Usha Vance, de eleitora democrata a candidata a “segunda-dama” republicana

A advogada, filha de pais imigrantes indianos, demitiu-se depois de J.D. Vance ser anunciado como candidato a vice-presidente dos EUA ao lado de Donald Trump.

FILE PHOTO: Republican vice presidential candidate J.D. Vance is accompanied by his wife Usha Chilukuri Vance as he arrives for Day 1 of the Republican National Convention (RNC), at the Fiserv Forum in Milwaukee, Wisconsin, U.S., July 15, 2024. REUTERS/Mike Segar/File Photo
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J.D. Vance e Usha Chilukuri Vance na convenção do Partido Republicano Mike Segar/Reuters
Republican vice presidential candidate J.D. Vance is accompanied by his wife Usha Chilukuri Vance as he arrives for Day 1 of the Republican National Convention (RNC), at the Fiserv Forum in Milwaukee, Wisconsin, U.S., July 15, 2024. REUTERS/Andrew Kelly
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J.D. Vance e Usha Chilukuri Vance na convenção do Partido Republicano Andrew Kelly/Reuters
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J.D. e Usha Vance nas eleições primárias em 2022 Gaelen Morse/Reuters
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Advogada de sucesso e filha de imigrantes, Usha Vance pode ser a futura “segunda-dama” dos Estados Unidos, caso o marido, J.D. Vance, seja escolhido ao lado de Donald Trump nas eleições de Novembro. Até 2014, esteve registada no Partido Democrático, mas, nesta segunda-feira, dia em que foi anunciada a escolha de Vance para vice-presidente, a advogada, de 38 anos, agarrou a mão do marido na convenção republicana e confirmou o seu apoio.

Assim que se soube que seria J.D. Vance a escolha de Donald Trump para a vice-presidência, Usha demitiu-se da firma de advogados em que trabalhava em São Francisco e em Washington, a Munger, Tolles & Olson, onde se debruçava particularmente em casos ligados à educação, entretenimento e tecnologia, com clientes como a Disney ou a Universidade da Califórnia. A demissão foi justificada, em comunicado ao SF Gate, com a necessidade de se “focar em cuidar da família”.

Recentemente, numa entrevista à Fox News, quando se falou da possibilidade de J.D. Vance avançar para vice-presidente, Usha confessou que a exposição pública é algo “como nunca antes tinha vivido”. E desabafou: “Não sei se alguém está preparado para esse tipo de escrutínio.” E apesar de “não querer mudar nada” na vida, garantiu “acreditar” no marido e estar preparada para o que der e vier.

Tem sido assim na última década, apesar do contraste entre ambos. Ele: branco, católico e criado num meio pobre, que ascendeu ao sucesso depois do serviço militar, simbolizando o sonho americano. Ela: hindu, filha de imigrantes indianos, que cedo manifestou a apetência para o Direito.

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PA/JIM LO SCALZO

Os pais de Asha, Krish e Lakshmi Chilukuri, emigraram de Andra Pradexe, na Índia, para a Califórnia na juventude e notabilizaram-se no meio académico — Krish é engenheiro e professor; Lakshmi é bióloga e reitora. “Cresci num lar religioso, os meus pais são hindus, e penso que isso foi uma das coisas que os tornou tão bons pais, que os tornou realmente tão boas pessoas”, declarou na mesma entrevista à Fox News.

Usha cresceu numa pequena comunidade indiana nos arredores de San Diego e assumiu desde criança o papel de liderança, contou o amigo da família Vikram Rao ao The New York Times, em 2022. “Decidia quais os jogos de tabuleiro que íamos jogar e quais as regras a seguir. Nunca foi má ou indelicada, mas era ela quem mandava.”

Essa determinação levou a que escolhesse o curso de Direito em Yale, onde conheceu J.D. Vance num grupo de trabalho que visava analisar o “declínio social na América branca”, que serviu de inspiração ao best-seller de Vance, Lamento de uma América em Ruínas​ (adaptado em filme para Netflix em 2020).

Apesar de aparentemente terem pouco em comum, a empatia terá sido imediata e J.D. Vance descreve Usha como a sua “guia espiritual” em Yale. “Ela compreendia instintivamente as perguntas que eu nem sequer sabia fazer e encorajava-me sempre a procurar oportunidades que eu não sabia que existiam”, escreveu no livro de memórias, em 2016. Já ela recordou à NBC News que foi atraída pela “diligência” do então amigo. “Ele aparecia às nove horas da manhã nos encontros que eu marcava para começarmos a trabalhar juntos no dossier”, recordou.

Mas Usha nunca deixou de diversificar os interesses durante a vida académica. Foi editora no Yale Law Journal e no Yale Journal of Law & Technology, tendo também disponibilizado aconselhamento gratuito no Supremo Tribunal para questões relacionadas com a liberdade de imprensa. Fez ainda um mestrado em Filosofia, na Universidade de Cambridge, focado nos “métodos para proteger os direitos de impressão na Inglaterra do século XVII”, lê-se na sua biografia profissional, citada pelo The Guardian.

De democrata a republicana

O percurso de Usha denuncia algum interesse político e, até 2014, estava registada como democrata e votou no partido nas primárias desse ano. Foi também nesse ano que se casou com J.D. numa cerimónia inter-religiosa no Kentucky e, pouco depois, começou a trabalhar com o juiz Brett Kavanaugh no Tribunal de Recurso dos Estados Unidos para o Circuito de Washington. De seguida, esteve na equipa legal do presidente do Supremo Tribunal, John Roberts, entre 2017 a 2018, na mesma altura em que o magistrado redigiu uma decisão a favor da proibição de viagens de Trump dirigida a vários países muçulmanos.

Em 2022, nas eleições primárias em que J.D. Vance concorria para senador de Ohio, acompanhou o marido na campanha e votou no Partido Republicano. Manifestou novamente o apoio nesta segunda-feira, ao entrar de mão dada com o candidato na convecção do partido, enquanto gritavam o nome de Vance. “A Usha traz-me definitivamente de volta à terra, e se eu ficar um pouco convencido ou orgulhoso demais, lembro-me apenas que ela é muito mais bem-sucedida do que eu”, disse o candidato em 2020 num podcast.

E, apesar de Vance ser um candidato conservador, garante não ter receio de ser ofuscado pelo sucesso da mulher. “Sou um daqueles tipos que beneficia muito com o facto de ter uma voz feminina poderosa no ombro esquerdo a dizer: ‘Não faças isso, faz aquilo’ — é muito importante”, declarou.

Certo é que, agora, Usha passará a estar ao seu lado a tempo inteiro, enquanto se dedica também aos três filhos: dois rapazes, Ewan de 6 anos e Vivek de 4, e uma menina Mirabel, de 2 anos. A candidata a “segunda-dama” segue os passos do marido de Kamala Harris, Doug Emhoff, que também deixou a advocacia para se dedicar a apoiar a mulher, ao contrário da primeira-dama, Jill Biden, que continuou a exercer a profissão de professora.

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