A frente republicana francesa estava viva e foi às urnas derrotar a extrema-direita

Segundo as sondagens à boca das urnas, a esquerda ganhou as eleições e o macronismo resistiu. Nova Frente Popular está pronta para governar. Attal demite-se na segunda-feira de manhã.

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Noite “cheia de esperança”. Parisienses celebram resultado eleitoral em França Reuters, Joana Bourgard
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Na rotunda de Stalinegrad, em Paris, houve uma explosão de alegria e emoção, tão intensa quanto inesperada. Os jovens que aguardavam, entre o medo e a esperança, os números das primeiras projecções de resultados da segunda volta das eleições legislativas francesas irromperam em abraços de júbilo, algumas lágrimas e um contentamento um tanto ou quanto incrédulo. Um “suspiro de alívio”, como lhe chamou o primeiro secretário do Partido Socialista, Olivier Faure, aos seus apoiantes não muito longe dali, no centro cultural La Bellevilloise

Afinal a frente republicana francesa que todos pensavam superada pelo vento dos tempos estava viva e, nesta segunda volta, não só a maioria absoluta da União Nacional (RN) de Marine Le Pen e Jordan Bardella foi travada, como a coligação de esquerda da Nova Frente Popular (NFP) acabou por eleger o maior número de deputados (entre 188 e 199, de acordo com a projecção da TF1). E até o Juntos (164 a 169), a coligação do Presidente Emmanuel Macron, superou a extrema-direita (135 a 143), perdendo muitos deputados (tinha 250 deputados), mas aguentando uma bancada maior que a da RN.

Como afirmou Jean-Luc Mélenchon, o líder da França Insubmissa, principal partido da NFP, a esquerda “conseguiu um resultado que muitos diziam impossível” e agora “está pronta para governar”. Também Olivier Faure disse o mesmo por outras palavras: “A NFP deve assumir o comando desta nova página da nossa história.”

“Esta votação permitiu evitar o pior”, porque “a França disse não à chegada da RN ao poder”, sublinhou o líder socialista, acrescentando que, face a estes resultados, a NFP, e dentro dela o PS, tem o papel de “reconstruir um projecto colectivo”.

"Esta noite, temos uma maioria relativa e, por isso, peço àqueles que foram deserdados três vezes que anunciem claramente que reconhecem a sua derrota"e "que digam claramente que, no próximo ano, nunca juntarão os seus votos para se aliarem à extrema-direita para travar a NFP", disse Faure, falando aos apoiantes de Macron. "O tempo do desprezo acabou".

Macron e o primeiro-ministro Gabriel Attal passaram a campanha a comparar a NFP e a RN como duas faces da mesma moeda extremista, à esquerda e à direita. E nas televisões, os comentadores afectos ao campo macronista seguiram insistindo nessa tecla, sabidos os resultados.

Attal, que anunciou que entregará a demissão na segunda-feira de manhã, mas se manterá em funções enquanto for preciso, sublinhou que o “espírito” republicano francês continua vivo, algo que permitiu evitar tanto uma maioria absoluta de extrema-direita como de extrema-esquerda, ao mesmo tempo que impedia o desaparecimento dos valores dessa República – os três riscos que o campo de Macron havia identificado para esta eleição. Aproveitando ainda para ver um lado positivo no resultado do campo macronista: "Tivemos três vezes mais deputados do que as estimativas."

Para Jordan Bardella, que esperava ser o primeiro a chefiar um Governo da extrema-direita em França, a vitória dos valores republicanos franceses, referidos por Attal, não representa outra coisa que não seja uma “aliança da desonra”, uma “aliança contranatura” que, mais uma vez, impediu “a todo o custo” os franceses que desejam a mudança de a conseguir.

“Os perigosos acordos eleitorais entre Emmanuel Macron e Gabriel Attal com grupos de extrema-esquerda estão a privar o povo francês de uma política de recuperação”, disse o político, visivelmente agastado pelo resultado. O dirigente político que apelara à maioria absoluta para governar afirmou que, mesmo saindo desta eleição sem essa vitória histórica, a RN sai da eleição “encarnando, mais do que nunca, a única alternativa ao partido único que vai de Philippe Poutou a Édouard Philippe”, falando do líder do Novo Partido Anticapitalista, de extrema-esquerda, e do antigo primeiro-ministro e líder do partido de centro-direita Horizons.

Para a líder da RN também não houve qualquer reconhecimento de derrota, apenas o de uma vitória “adiada” porque o seu partido continua a ser “o principal partido” em França. “A maré está a subir. Não subiu o suficiente desta vez, mas continua a subir", anunciou Marine Le Pen, em declarações à TF1, citadas pelo Libération.

A presidente da RN garantiu ter “demasiada experiência para ficar desiludida com um resultado” em que o seu partido conseguiu duplicar o número de deputados. O seu braço direito, Renaud Labaye, em declarações ao Le Figaro, disse, por seu lado, que “não devemos mentir, é claro que estamos desiludidos", mas também sublinhou o lado positivo: “Em muitos círculos eleitorais, não tenho os pormenores dos resultados, ultrapassámos os 40%. É certo que não são 50%, mas é muito. Há dois anos e meio, tínhamos sete deputados na Assembleia".

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