Oxfam detalha uso de água por Israel como “arma de guerra” em Gaza
O fornecimento de água caiu para 94% do que era antes da guerra. A média é de cinco litros por pessoa por dia – menos do que a quantidade gasta numa descarga de autoclismo.
A organização de direitos humanos do Reino Unido Oxfam quantificou, num relatório lançado na quarta-feira, o modo como Israel usa a água como arma de guerra na Faixa de Gaza: a água disponível actualmente por pessoa em média é de cinco litros, o que é um terço do que é recomendado como mínimo absoluto para conseguir o mínimo de sobrevivência em situações de emergência.
Para dar um termo de comparação, a organização diz que é menos do que o que é gasto numa única descarga de autoclismo. No entanto, é a quantidade média diária para tudo: beber, cozinhar, higiene pessoal, sistemas sanitários, etc.
A parte da água que era fornecida pela empresa pública de água de Israel Mekorot, que já antes estava a fornecer apenas 22% da sua capacidade total, ainda teve a linha que fornece a cidade de Gaza cortada 95% e a que serve Khan Younis 95% do tempo, diz o relatório.
Além disso, a produção a partir do interior de Gaza foi reduzida em 84% devido à destruição de infra-estruturas e à restrição de combustível, corte de electricidade, e de restrições à entrada de peças para consertar infra-estruturas de água e saneamento.
A disponibilidade de água potável na Faixa de Gaza era já um problema antes de 7 de Outubro e da guerra actual. A distribuição de água, a dessalinização, os esgotos, tudo dependia da electricidade, que desde que o Hamas estava no poder no território tinha sido diminuída numa acção que resultou de decisões de Israel e da Autoridade Palestiniana. Em 2000, 98% das pessoas de Gaza tinham acesso a água potável da rede pública.
Em 2023, antes do 7 de Outubro, esse número era de apenas 4%. Já então havia famílias a beber água contaminada por não terem dinheiro para comprar água (carrinhas ou motos cisterna faziam distribuição).
Depois de 7 de Outubro, a electricidade foi totalmente cortada, com geradores a funcionar a combustível a tentar manter hospitais e serviços essenciais em funcionamento.
Desde o início da guerra actual, que se seguiu ao ataque de 7 de Outubro do Hamas, até 3 de Junho de 2024, a média por dia de infra-estruturas de água ou de saneamento a ficar sem funcionar em consequência de bombardeamentos israelitas era de cinco por dia, diz ainda o relatório.
Israel destruiu ainda os dois principais laboratórios que testavam a qualidade da água. Até 3 de Junho, o exército israelita tinha destruído a totalidade de armazéns de água e saneamento nas duas maiores cidades do território, a Cidade de Gaza, no Norte, e Khan Younis, no Sul.
Esta não é a primeira vez que uma agência humanitária fala das restrições de água como arma de guerra por Israel na Faixa de Gaza. Já em Novembro, as Nações Unidas apelavam a Israel que deixasse de usar a água como uma arma de guerra contra o território.