Aeroportos, bancos e empresas a braços com apagão informático global, que também afectou Portugal

Problema estará resolvido, mas efeitos vão prolongar-se. ANA diz que falha informática está a causar “constrangimentos no check-in”.

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Aeroportos de todo o mundo, como o de Singapura, estão a registar problemas Caroline Chia / REUTERS
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Em Camberra, na Austrália, uma caixa automática de um supermercado exibe o ecrã azul LUKAS COCH / EPA
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Passageiros acumulam-se num dos terminais do aeroporto de Orly, em Paris Abdul Saboor / REUTERS
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Uma loja de bebidas em Camberra, na Austrália, encerrada devido aos problemas informáticos LUKAS COCH / EPA
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Ecrãs azuis num aeroporto americano Bing Guan / REUTERS
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Dezenas de instituições e serviços de todo o mundo estão paralisados ou fortemente perturbados devido a uma falha informática de um sistema de cibersegurança que está a afectar a utilização do sistema operativo Windows, da Microsoft. Bancos australianos, meios de comunicação social britânicos, companhias aéreas europeias, serviços de saúde, aeroportos e supermercados em todas as latitudes relataram ter sido afectados e não conseguirem aceder aos seus sistemas.

As principais agências estatais de cibersegurança descartaram a possibilidade de se tratar de um ciberataque. De acordo com fontes do sector, incluindo o Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) português, a origem do apagão está numa actualização defeituosa do software Falcon da CrowdStrike, uma empresa norte-americana de cibersegurança. Numa mensagem telefónica pré-gravada na sua linha de suporte técnico, a empresa referiu que "estava ciente dos relatos de falhas no sistema operacional Windows da Microsoft relacionadas com o seu sensor Falcon".

O presidente executivo da CrowdStrike, George Kurtz, assumiu no X (antigo Twitter) a responsabilidade pelo apagão. "Isto não é um incidente de segurança ou um ciberataque", garantiu. "O problema foi identificado, isolado e uma correcção já foi lançada", acrescentou, assegurando que a empresa está "plenamente mobilizada para garantir a segurança e estabilidade" dos seus clientes. Numa entrevista à televisão norte-americana NBC, Kurtz pediu "sinceras desculpas" e informou que, apesar de a falha no software já ter sido corrigida, "pode demorar algum tempo até que certos sistemas" voltem a funcionar normalmente.

Também a Microsoft informou, ao fim da manhã (madrugada nos Estados Unidos), que "a causa subjacente" ao apagão já foi resolvida, mas que ainda pode demorar algum tempo até que a situação esteja normalizada para todos os utilizadores do Windows. Muitos deles estão a deparar com um ecrã azul, conhecido na gíria como BSoD, que corresponde a uma falha crítica. O apagão não afecta quem utiliza sistemas Mac ou Linux.

Os problemas começaram a ser detectados ao fim da tarde de quinta-feira na Costa Leste dos Estados Unidos (cerca da meia-noite em Lisboa).

Aeroportos com problemas

Em Portugal, a ANA, que gere os aeroportos, diz que a falha informática está a causar "constrangimentos no check-in e embarque de alguns voos" e pede aos passageiros que "se informem sobre o estado do seu voo antes de se dirigirem para o aeroporto".

"Algumas companhias aéreas, handlers e empresas do sector estão a ser afectadas devido a uma falha informática. O sistema informático dos aeroportos portugueses não foi afectado directamente. Está a ser avaliado o impacto desta situação, sendo esperados constrangimentos na operação aeroportuária que afectam companhias aéreas e outros aeroportos", refere a ANA numa nota enviada ao PÚBLICO.

Segundo escreve a agência Lusa, a falha informática causou algumas filas nos balcões de check-in do aeroporto de Lisboa, mas os viajantes mantêm a esperança de umas férias sem percalços, apesar dos atrasos nos voos. Ao longo da manhã, o trânsito começou a acumular-se nos acessos ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, com os viajantes a seguir os conselhos das companhias aéreas para se deslocarem para a Portela com antecedência.

Num aeroporto habitualmente muito frequentado, o cenário não diferia muito do normal, pelo menos até à zona da segurança, não fossem os avisos de voos atrasados nos ecrãs e algumas filas longas nos balcões. "Estão a dizer que todos os voos estão com atraso, mas não sabemos quanto tempo ainda", disse Jennifer à Lusa, na fila para o check-in da Transavia, a tentar regressar a casa, "se conseguir", após umas férias em Portugal.

Já na fila para o balcão Vueling, Airton desconhecia que havia um problema informático a nível global. "Tive um problema com o voo, estava a fazer o check-in no site da Vueling e não dá", disse.

Com mais sorte parecia estar Alice, prestes a ir de férias para Ibiza, em Espanha, assim que conseguisse passar o obstáculo da fila para despachar as malas. "Mantém-se o horário, já estivemos atentos aos painéis. Fizemos o check-in ontem [quinta-feira], não íamos adivinhar esta situação, mas fizemos o check-in online, esperemos que tudo corra bem", disse Alice.

