É só inquietação, inquietação: Divertida-Mente 2 e a inteligência da Pixar

O “botão de pânico” da puberdade trabalhado pela Pixar em velocidade de cruzeiro, mas com a sofisticação a que o estúdio nos habituou em tempos.

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Divertida-Mente 2: a Pixar joga no campeonato do cinema
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Divertida-Mente 2: a Pixar joga no campeonato do cinema
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É uma daquelas ideias visuais de que só a Pixar é capaz: a entrada na puberdade é anunciada por um “botão de pânico” e um alarme sonoro que ressoa pelo centro de controlo que é o cérebro de Riley, a menina que tínhamos conhecido em Divertida-Mente. A miúda acaba de chegar à adolescência, vai passar um fim-de-semana com as melhores amigas a um estágio de hóquei em patins onde vai estar a jogadora que ela idolatra, mas as emoções que gerem o seu quotidiano — Alegria, Medo, Raiva, Repulsa e Tristeza — ficam completamente à toa com o crescimento de Riley. Eis que surgem os empreiteiros para alargar a consola de controlo para anunciar a chegada de novas emoções: Ansiedade, Ennui, Inveja e Vergonha. E, como convém nestas ocasiões de grandes mudanças, a Ansiedade toma o controlo, ao ponto de desestabilizar o quotidiano de Riley.

Muito se tem falado sobre a “correcção de rumo” que Divertida-Mente 2 traz ao estúdio de animação americano, depois de quatro ou cinco anos um pouco à toa derivados das convulsões pelas quais passou a casa-mãe Disney. Depois de, em 2023, Elemental ter ultrapassado as expectativas com uma carreira longuíssima em salas, esta sequela do filme de 2015 de Pete Docter é já um dos maiores êxitos de bilheteira da história da companhia fundada por John Lasseter e Steve Jobs.

E percebe-se perfeitamente porque é que o é: funcionando dentro de um quadro criativo que os espectadores já conhecem, a equipa dirigida aqui por Kelsey Mann introduz a sensibilidade atenta dos melhores momentos Pixar. Como aquele momento em que, momentaneamente desanimada, Alegria diz que “se calhar é isto que acontece quando as pessoas crescem — têm menos alegria nas suas vidas”. Ou a ideia dos segredos de infância que se fecham a sete chaves para que ninguém lá chegue. Ou a consciência de que a adolescência é um momento-charneira de confusão emocional no qual se torna impossível bloquear a enxurrada de memórias e sensações contraditórias.

Um pouco de novo, um pouco de velho, o todo embrulhado no superlativo trabalho de animação a que a Pixar nos habituou (atenção a um par de cenas onde Mann põe lado a lado várias técnicas e estilos de animação, sublinhando a sofisticação maníaca de um estúdio que nunca esquece onde tudo começou). Recupera-se aqui algum do elã perdido nos últimos anos, reconhece-se um outro cuidado colocado na construção depois de uns quantos filmes demasiado formulaicos e formatados. É um passo em frente que não está à altura do magnífico Soul, o último verdadeiro clássico do estúdio — é uma sequela que não pode funcionar isolada e não evolui para lá do original, preferindo prosseguir em velocidade de cruzeiro — mas que nos recorda que o campeonato em que a Pixar joga não é o da animação, mas sim o do cinema, tout court.

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