Provas de 9.º ano: média melhora a Matemática, mas “subida não é factual”
Sociedade Portuguesa de Matemática fala num nível de complexidade da prova inferior ao do ano anterior. Resultados a Português em linha com os de 2023, apesar de descida ligeira.
Sem surpresas, os resultados obtidos na prova final de Matemática pelos alunos do 9.º ano de escolaridade melhoraram face a 2023 (a média passou de 43 para 51 pontos, numa escala de zero a cem). São oito pontos de diferença em relação a um resultado que, no ano passado, tinha sido um dos piores em quase 20 anos de provas finais. Mas há alertas deixados pela vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, Isabel Hormigo, em declarações ao PÚBLICO: “esta subida não é factual” porque o nível de complexidade da prova em si foi também inferior por comparação à do ano anterior. Já o resultado a Português apresentou uma ligeira descida: passou de uma média de 61, em 2023, para 59 pontos este ano lectivo.
De acordo com os dados do Júri Nacional de Exames (JNE), divulgados nesta segunda-feira pelo Ministério da Educação, Ciência e Inovação, os 94 mil alunos do 9.º ano que prestaram provas a Matemática atingiram uma média positiva, de 51 pontos, — algo que não tinha sido conseguido nos dois anos anteriores. Para Isabel Hormigo, esta classificação não é sinónimo de que os estudantes tenham tido, de facto, um melhor desempenho que os do ano passado. “O teste facilitava muito a vida do aluno”, diz.
“É bastante positivo [o resultado], mas é preciso ver também em que circunstâncias. Na SPM já tínhamos feito uma apreciação em que tudo apontava que a média iria subir”, reflecte a responsável, que sublinha: “as duas provas são pouco comparáveis”, referindo-se aos testes de 2023 e 2024. O próprio JNE refere esse facto em comunicado, quando se refere a esta prova. “No entanto, o facto de as provas da mesma disciplina não serem comparáveis entre anos lectivos não permite concluir que o desempenho dos alunos tenha melhorado.”
Num parecer à prova de Matemática do 9.º ano, que decorreu no dia 12 de Junho, a SPM defende que “quanto ao nível de complexidade, tendo havido um acréscimo entre a prova de 2022 (considerada como aferição) e a do ano de 2023, verifica-se um retorno a uma prova com um nível de complexidade inferior e que não avalia de forma eficaz alguns procedimentos importantes (...) e não é possível avaliar em que medida o sistema de ensino está a cumprir os objectivos relativos aos desempenhos de nível superior”.
Os próprios alunos deram conta disso mesmo à saída do exame, na Escola Secundária D. Manuel I, em Beja, onde o PÚBLICO conversou com alguns estudantes antes e depois do teste. A tranquilidade inicial deu lugar a cenas de exuberante alegria: a maioria confessava que não esperava uma prova tão acessível.
Recorde-se que, em quase 20 anos de provas finais do 9.º ano, só sete apresentam médias positivas a Matemática, numa evolução que, por vezes se assemelha a um “carrossel”, como comparava ao PÚBLICO, há um ano, Isabel Hormigo. Quer isto dizer que a subidas acentuadas se sucederam quedas também profundas.
Resultados a Português em linha com os do ano anterior, apesar de descida ligeira
Português sofreu uma descida mínima, de dois pontos, passando de 61 para 59. Prestaram provas a esta disciplina 92.142 alunos. Na prova de Português observou-se que 76% dos alunos obtiveram uma classificação positiva (ou seja, igual ou superior a 50 pontos), contra 78,2% no ano passado, enquanto na prova de Matemática esse valor desceu para apenas metade dos alunos que fizeram o teste: 50% tiveram positiva contra 42% no ano passado.
A prova de Português esteve, aliás, envolta em polémica este ano. O peso da escolha múltipla e a escolha de um texto de uma autora que não fazia parte do programa da disciplina de Português foi alvo de críticas junto de pais, professores e alunos do 9.º ano de escolaridade por todo o país. Apesar de considerar que a prova foi equilibrada, João Pedro Aido, vice-presidente da Associação de Professores de Português (APP), disse, em declarações ao PÚBLICO dias depois de os alunos terem feito o teste, temer que os resultados pudessem piorar face às boas notas no exame final de 2023, defendendo uma redução da preponderância dos itens de escolha múltipla.
Na maioria das restantes provas (Português Língua Não Materna e Língua Segunda), cujos exames têm muito menos inscritos, os resultados são semelhantes aos do ano lectivo anterior.
Há um ano, estes mesmos resultados relativos às provas finais de 9.º ano, demonstraram uma “boa surpresa” a Português, em que, por comparação a 2022, a média subiu de 55% para 61% (numa escala de zero a 100). Em 2023 as provas finais do 9.º ano de escolaridade voltaram a contar para a nota final dos alunos, algo que tinha sido suspenso durante a pandemia de covid-19.