“Fechados na própria cabeça”: Cotrim defende que IL precisa de mudar comunicação

Os liberais reuniram-se este fim-de-semana num congresso do qual não sairá nenhuma novidade na direcção do partido. Encontro serviu para discutir estatutos, mas as alterações foram chumbadas.

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O eurodeputado João Cotrim de Figueiredo MANUEL FERNANDO ARAÚJO / LUSA
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O antigo líder liberal João Cotrim de Figueiredo avisou que a IL não ganhou um voto com a convenção deste fim-de-semana, defendendo que o partido precisa de mudar a forma de "fazer e comunicar política".

"Ao longo destes dias, demos vários exemplos de estarmos às vezes fechados na nossa própria cabeça. É como se um liberal acabasse no pescoço e não passasse para o resto do corpo. Há uma espécie de racionalismo, eu vou chamar mesmo hiper-racionalismo, que é muito limitador da acção política", disse o recentemente eleito eurodeputado num discurso que fechou os trabalhos da parte da manhã do último dia da VIII Convenção Nacional da IL, em Santa Maria da Feira.

Segundo Cotrim de Figueiredo, "apesar da cobertura da comunicação social" que a reunião magna teve ao longo dos dois dias, "este hiper-racionalismo leva a crer" que o partido não ganhou "nenhum voto neste fim-de-semana", o que deve fazer os liberais reflectir.

"Vou citar Lenine, aliás vou parafrasear Lenine e dizer-vos, talvez mesmo alertar-vos, que 'o hiper-racionalismo é a doença infantil do liberalismo'", disse.

Para o antigo presidente da IL, são precisas "ideias e melhores ideias que inspirem", mas é também necessário que o partido se apresente e comunique "de forma inspiradora". "Não é mudar o povo que precisamos, é mudar a nossa forma de fazer e comunicar politica. Precisamos de inspirar as pessoas", defendeu.

No sábado, depois de um dia a discutir as duas propostas de alteração aos estatutos, o partido terminou o dia sem que nenhuma fosse aprovada uma vez que não alcançou a maioria dos dois terços necessários, saindo de Santa Maria da Feira com os mesmos estatutos.

Um partido azedo ou confiante?

Cotrim de Figueiredo perguntou "o que inspira mais", se "um partido que aparece zangado e azedo ou optimista e confiante", se um partido que "só faz críticas e é bota-abaixo ou um partido que é construtivo e mostra competência", ou mesmo "um partido que parece às vezes moralista e é certamente por vezes sectário ou um partido que é aberto e acolhedor a ideias diferentes".

"Mostraram [as europeias] que é possível fazer política ganhadora com campanhas optimistas, confiantes, que sejam alegres e sérias, optimistas e competentes, e isso vai buscar votos onde menos se espera", defendeu.

O antigo líder do partido apresentou a fórmula que considera ser a necessária para que o partido continue a crescer: boas ideias (ou seja, "uma boa base programática"); melhores ideias (a "adequada e competente acção política"); e ideias que inspirem (ou seja, a forma de comunicar).

"Temos no poder um PSD que avança timidamente nalgumas das direcções que temos vindo a apontar", defendeu, considerando ser preciso apostar numa "oposição de forma coerente e consistente".

Mudar programa político para retirar riscos

Por sua vez, o liberal Bernardo Blanco justificou as primeiras alterações ao programa político da IL com a necessidade de retirar posições problemáticas e riscos políticos, além de inscrever novos temas, considerando que defende "ideias corajosas" como "mais nenhum partido".

Referindo que o actual documento tem "posições demasiado eleitorais e detalhadas" e "posições contraditórias" com aquelas que a IL tem vindo a defender, Bernardo Blanco afirmou que era preciso eliminar "alguns riscos políticos" e mostrar que o partido evoluiu. Foram, disse, retiradas "posições mais problemáticas" e solidificado o posicionamento em temas nos quais o partido tem agora "muito mais a dizer".

"Inserimos novos temas onde o programa político actual nada diz. Poder local, sustentabilidade, migrações, habitação. Muitos deles não podemos deixar que fiquem apenas para outros partidos", adiantou.

Assumindo que algumas frases "são genéricas" porque foi preciso chegar "a um consenso com centenas de contributos" recebidos, o dirigente da IL enfatizou que este programa "assume posições corajosas" que tem a certeza que "mais nenhum partido colocaria".

Entre estas ideias está, segundo Bernardo Blanco, a de que a IL "não se revê num Estado paternalista que force uma igualdade de resultados" ou a defesa de um "Estado enxuto, com uma Administração Pública transparente, instituições fortes, descentralizado e orçamentalmente responsável", ou ainda de uma "função pública mais pequena, eficiente e qualificada, sujeita a avaliações de mérito e adequadamente remunerada".

A IL acredita ainda que "apenas devem existir empresas públicas nos casos em que um determinado bem ou serviço não possa ser garantido por empresas privadas em ambiente competitivo" e que "quer os lucros, quer os prejuízos privados não devem ser socializados".

Na discussão aberta aos membros, entre uma maioria de elogios, surgiram críticas relativamente à forma como a IL se dirige aos pensionistas e à forma como aborda as migrações. "Queremos uma liberdade para ricos e uma liberdade para pobres?", questionou-se. Dando resposta às suas próprias inquietações, Bernardo Blanco defendeu que a IL não quer "um país nunca de porta fechada, mas tem de haver algumas regras".