No regresso do MUDE, Lisboa é uma cidade renovada

O Edifício em Exposição, que ontem inaugurou no MUDE, partilha histórias sobre a reabilitação daquele edifício-quarteirão. Todo este trabalho merece o maior reconhecimento.

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Turistas passam na rua durante a inauguração da exposição \O Edifício em Exposição\ na reabertura do Museu do Design e da Moda (MUDE) em Lisboa, 25 de julho de 2024 Tiago Petinga / LUSA
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Inaugurou-se na passada quinta-feira a requalificação do MUDE, o Museu do Design, no edifício do antigo Banco Nacional Ultramarino. Abre assim ao público todo o quarteirão da Baixa Pombalina, talvez o único que se pode admirar nas quatro frentes de rua, isto é, na sua integridade. E que quarteirão: limitam-no a rua Augusta a poente, a rua da Prata a nascente e a rua do Comércio a sul. Do terraço, vislumbra-se uma fita de rio, atrás do ombro do arco da rua Augusta, naquela vista que Lisboa inteira ansiava.
Mas vamos ao edifício que inaugurou, requalificado e exposto na sua integridade. Para chegar ao terraço, falta subir seis pisos, com elevadores confortáveis, é certo, mas também com os interiores do banco, que o notável trabalho de reabilitação trouxe à vida.

Já era conhecido o balcão de atendimento em mármore, no piso térreo, desenhado por Cristino da Silva, já mostrado ao público na abertura provisória do MUDE, em 2008. A pedra polida já contrastava com a crueza dos tectos, desprovidos dos acabamentos dos anos 60 do século passado.

O restante edifício mantém uma consistência impensável, tendo em conta a diversidade de espaços, bem como as épocas de construção, de Tertuliano Lacerda Marques a Cristino da Silva: os gabinetes da administração, com madeiras tropicais, voltaram a brilhar; o auditório, mais discreto que na versão do século passado, tem uma iluminação atmosférica.

O novo projecto de museologia, da autoria de Bárbara Coutinho, directora do MUDE, revela as várias intervenções que o edifício sofreu ao longo do tempo. O projecto de arquitectura assume essa capacidade integradora, na alvenaria das paredes não rebocada, ou nas novas guardas de vidro, que são como vitrines sobre as guardas metálicas do tempo do Banco Nacional Ultramarino.

Pelo trabalho do arquitecto Luís Miguel Saraiva, podemos projectar na parede as duas versões do edifício, em plantas impressas em acetato transparente, sobrepostas. Percebe-se como, afinal, os fragmentos de história são muito mais complexos do que parece à primeira vista, por mais robustas que pareçam as paredes da cave do banco. Ali, junto aos cofres, vêm-se garrafas de vinho anteriores ao terramoto de 1755, frágeis mas intactas, encontradas em escavações daquele quarteirão.

O Edifício em Exposição, que ontem inaugurou no MUDE, partilha histórias sobre a reabilitação daquele edifício-quarteirão. Além de encontrarmos os materiais de trabalho e de estaleiro, vemos, nos orgulhosos retratos que estão à entrada, os rostos de quem lançou as mãos à obra. Todo este trabalho merece o maior reconhecimento.

No alto do museu, o terraço recompensa a subida: é o olhar que faltava à cidade, enquadrado por elegantes floreiras. Da cúpula dos Paços do Concelho, ao Castelo e à Sé, tem-se a impressão de estar no ponto zero da cidade, que mostrada neste novo MUDE, jamais parece ser como antes.

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