O hospital Amadora-Sintra relatou alguns problemas aos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, que, segundo a Lusa, estão a avaliar a dimensão da situação e a fazer um levantamento de eventuais situações. O ministério esclareceu mais tarde que a falha no Amadora-Sintra não está relacionada com a falha informática global.

O INEM e o 112 estão a funcionar normalmente, assim como os serviços associados à justiça.

O Centro Nacional de Cibersegurança informa que "está a acompanhar o caso" e que há "no ciberespaço nacional várias organizações afectadas, embora com diferentes graus de impacto". À semelhança das suas congéneres europeias, o CNCS reforça que, "até ao momento, não há evidências que indiquem tratar-se de um acto malicioso".

Caos nos aeroportos e bolsas

Nos EUA, os voos de várias companhias aéreas foram suspensos e o estado norte-americano do Alasca lançou o alerta de que os seus serviços de emergência foram afectados e de que as linhas telefónicas não estão a funcionar correctamente.

A Bolsa de Valores de Londres está entre as instituições afectadas, com o site a exibir os valores da noite passada quando as negociações começaram nesta sexta-feira. O sistema de agendamento de consultas médicas utilizado por clínicos no Reino Unido também não está a funcionar. A Sky News só a meio da manhã conseguiu colocar a sua emissão televisiva no ar, e o serviço de comboios do Reino Unido diz também ter sido afectado, o que estará a causar atrasos nas partidas de dezenas de comboios. Os principais aeroportos de Londres e o porto de Dover estão a sofrer constrangimentos. Em Belfast (ver foto abaixo), uma vez que os ecrãs informativos não funcionam, os horários e informações sobre os voos estão escritos à mão num quadro.

Dois hospitais nas cidades de Lübeck e Kiel, no Norte da Alemanha, cancelaram as operações sem carácter urgente que estavam agendadas para esta sexta-feira, referiram fontes do hospital em comunicado, acrescentando que o atendimento aos doentes e os serviços de emergência continuam a funcionar dentro da normalidade.

Em Espanha, os aeroportos estão a funcionar, mas com atrasos significativos e há relatos de caos em Barcelona e Palma de Maiorca. Em Amesterdão, Edimburgo, Praga e Berlim há dezenas de voos com dificuldades em descolar. O aeroporto de Berlim suspendeu todas as partidas até às 10h devido a uma falha técnica, disse um porta-voz à Reuters. Pouco antes, a operadora do aeroporto tinha avançado que os check-ins estavam a sofrer grandes atrasos devido a uma falha informática.

Também o Aeroporto Schiphol, em Amesterdão, um dos mais movimentados da Europa, referiu estar a ser afectado por uma "indisponibilidade cibernética global". "A interrupção está a ter impacto nos voos de e para Schiphol", disse um porta-voz, acrescentando que ainda não se sabe quantos voos foram afectados. Várias companhias aéreas na Índia, Hong Kong e Japão disseram que também estão a ser afectadas pela falha informática.

A Ryanair, a maior companhia aérea da Europa, fala em "interrupções em toda a sua rede" e pediu aos passageiros que cheguem aos aeroportos três horas antes da partida.

Da América à Oceânia

O site Downdetector, que faz o registo falhas na Internet em tempo real, mostra que algumas operadoras portuguesas, como a Nos e a Meo, estão a registar falhas nos seus serviços que começaram pelas 8h desta sexta-feira. Uma fonte oficial da Vodafone Portugal declarou ao PÚBLICO que "não se verificam perturbações na sua rede, estando todos os parâmetros a funcionar normalmente".

Na Austrália, media, bancos e empresas de telecomunicações estão com os serviços interrompidos. No Aeroporto de Sydney, as informações sobre partidas e chegadas desapareceram dos ecrãs. Num anúncio aos passageiros num dos terminais domésticos, a companhia aérea low-cost Jetstar disse que um “problema com a Microsoft” está a fazer com que não seja possível fazer o check-in de passageiros e iniciar o embarque em vários voos, segundo escreve a BBC. Ainda segundo a emissora britânica, há utilizadores nas redes sociais a dar conta de filas em lojas australianas como a Woolworths, que têm os seus sistemas de pagamento inactivos.

O maior banco da Austrália, o Commonwealth Bank, avançou que alguns clientes não conseguem fazer movimentações de dinheiro devido à interrupção nos serviços. Na Nova Zelândia, um porta-voz do Parlamento disse que os sistemas também foram afectados e a emissora estatal ABC disse que estava a lidar com uma "grande interrupção de rede", sem avançar um motivo para a falha.

De acordo com o Downdetector, desde a noite passada que foram registados picos repentinos de incidentes em vários sites que incluem aplicações da Microsoft.

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