Várias delegações internacionais foram impedidas de entrar na Venezuela pelo Governo de Maduro

Sebastião Bugalho não foi caso único. Além dos eurodeputados do PPE, outras delegações internacionais foram impedidas de entrar na Venezuela para acompanharem as eleições de domingo.

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Várias delegações internacionais estão a ser impedidas de entrar na Venezuela em vésperas das eleições presidenciais de domingo Alexandre Meneghini / REUTERS
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Várias delegações internacionais, além do grupo do Partido Popular Europeu (PPE) em que estava integrado o eurodeputado Sebastião Bugalho, foram impedidas de entrar na Venezuela para acompanhar as eleições presidenciais no domingo, noticiou este sábado a agência de notícias EFE.

Entre esses grupos está aquele formado por antigos Presidentes e uma ex-vice-Presidente latino-americanos, que não puderam viajar para a Venezuela na sexta-feira depois de o avião da companhia aérea Copa Airlines em que viajavam ter sido impedido de descolar do Panamá, segundo a agência de notícias EFE. O grupo esclareceu que participavam nas eleições venezuelanas como “convidados” da oposição, uma vez que não podiam se registar legalmente como observadores.

“Dissemos claramente que íamos, ou queríamos ir, à Venezuela como convidados de Edmundo [González Urrutia] e María Corina Machado. Era um acompanhamento (...), não íamos como observadores, porque obviamente não tivemos essa possibilidade de inscrição perante o Conselho Nacional Eleitoral" venezuelano, disse a ex-vice-Presidente da Colômbia, Marta Lucía Ramírez, na capital panamiana.

A ex-vice-Presidente colombiana fez as suas declarações numa conferência de imprensa no Palácio Presidencial com os ex-Presidentes Mireya Moscoso do Panamá, Miguel Ángel Rodríguez da Costa Rica, Jorge Quiroga da Bolívia e Vicente Fox do México, poucas horas depois de abandonarem o avião da Copa Airlines.

Segundo o Governo do Panamá, o impedimento de voar deveu-se ao facto de o Governo da Venezuela “bloquear o espaço aéreo” do país e “reter aviões” da companhia aérea Copa, incluindo aqueles em que viajavam estes ex-Presidentes, “pelo período de várias horas", devido a "questões políticas alheias" e após uma decisão "unânime" do Executivo venezuelano.

Esses dirigentes fazem parte do grupo Iniciativa Democrática de Espanha e das Américas (IDEA) e iam às eleições desse domingo em apoio à candidatura de Edmundo González Urrutia, líder da coligação de oposição Mesa de Unidade Democrática Unitária (MUD).

De Caracas, a principal coligação de oposição da Venezuela, a MUD, condenou o impedimento imposto aos mandatários latino-americanos de viajarem para o seu país. “Condenamos veementemente este facto porque, reiteramos, se há uma coisa que nós, democratas, queremos no nosso país, é que haja um processo de votação limpo, imaculado e transparente, do qual todos nos possamos orgulhar”, disse a membro da oposição Delsa Solórzano, numa teleconferência.

A delegação do Partido Popular Europeu (PPE) de acompanhamento das eleições presidenciais venezuelanas, onde está integrado o eurodeputado português Sebastião Bugalho, ficou primeiro retida no aeroporto de Caracas e foi depois expulsa do país, adiantaram na sexta-feira fontes do PPE.

A Venezuela impediu também a entrada de uma delegação de parlamentares do Partido Popular espanhol (PP) que também tinha sido convidada pela oposição para estar presente nas eleições de domingo. Deputados, eurodeputados e senadores do PP, liderados pelo eurodeputado Esteban González Pons e pelo porta-voz do PP no Congresso, Miguel Tellado, deslocaram-se à Venezuela para assistir às eleições presidenciais deste domingo. Segundo fontes do PP, as autoridades locais informaram que foram proibidos de entrar no país e foram deportados, pelo que tiveram de regressar a Espanha.

A senadora colombiana Angélica Lozano e a ex-presidente da Câmara de Bogotá Claudia López denunciaram na sexta-feira que foram deportadas da Venezuela, país onde chegaram para se encontrarem com a líder da oposição María Corina Machado, e que os seus passaportes foram retidos durante uma hora e meia.

O Governo chileno enviou uma nota de protesto ao Governo venezuelano por ter impedido a entrada no país dos senadores Felipe Kast (centro-direita) e José Manuel Rojo Edwards (extrema-direita), convidados pela oposição venezuelana.

“O Ministério dos Negócios Estrangeiros convocou o embaixador venezuelano no Chile, Arévalo Méndez, para entregar uma nota de protesto porque os senadores José Manuel Rojo Edwards e Felipe Kast não foram autorizados a entrar naquele país”, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros num breve comunicado. Kast, do partido Evópoli, informou nas suas redes sociais que seriam deportados por não reunirem “o perfil ou as condições de entrada no país”.

A Presidência do Senado chileno assegurou que os acontecimentos são “antidemocráticos” e “denotam a maior gravidade” porque “os senadores chilenos têm todas as condições normalmente exigidas pela República Bolivariana da Venezuela para entrar no seu território”.

Delegação do PSD em Bruxelas repudia "acto arbitrário"

Em reacção ao impedimento de o PPE entrar na Venezuela​, incluindo o eurodeputado Sebastião Bugalho, a delegação portuguesa do PSD em Bruxelas repudiou o acto "injustificado e arbitrário" da Venezuela.

"Tendo a missão integrada pelo deputado Sebastião Bugalho um mandato político da presidência do grupo parlamentar do PPE, os deputados do PSD consideram que este acto injustificado e arbitrário realizado pelas autoridades venezuelanas desrespeita o mandato dos deputados eleitos, a presidência do grupo parlamentar do PPE e, em última instância, o Parlamento Europeu e a União Europeia", lê-se num comunicado enviado às redacções.

Em comunicado, o chefe da delegação portuguesa do PSD em Bruxelas, Paulo Cunha, lamenta a forma como a comitiva do PPE foi tratada pelas autoridades venezuelanas. "O impedimento da entrada dessa comitiva no país, quando se tratava de uma visita realizada no quadro de um convite de forças políticas na oposição — mesmo que coincidindo com a realização de um acto eleitoral — é condenável, lamentável e merecedor de repúdio público", lê-se no texto.

A nota da delegação portuguesa do PSD em Bruxelas salienta que, "em diversas declarações públicas realizadas nos dias que precederam a viagem", o eurodeputado português, vice-coordenador dos Assuntos Externos do Grupo PPE e porta-voz desta delegação, "afirmou que esta missão se desenrolaria no absoluto respeito da soberania do país e do acto eleitoral". "Por essa razão, entendo ser ainda mais surpreendente este ato de impedimento e expulsão dos deputados que integravam a visita", defende Paulo Cunha.