Há oito anos, Éder chutou de longe. E Portugal rebentou de alegria
Vitória frente à França no Euro 2016 aconteceu há exactamente oito anos. Éder foi o herói inesperado da final, com um golo na segunda parte do prolongamento.
Ainda parece que foi ontem, mas, na verdade, já lá vão oito anos. Nesta quarta-feira, 10 de Julho, cumpre-se precisamente o oitavo aniversário da vitória portuguesa no Euro 2016, a primeira competição internacional conquistada pela selecção das “quinas” – e uma vingança pela final perdida frente à Grécia em pleno Estádio da Luz. Desta feita, foi a vez de os portugueses estragarem a festa dos anfitriões do torneio, com uma vitória por 1-0 sobre a França já no período de prolongamento.
Apesar de se passar quase uma década desde este jogo, as emoções continuam bem à flor da pele quando nos recordamos desses 120 minutos de sofrimento e união colectiva: a lesão de Ronaldo nos minutos iniciais, as defesas de Rui Patrício a segurarem o empate, a invasão de milhares de traças e o inesquecível remate longínquo de Éder que apenas parou no fundo das redes da baliza de Hugo Lloris.
O “patinho feio” da selecção nacional virou herói em poucos segundos, com Fernando Santos a cumprir a promessa feita de só voltar a casa após a final. “Desde o dia em que fui convocado que o seleccionador e o grupo sabem das minhas capacidades e confiam em mim”, exultou Éder após o apito final, resumindo desta maneira o sentimento generalizado do grupo: “O povo português merece.”
Mas a convicção inabalável do treinador pareceu fragilizada logo na fase de grupos, com três empates em outras tantas partidas. No cômputo geral da competição, Portugal apenas venceu um jogo no tempo regulamentar: o triunfo por 2-0 sobre o País de Gales, que confirmou o apuramento para a final. Nos restantes jogos a eliminar, a selecção das “quinas” apenas conseguiu superiorizar-se no prolongamento – golo de Ricardo Quaresma aos 117' frente à Croácia – ou então no desempate por grandes penalidades – vitória por 5-3 frente à Polónia.
Cristiano Ronaldo, a maior estrela da prova, saiu lesionado de um choque com um jogador adversário logo nos primeiros minutos. O capitão tentou por várias vezes permanecer em jogo, mas foi obrigado a pedir a substituição. Acompanhou o encontro a partir do banco, gesticulando nos minutos finais e repetindo alto e bom som as ordens ditadas por Fernando Santos.
Caiu ao chão em lágrimas quando o árbitro confirmou o final do encontro. Já no balneário, colocou a conquista ao serviço da selecção acima dos troféus conquistados anteriormente – palmarés impressionante com várias “Champions” à mistura.
“Estou muito feliz. É um dos dias mais felizes da minha vida. Nem troféus individuais, nem 'Champions'. Este é o momento mais feliz da minha vida”, assegurou Cristiano Ronaldo, agradecendo a todos os envolvidos nesta caminhada. “Era o título que faltava na minha carreira. E graças a vocês, malta toda que está aqui, jogadores, staff todo, o treinador outra vez. A fé que o mister teve a mim marcou-me, para ser sincero. Os médicos, os seguranças, o Joaquin, que é o meu sócio, o Ricardo, o Miguel, o meu irmão. Do fundo do coração, estou mesmo feliz. Merecemos isto. Entrámos na história de Portugal, fomos os primeiros”.
Mesmo no turbilhão de euforia que seguiu o apito final, não deixou de existir espaço para o fairplay e respeito pelo adversário: um pequeno vídeo de um menino luso-descendente a consolar um adepto francês em lágrimas junto ao estádio foi um dos mais partilhados da noite. O abraço entre os dois adeptos correu o mundo e foi elogiado internacionalmente como um exemplo de desportivismo. O adepto francês chegaria inclusivamente a ser convidado pelo Turismo de Portugal a visitar o país, um prémio de consolação após a desilusão vivida dentro das quatro linhas.
À mesma hora, Portugal saía às ruas para pintar o país com as cores da bandeira. A celebração do título encheu as principais praças de norte a sul: os milhares de adeptos que já tinham assistido ao jogo em ecrãs gigantes receberam de braços abertos outros tantos que viram o jogo nas respectivas casas e procuravam agora festejar ao ar livre, convidados pelo calor de Verão de uma noite de Julho. Além-fronteiras, o título também foi festejado em inúmeros países – independentemente do fuso horário.
Se os festejos do dia 10 de Julho foram tremendos, o day after não ficou atrás. Na chegada do avião a Lisboa, dois jactos de água (um de cor vermelha e outro de cor verde) sinalizavam a chegada dos heróis de Paris. Centenas de trabalhadores aeroportuários saltavam e cantavam junto à pista de aterragem, com o autocarro dos festejos a ser estacionado ao lado do avião para acelerar a logística. Junto ao Aeroporto Humberto Delgado, muitos aguardavam ansiosamente para ver de perto os jogadores e o “caneco” conquistado horas antes.
O caminho até ao Palácio de Belém fez-se lentamente e com milhares de pessoas a saudar os campeões da Europa. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, agradeceu a determinação exibida pelos jogadores em toda a competição, dizendo que esta conquista serviu para renovar o orgulho dos portugueses no país.
“São um exemplo do que é ganhar com coragem, determinação, capacidade de luta, humildade e espírito de equipa. A diferença entre hoje e ontem é que temos mais razões, devido a vocês, de acreditarmos em Portugal”, afirmou o Presidente da República, rodeado das principais figuras de Estado.
Feita a recepção no Palácio de Belém, os jogadores voltaram a subir ao autocarro da festa e foram conduzidos pelo centro de Lisboa. O momento alto da tarde aconteceu na rotunda do Marquês de Pombal, palco conhecido por receber os festejos futebolísticos da cidade. Milhares de pessoas encheram as ruas e conseguiram ver bem de perto o troféu.
Ao Campeonato da Europa, a selecção nacional somaria ao palmarés em 2019 a primeira edição da Liga das Nações, competição conquistada no Estádio do Dragão frente aos Países Baixos. Oito anos depois da final de Paris e saídos de uma recente eliminação à mão dos franceses no Euro 2024, a dificuldade e importância do feito conseguido em 2016 sai reforçada. Um dia para recordar – e que, esperemos, se volte a repetir.