ismail Haniyeh, líder do gabinete político do Hamas, foi assassinado nas primeiras horas da manhã desta quarta-feira no Irão. A notícia foi avançada pelo grupo islamista palestiniano, gerando receios de uma escalada da violência numa região já abalada pela guerra de Israel em Gaza e pelo agravamento do conflito no Líbano.

O Hamas anunciou a morte de Ismail Haniyeh em Teerão, num ataque que atribuiu a Israel, através de um comunicado divulgado nesta quarta-feira. “O irmão líder, mártir combatente Ismail Haniyeh, líder do movimento, morreu em resultado de um ataque traiçoeiro sionista numa residência em Teerão.”

Antes, os Guardas da Revolução, divisão ideológica das Forças Armadas do Irão, já tinham avançado que o chefe do Hamas e um guarda-costas tinham morrido num ataque na capital iraniana, horas depois de ter estado presente na cerimónia de tomada de posse do novo Presidente do país. O ataque à residência especial para veteranos de guerra no Norte de Teerão, onde Haniyeh estava hospedado, aconteceu por volta das 2h da manhã. A agência Reuters escreve que o local terá sido atingido por um projéctil aéreo.

Em reacção à morte do líder do Hamas, o Presidente do Irão, Masoud Pezeshkian, disse que defenderá a sua integridade territorial, dignidade, honra e orgulho, e fará com que os ocupantes terroristas se arrependam do seu acto covarde, cita a agência Reuters. Na mesma mensagem, prestou homenagem a Ismail Haniyeh, que foi descrito como líder corajoso.

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Também o líder supremo do Irão, Ali Khamenei, ameaçou castigar Israel pela morte do líder. Com este acto criminoso e terrorista, o regime sionista [Israel] preparou o terreno para um duro castigo e consideramos que é nosso dever vingar o assassinato em território da República Islâmica do Irão, declarou Khamenei em comunicado citado pela agência de notícias IRNA.

Os Guardas da Revolução, por seu lado, já prometeram retaliar, afirmando que o ataque será recebido com uma resposta dura e dolorosa. O Irão e a frente de resistência responderão a este crime, disse a força militar num comunicado, empregando um termo que Teerão usa para se referir a grupos militantes aliados no Oriente Médio.

Ismail Haniyeh era líder do gabinete político do Hamas e uma das figuras-chave nas negociações para os acordos para se chegar a um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Em Abril, um ataque da aviação israelita matou pelo menos seis membros da sua família – três filhos e pelo menos dois netos – num campo de refugiados no Norte do enclave palestiniano.

Israel pouco disse até agora sobre o assassinato de Haniyeh. O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, não comentou o assunto e o mesmo aconteceu com o seu ministro da Defesa,Yoav Galant​. O gabinete de imprensa do Governo publicou uma imagem de Haniyeh no Facebook com a palavraeliminado colada na testa.

No entanto, o ministro do Património de Israel, Amichai Eliyahu recorreu ao X (antigo Twitter) para comentar o ataque. Esta é a maneira certa de limpar o mundo desta imundície. A morte de Haniyeh torna o mundo um pouco melhor, escreveu.

Israel prometeu matar Haniyeh e outros líderes do Hamas na sequência do ataque do grupo a 7 de Outubro em território israelita, no qual morreram 1200 pessoas e cerca de 250 foram feitos reféns, de acordo com dados de Israel. O ataque desencadeou a actual guerra na Faixa de Gaza onde morreram mais de 39 mil palestinianos.

A notícia da morte de Haniyeh chega horas depois de Israel ter confirmado que matou o chefe militar do grupo xiita libanês Hezbollah, Fuad Shukr, e o assessor do líder, Hassan Nasrallah, e poderá dificultar qualquer hipótese de um acordo para um cessar-fogo iminente em Gaza.

Rosto público do Hamas

Haniyeh, que vivia exilado no Qatar, foi o rosto da diplomacia internacional do grupo palestiniano, enquanto a guerra se alastrava em Gaza. Em Maio, o gabinete do procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) pediu um mandado de captura para o líder do Hamas por alegados crimes de guerra. Um pedido semelhante foi emitido contra o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

Nomeado para o cargo mais alto do Hamas em 2017, deslocou-se entre a Turquia e a capital do Qatar, Doha, escapando às restrições de viagem da Faixa de Gaza bloqueada, o que permitiu que actuasse como negociador nas conversações para um cessar-fogo ou para dialogar com o Irão, um aliado próximo. O funeral de Haniyeh vai realizar-se em Teerão na quinta-feira e o seu corpo será transferido depois para Doha, capital do Qatar, paraorações e sepultamento.

A sua morte, após o assassinato do seu vice, Saleh Al-Arouri, no início deste ano por Israel, deixa Yehya Al-Sinwar, o responsável do Hamas na Faixa de Gaza e o arquitecto do ataque de 7 de Outubro, e Zaher Jabarin, o chefe do grupo na Cisjordânia, no poder, mas escondidos.

Rússia, China e Qatar condenam ataque

Em reacção à notícia da morte do líder, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que os Estados Unidos não estavam envolvidos, nem tinham conhecimento do assassinato de Ismail Haniyeh. “Não sabíamos ou e não estamos envolvidos, disse Blinken numa entrevista ao Channel News Asia durante uma visita a Singapura, quando questionado sobre o impacto que o ataque poderá ter.

“Vi a informação e o que posso dizer neste momento é que nada põe em causa a importância de se conseguir um cessar-fogo”, sublinhou Blinken. “Não vou especular sobre o impacto que qualquer acontecimento possa ter. O que sei é que continuaremos a trabalhar todos os dias no cessar-fogo e na prevenção de uma escalada do conflito”, disse.

A China, a Turquia, a Jordânia e o Qatar, que tem sido dos mediadores das negociações para interromper os combates em Gaza, condenaram o assassinato de Haniyeh, que apelidaram de “perigosa escalada do conflito. A Rússia também condenou o ataque contra o líder do Hamas e pediu a todas as partes que se abstenham de medidas que possam levar o Médio Oriente a uma guerra regional.

“É óbvio que os organizadores deste assassinato político estavam cientes das consequências perigosas que esta acção acarreta para toda a região, disse Andrei Nastasin, porta-voz adjunto do Ministério das Negócios Estrangeiros da Rússia, aos jornalistas, frisando que não passou ao lado de Moscovo o facto de este ataque ter ocorrido no Irão.

Pedimos a todas as partes envolvidas que exerçam contenção e abandonem quaisquer medidas que possam levar a uma degradação dramática da situação de segurança na região e provocar um confronto armado em larga escala, disse Nastasin.

A Rússia também condenou o ataque israelita que matou o comandante mais antigo do Hezbollah em Beirute na terça-feira. “Condenamos veementemente a acção militar realizada por Israel, que constitui uma grave violação da soberania libanesa e das normas básicas do direito internacional, disse Nastasin.

Também o Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio disse que esta escalada” revela uma falta de vontade política de Israel para reduzir as tensões, algo que, juntamente com a falta de progresso nas negociações do cessar-fogo em Gaza, complica a situação”.

O principal órgão de segurança do Irão, escreve a agência Reuters, reuniu-se esta manhã para decidir a estratégia do país depois da morte de Haniyeh, um aliado próximo de Teerão. Também o presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, condenou o assassinato de Ismail Haniyeh e várias facções palestinianas na Cisjordânia ocupada convocaram uma greve geral e manifestações em massa.

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