A indústria têxtil “não pode ser passiva” e a A Line reflecte o desejo de crescimento

A marca nasceu no seio da Spring, uma empresa de confecção têxtil de Paços de Ferreira, com o propósito de mostrar a qualidade da moda portuguesa.

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A nova loja, no Porto, foi projectada pela dupla de arquitectos Rita Castro Lima e Luís Almeida PEDRO CARDIGO
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Hélder Gonçalves já fazia roupa “há mais de 20 anos” para grandes marcas de todo o mundo quando decidiu arriscar numa marca própria. Mais do que ser uma aposta financeira, a A Line, que acaba de abrir uma loja no Porto, é um posicionamento no sector que quer colocar Portugal no mapa como um país de criatividade, mais do que apenas um destino para a confecção. “O negócio da moda é difícil, mas acho que, no futuro, esta é a única solução que vamos ter para manter a indústria”, defende o empresário ao PÚBLICO.

É que Portugal pode vir a ser ultrapassado por outros países mais baratos na confecção, diz Hélder Gonçalves, que já antecipa essa crise há vários anos, o que motivou em parte o arranque da A Line em 2016. Até agora, o negócio seguia em velocidade cruzeiro com revendedores no estrangeiro, mas, neste ano, o foco está no mercado português com a abertura de uma loja no Quarteirão das Artes, no Porto.

Apesar do investimento de 75 mil euros na loja — a marca não revela o volume de facturação anual —, a A Line continua a representar uma pequena percentagem do negócio da Spring, que produz “300 mil peças de roupa por ano”, adianta o fundador. “Se nós conseguirmos exponenciar a marca da forma de que gostamos ou queremos talvez daqui a três ou quatro anos a A Line possa ser um bom cliente da nossa empresa de private label”, acrescenta.

Criar uma etiqueta própria foi quase uma consequência da forma de produção vertical, desde o design até aos acabamentos, com que trabalhavam com os clientes internacionais. “Não podemos estar a fazer só o que os clientes pedem, oferecemos soluções de design. Se formos passivos, o cliente tanto confecciona uma camisa aqui, como em Marrocos. E não queremos isso”, defende Hélder Gonçalves, comparando a A Line a uma montra do que melhor sabem fazer no negócio da indústria de Paços de Ferreira.

Na teoria, a ideia é simples — “se fazíamos tudo cá dentro e muito bem para os outros porque não fazer também a nossa própria marca?” — mas ter uma etiqueta própria traz novos desafios, nomeadamente ao nível da comunicação e marketing. “A indústria trabalha de forma organizada, entre custos, contabilidade, previsões e retornos”, explica, confessando que, com uma marca, por vezes estas variáveis são imprevisíveis. E insiste: “Não é que ganhemos muito dinheiro com a marca, mas um negócio destes tem de se auto-sustentar.”

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PEDRO CARDIGO
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Loja da A Line PEDRO CARDIGO

Menos e melhor

Para minimizar o risco, arrancaram com o projecto na vertente de retalho, estando representados em lojas nos Estados Unidos ou Itália, num segmento de preço mais alto do que estaria habituado o mercado português — por exemplo, uma T-shirt custa 65 euros. O posicionamento foi uma escolha premeditada, mas também uma consequência da qualidade que querem oferecer. “Não usamos fibras sintéticas e isso é um ponto que mantemos sempre e condiciona o preço final da peça”, detalha, reforçando que “tentam” utilizar o máximo de tecidos portugueses.

É também uma medida em prol da sustentabilidade, já que a empresa é B Corp, uma das mais conhecidas certificações de responsabilidade ambiental e social. Mas, mais do que se afirmarem como marca sustentável, o objectivo é incutir outro tipo de mentalidade, mais próxima do minimalismo. As colecções da A Line podiam ter saído de um conceito de armário cápsula pela elegância e simplicidade do design intemporal. Ou seja, mais do que criarem peças inventivas, preferem apostar num corte rigoroso e em bons materiais — também têm um serviço de reparação disponível. “A nossa cliente é uma mulher com classe que não se deixa levar por modas ou tendências e arrisca em marcas alternativas”, descreve a designer da etiqueta, Filomena Machado, em conversa com o PÚBLICO.

Na loja no Porto, projectada pela dupla de arquitectos Rita Castro Lima e Luís Almeida, querem chegar aos clientes portugueses — para já estavam apenas na loja multimarcas The Feeting Room, em Lisboa e no Porto. O objectivo foi transpor para o novo espaço o espírito da etiqueta com uma atmosfera de luxo, não só pela iluminação e os tons neutros, mas pela forma de exposição das peças, dispostas num cabide circular.

A identidade visual deverá acompanhar o projecto que se quer expandir para Lisboa “em breve”. De resto, o objectivo é manter a marca no mesmo segmento, ainda que não neguem tentar uma aproximação ao design de autor em colaboração com um criador português, reconhecendo que poderá ser difícil encontrar um consenso — em Portugal, há ainda um histórico afastamento entre designers e indústria. “O design de autor não abdica do estatuto de criador, mas a indústria não gosta desse tipo de instabilidade. Faltam designers que tenham uma vertente mais comercial”, termina com um apelo.

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