Brasil cancela envio de observadores eleitorais para a Venezuela

Comentários depreciativos de Maduro sobre o sistema eleitoral brasileiro motivaram críticas da justiça eleitoral. Relações entre Lula e Maduro estão a degradar-se.

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Maduro disse que pode haver um "banho de sangue" caso a oposição vença as eleições de domingo Marco Bello / REUTERS
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Está a aumentar a tensão entre o Brasil e a Venezuela por causa das eleições presidenciais venezuelanas do próximo domingo. Em resposta aos comentários do Presidente Nicolás Maduro que pôs em causa o sistema de voto brasileiro, Brasília decidiu não enviar qualquer observador eleitoral para o país vizinho.

Outrora visto como um dos líderes sul-americanos mais próximos do regime venezuelano, o Presidente Lula da Silva dá sinais de cada vez maior afastamento em relação a Maduro. Esta semana, o Presidente brasileiro disse estar preocupado com as declarações do homólogo venezuelano que falou num “banho de sangue” caso não fosse reeleito no domingo.

“Quem perde as eleições toma um banho de votos, não de sangue. Maduro tem de aprender: quando você ganha, você fica. Quando você perde, você vai embora e se prepara para disputar outra eleição”, afirmou Lula, em declarações à imprensa estrangeira.

Maduro desvalorizou os comentários de Lula, aconselhando todos aqueles que se assustaram com as suas declarações a beberem um “chá de camomila”. "Na Venezuela vai triunfar a paz, o poder popular, a união cívico-militar-policial perfeita", garantiu.

Num comício, o Presidente venezuelano voltou a apontar baterias para os vizinhos sul-americanos para elogiar a fiabilidade do sistema eleitoral da Venezuela com o objectivo de afastar as alegações de que poderá haver fraude para favorecer o chavismo.

Dizendo que o sistema venezuelano é “o melhor do mundo”, Maduro especificou que são realizadas 16 auditorias às urnas, incluindo uma feita em tempo real que abarca mais de 50% do total. "Em que outras partes do mundo fazem isso? Nos Estados Unidos? O sistema eleitoral é auditável? No Brasil? Não auditam nenhuma acta. Na Colômbia? Não auditam nenhuma acta”, afirmou.

Curiosamente, os dois países sul-americanos referidos por Maduro têm os governos que mais favorecem boas relações com Caracas na região e mantêm uma afinidade ideológica com o chavismo. O Presidente colombiano, Gustavo Petro, por exemplo, foi um forte defensor da reabertura da fronteira com a Venezuela e da normalização de laços com o país, após anos de péssimas relações.

Maduro deixou ainda um recado explícito aos restantes líderes sul-americanos, com quem diz querer manter “boas relações”. “Boas relações, ou seja, ninguém se deve meter nos assuntos internos da Venezuela, porque nós não nos metemos nos assuntos internos de ninguém.”

Os comentários de Maduro foram mal recebidos, sobretudo no Brasil, a propósito das alegações sobre o sistema de voto electrónico que nas eleições de 2022 já tinham sido um tópico de amplas discussões. Na altura, o então Presidente Jair Bolsonaro difundia teses conspiratórias sobre possíveis falhas na auditoria às eleições e defendia a reintrodução do voto em papel.

Na quarta-feira, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu cancelar o envio de uma missão de observadores para acompanharem as eleições venezuelanas, criticando as declarações de Maduro. "Em face de falsas declarações contra as urnas electrónicas brasileiras que, ao contrário do que afirmado por autoridades venezuelanas, são auditáveis e seguras, o Tribunal Superior Eleitoral não enviará técnicos para atender convite feito pela Comissão Nacional Eleitoral daquele país e acompanhar o pleito do próximo domingo", lê-se no comunicado divulgado pelo tribunal.

O ex-Presidente argentino, Alberto Fernández, que tinha sido convidado pelas autoridades venezuelanas para chefiar uma equipa de observadores também revelou que afinal não obteve autorização para acompanhar o escrutínio por causa de comentários feitos nos últimos dias. "A razão que me foi dada foi que, na opinião do Governo, as declarações públicas que fiz causaram desconforto e suscitaram dúvidas acerca da minha imparcialidade", disse Fernández através da rede social X. "Apenas disse que, se o partido no poder vier a ser derrotado, terá de aceitar o veredicto popular; a oposição deverá fazer o mesmo", acrescentou.

As eleições presidenciais deste domingo na Venezuela são vistas com enorme preocupação pelo chavismo que receia que a impopularidade crescente de Maduro se venha a reflectir nos resultados. A oposição, apesar de não poder contar com a sua candidata, María Corina Machado, está confiante de que poderá tirar do poder o regime que governa a Venezuela há 25 anos.

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