George Clooney e a revolta das celebridades contra permanência de Biden na corrida presidencial

A crítica de Clooney é especialmente importante, porque se trata de um dos maiores apoiantes de Biden em Hollywood — uma importante base de apoio ao presidente que agora parece estar a vacilar.

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Em Maio, George Clooney contactou a Casa Branca por causa do trabalho de Amal Clooney, sua mulher, no TPI Mario Anzuoni/Reuters/ Arquivo
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George Clooney apelou na quarta-feira à saída do Presidente Biden da corrida às eleições presidenciais de 2024, instando os democratas a escolherem um novo candidato. A deserção do actor vencedor de um Óscar vem juntar-se a uma onda de protestos de democratas proeminentes que apelam a Joe Biden, 81 anos, para que se afaste depois da sua performance hesitante e confusa num debate presidencial, a 27 de Junho, com Donald Trump, 78 anos, que há muito afirma que Biden é mentalmente incapaz de liderar o país.

A crítica de Clooney é especialmente importante, porque se trata de um dos maiores e mais conhecidos apoiantes de Biden em Hollywood — uma importante base de apoio ao presidente que agora parece estar a vacilar. "Adoro o Joe Biden. Como senador. Como vice-presidente e como presidente", escreve Clooney num artigo de opinião do New York Times. "Considero-o um amigo e acredito nele", continua. "Mas a única batalha que ele não pode vencer é a luta contra o tempo", acrescenta. "É devastador dizê-lo, mas o Joe Biden com quem estive há três semanas na angariação de fundos não era o Joe 'big F-ing deal' Biden de 2010. Nem sequer era o Joe Biden de 2020. Ele era o mesmo homem que todos nós testemunhámos no debate."

Questionado pelo The Washington Post, Simon Halls, representante de Clooney, não quis comentar este artigo, no qual Clooney acrescenta ainda que os democratas estão tão concentrados em derrotar Trump nas próximas eleições que "optaram por ignorar todos os sinais de alerta" sobre a idade do presidente. O actor diz ainda que o desempenho de Biden no debate, bem como a sua entrevista na ABC com George Stephanopoulos, criaram preocupações de que no próximo ano os democratas não controlariam nem a Casa Branca, nem o Senado, nem a Câmara dos Deputados.

"O que está em causa é a idade. Nada mais", escreve Clooney. "Mas também nada que possa ser revertido. Não vamos ganhar em Novembro com este presidente".

Embora Clooney não tenha nomeado uma pessoa específica para substituir Biden, apontou a vice-presidente Kamala Harris e vários governadores democratas (como Gretchen Whitmer, do Michigan, e Gavin Newsom, da Califórnia) como potenciais candidatos.

As críticas de Clooney não foram totalmente inesperadas. Em Maio, o actor telefonou a um dos principais assessores de Biden para se queixar da denúncia feita por Biden da acção do Tribunal Penal Internacional contra os líderes israelitas. A mulher de Clooney, Amal Clooney, trabalhou no caso. O telefonema levou alguns funcionários de Biden a recear que Clooney não marcasse presença numa festa de angariação de fundos que contou com o antigo presidente Barack Obama, do apresentador de televisão Jimmy Kimmel e da actriz Julia Roberts. Segundo a Associated Press, o evento, no qual Kimmel entrevistou Biden e Obama, terá angariado mais de 30 milhões de dólares.

Desde o debate presidencial contra Trump, no mês passado, que Biden tem denunciado com firmeza os apelos das "elites" de Washington para que se afaste da corrida presidencial, mas o clamor das celebridades que têm apoiado significativamente os seus esforços de angariação de fundos aumenta a pressão pública e financeira — e pode estar a aumentar.

Sobre o artigo de opinião de Clooney, o actor Michael Douglas, de 79 anos, disse no programa The View que considera que "é um ponto válido". Embora não tenha pedido ao presidente para desistir da corrente, declarou: "Estou profundamente, profundamente preocupado." Douglas acrescentou ainda que a "dificuldade de Biden no debate" poderia ter sido facilmente evitada. "Em primeiro lugar, deviam ter dito ao presidente para se levantar, maquilhar-se um pouco, (...) e depois para onde olhar", disse. "E não se limitassem a lidar com todos os factos; lidassem apenas com as mentiras [de Trump]."

O actor e cineasta Rob Reiner também apoiou o artigo de opinião de Clooney numa publicação partilhada na rede social X, antigo Twitter. "O meu amigo George Clooney expressou claramente o que muitos de nós temos vindo a dizer. Nós amamos e respeitamos Joe Biden", escreveu. "Reconhecemos tudo o que ele fez pelo nosso país. Mas a democracia está a enfrentar uma ameaça existencial. Precisamos de alguém mais jovem para ripostar. Joe Biden deve afastar-se."

Entre os actores de Hollywood que perderam a confiança em Joe Biden incluem-se o apresentador do Late Show da CBS, Stephen Colbert; o co-fundador da Netflix, Reed Hastings; o realizador Michael Moore; o actor John Cusack e o autor Stephen King. "Joe Biden tem sido um óptimo presidente, mas chegou a altura de ele — no interesse da América que ele tão claramente ama — anunciar que não vai concorrer à reeleição", publicou o escritor no X.


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Bárbara Wong

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