Maioria absoluta parece já ter fugido a Le Pen e Bardella

Dirigentes do partido extremista acreditam que as últimas projecções não se vão confirmar. Participação pode ultrapassar os 67% da primeira volta.

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Todas as sondagens indicam que Le Pen e Bardella vão ficar longe da maioria necessária para controlar a Assembleia Nacional de 577 deputados Benoit Tessier / REUTERS
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Todas as projecções de lugares publicadas desde a apresentação final das candidaturas para a segunda volta das eleições parlamentares de domingo em França coincidem em deixar a maioria absoluta fora do alcance da União Nacional, confirmando, assim, o sucesso do grande número de desistências de candidatos de centro e de esquerda, que visavam, precisamente, dificultar a eleição de deputados do partido nacionalista e xenófobo. Mas Marine Le Pen e Jordan Bardella garantem que continuam confiantes.

Segundo os dados de quatro institutos (Ifop, Elabe, Odoxa e Harris), a União Nacional vai garantir 190 a 250 lugares, enquanto a aliança de esquerda Nova Frente Popular ficará entre os 140 e os 200, a antiga maioria presidencial elegerá 95 a 155 e Os Republicanos 25 a 60. De acordo com os dados do Ifop (para o jornal Le Figaro), a União Nacional e os seus aliados (a facção d’Os Republicanos que manifestou o seu apoio ao partido) vão eleger entre 210 e 240 deputados – menos 30 do que era antecipado pelo mesmo instituto antes das desistências.

Com estes dados, nem somando o valor máximo previsto para o partido de Bardella com a estimativa de resultados d’Os Republicanos, que deverão conseguir 25 a 45 lugares, seria possível atingir a maioria absoluta de 289 deputados.

O mesmo instituto antecipa que o partido de Emmanuel Macron poderá atenuar a sua queda, ocupando 85 a 125 lugares da Assembleia Nacional, muitos mais do que os 60 a 90 que o Ifob lhe atribuía logo depois da primeira volta.

A participação é um dado que pode confirmar ou desmentir estas estimativas: entre os entrevistados para esta sondagem, 68% dos eleitores círculos eleitorais ainda por preencher dizem que vão votar. Na primeira volta, a participação foi de 67% e uma diminuição da afluência às urnas em relação à primeira volta poderia favorecer a União Nacional.

No último domingo, só foram eleitos os 76 candidatos que garantiram mais de 50% dos votos e na maioria dos círculos (de um total de 577) passaram à segunda volta três candidaturas (o que em 2022 só tinha acontecido em oito círculos), que somaram os necessários mais de 12,5%.

Questionada sobre as últimas previsões, Marine Le Pen tem respondido que não teme ficar aquém da maioria absoluta. “Não, estou muito confiante. Os franceses têm um verdadeiro desejo de mudança”, disse ao canal de televisão TF1.

Bardella tem dito que não formará governo sem maioria absoluta, o que Le Pen já admitiu fazer. Mas, segundo a versão francesa do Huffington Post, ambos acreditam que as últimas projecções não se vão confirmar. Isto porque, em 2022, as sondagens realizadas entre as duas voltas subestimaram o voto na União Nacional.

“Embora a maioria absoluta parecesse estar ao alcance da maioria presidencial (entre 230 e 300 lugares), a coligação acabou por obter 250 lugares”, escreve o site de notícias, partir das projecções feitas então pelo Ifop e pelo Cluster. Ao mesmo tempo, para a União Nacional “o limite superior das projecções era de 60 lugares, mas, no final, o grupo presidido por Marine Le Pen foi formado por 89 deputados”.

Num ou noutro sentido, as comparações com eleições anteriores são arriscadas. Com o anúncio da realização de eleições antecipadas por parte de Macron, uma hora depois de conhecidos os resultados das europeias, a 9 de Junho, a urgência levou os partidos de esquerda a ignorarem as fortes divergências e a lançarem a Nova Frente Popular, o que acabou por originar os três actuais blocos.

Ao mesmo tempo, a sociedade mobilizou-se e a participação cresceu. Agora, o grande número de desistências a esmagadora maioria da esquerda e do campo do Presidente) deverá impedir a maioria da União Nacional, mas não esclarece que governo poderá sair das urnas e se esse conseguirá governar ou servirá apenas para cumprir os mínimos até Macron poder voltar a dissolver a Assembleia Nacional, daqui a um ano.

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