Atirador trabalhava num lar e pertencia a um clube de tiro. Ninguém sabe explicar o ataque
Thomas Crooks era auxiliar de enfermagem, não tinha historial de violência e a vizinhança recorda-o como inteligente e calmo. FBI não descobriu o que levou o jovem de 20 anos a tentar matar Trump.
O retrato reunido até agora do auxiliar de enfermagem de 20 anos que atacou Donald Trump num comício eleitoral este sábado não permitiu apurar, até agora, o que motivou o tiroteio — ou como é que conseguiu chegar tão perto de matar o ex-Presidente dos Estados Unidos.
Os primeiros pormenores que surgiram sobre Thomas Matthew Crooks, morto a tiro pelas forças de segurança norte-americanas, retratam um jovem que trabalhava num emprego de nível básico perto da sua cidade natal, na Pensilvânia, onde terminou o liceu em 2022, com a reputação de ser um aluno brilhante e colega tranquilo. O seu orientador escolar, que o acompanhou durante o ensino secundário, descreveu-o como "respeitador" e disse que Crooks nunca expressou um interesse vincado por política, mas era simpatizante republicano.
Jim Knapp, que se reformou em 2022 do seu trabalho como conselheiro escolar na Escola Secundária de Bethel Park, onde Thomas Crooks estudou precisamente até há dois anos, disse que o jovem sempre foi "calminho", "respeitador" e reservado, embora tivesse alguns amigos. Raramente se cruzava com ele porque "não era um miúdo carente": contentava-se em almoçar ocasionalmente sozinho no refeitório da escola, disse Knapp, que procurava os alunos para ver se queriam companhia.
"Os miúdos não lhe chamavam nomes, não o maltratavam", disse Knapp, afastando da equação um possível caso de bullying. "Qualquer pessoa pode passar-se, qualquer pessoa pode ter problemas", teorizou : "Alguma coisa foi um gatilho para aquele jovem e levou-o a conduzir até Butler e a fazer o que fez."
Um colega de turma que pediu para não ser identificado confirma que Crooks não demonstrava qualquer interesse particular por política. As suas atenções centravam-se na construção de computadores e em jogos. "Ele era superinteligente. Isso é o que realmente me surpreendeu, ele era um miúdo muito, muito inteligente", disse o colega de classe: "Nada de estranho veio à tona em qualquer conversa."
Perfil limpo nas redes sociais
O FBI disse, ainda no domingo, que o perfil de Crooks nas redes sociais não contém linguagem ameaçadora ou violenta. Também não encontrou qualquer historial de problemas de saúde mental. O que é único em Crooks — quando comparado com outros atiradores que abriram fogo em escolas, igrejas, centros comerciais ou desfiles — é o facto de ter estado a meros centímetros de matar o candidato presidencial.
No sábado à tarde, Crooks entrou num telhado a 150 metros do palco onde Trump estava a discursar em Butler, na Pensilvânia. Começou então a disparar uma espingarda semiautomática do tipo AR-15, comprada pelo seu pai, disseram as autoridades. Segundo o FBI, Thomas Mathew Crooks agiu sozinho.
O tiroteio matou um homem de 50 anos, feriu gravemente dois outros espectadores e atingiu a orelha de Trump — um caso que está a ser investigado como uma tentativa de homicídio que inflamou ainda mais a já amarga divisão política dos EUA. O FBI disse que estava a investigar o tiroteio como "potencial terrorismo doméstico".
Residente em Bethel Park, a cerca de uma hora de distância do local onde ocorreu o tiroteio, Crooks era um republicano registado que, em função da idade, seria elegível para votar pela primeira vez nas eleições presidenciais a 5 de Novembro, nas quais Trump desafia o Presidente Joe Biden.
Os registos públicos mostram que o seu pai é republicano, que a mãe é democrata e que, aos 17 anos, Crooks fez uma doação de 15 dólares para uma causa do Partido Democrata. No entanto, recorde-se, estava registado como simpatizante republicano, o que lhe permitiria votar nas primárias do partido.
Pertencia a um clube de tiro e trabalhava num lar
O suspeito era também membro de um clube de tiro local chamado Clairton Sportsmen's Club, confirmou o clube aos meios de comunicação social no domingo, condenando o tiroteio e classificando-o como um "acto de violência sem sentido". Crooks trabalhava ainda como ajudante num lar de idosos, na área da preparação dos alimentos e planeamento das refeições, disse a administradora num comunicado.
"Estamos chocados e tristes por saber do seu envolvimento, uma vez que Thomas Matthew Crooks desempenhou o seu trabalho sem incidentes e o seu registo de antecedentes estava limpo", disse Marcie Grimm, administradora do Bethel Park Skilled Nursing and Rehabilitation Center.
Os vizinhos da família Crooks disseram sentir-se chocados e perturbados pelo facto de uma tentativa de assassinato ter sido associada a uma pessoa da pacata cidade de Bethel Parks, com 33 mil habitantes. "É uma zona bastante operária, pensar que alguém estava tão perto é um pouco estranho", disse Wes Morgan, de 42 anos, que trabalha numa empresa de gestão de investimentos e anda de bicicleta com os filhos na mesma rua da residência dos Crooks.
Um casal que se encontrava no alpendre da sua casa de tijolo, nas proximidades, ficou a pensar nos acontecimentos do fim-de-semana. "Nunca houve um problema com armas. Nunca foi chamada a polícia", disse Mary Priselac, 67 anos, ao lado do marido: "Temos de nos perguntar o que é que ele não conseguiu na vida... o que é que o levou a este extremo."
A arma de Crooks tinha sido comprada legalmente pelo pai do atirador, disseram os funcionários do FBI. Bruce Piendl, proprietário da Allegheny Arms and Gunworks, uma loja de armas em BethelPark, disse que elas fazem parte da cultura da região. "É preciso compreender que, no oeste da Pensilvânia, temos uma rica tradição de caça, pesca e actividades ao ar livre", disse ele: "Num raio de dez milhas daqui [o equivalente a 16 quilómetros], há mesmo muitos clubes de armas."
Piendl disse que o seu registo mostra que não vendeu nenhuma arma de fogo ao atirador, mas recusou-se a dizer se vendeu alguma à sua família.