Alvo de ameaças racistas, primeiro deputado alemão nascido em África decide não se recandidatar
Karamba Diaby, nascido no Senegal e eleito para o Parlamento alemão em 2013, recebeu várias ameaças nos últimos anos. O seu gabinete na Saxónia-Anhalt foi também alvo de ataques.
O primeiro deputado nascido em África a exercer funções no Parlamento alemão, Karamba Diaby, anunciou esta quinta-feira que não vai candidatar-se a um novo mandato, semanas depois de ter denunciado os insultos racistas e ameaças de morte de que tem sido alvo.
O deputado de 62 anos, nascido no Senegal e a viver na Alemanha desde 1985, justificou o afastamento da política com a vontade de passar mais tempo junto da família e de dar lugar a políticos mais jovens. Contudo, o anúncio surge pouco depois de ter tornado públicas uma série de mensagens de ódio que ele e a sua equipa receberam.
“Após muita reflexão e ponderação, decidi – em conjunto com a minha família – não voltar a candidatar-me ao Bundestag”, declarou num comunicado divulgado online. “Após três legislaturas, é hora de abrir caminho para a próxima geração política. Continuarei, claro, activo no SPD e a trabalhar pela coesão social.”
Sobre os insultos e ameaças, Diaby disse que “não foram os principais motivos” da sua decisão e que não se deixaria intimidar.
“Desde 2017 que o clima no Parlamento se torna mais hostil”, considerou numa entrevista recente ao jornal Politico. “Ouvimos os discursos agressivos dos colegas da Alternativa para a Alemanha (AfD). Ouvimos palavras depreciativas e ofensivas nessas intervenções. Este estilo de discurso agressivo cria um terreno fértil para a violência e agressão nas ruas.”
Karamba Diaby, do Partido Social Democrata alemão (SPD), estreou-se no Bundestag em 2013. Diaby e Charles M. Huber, dos democratas-cristãos, foram os primeiros deputados negros do Parlamento alemão. Huber, de 67 anos, nasceu já na cidade alemã de Munique, filho de pai senegalês. Diaby é o primeiro parlamentar alemão nascido em África.
Em 2021 Karamba Diaby foi reeleito enquanto cabeça-de-lista do SPD pelo estado da Saxónia-Anhalt.
“Nos últimos anos, recebi várias ameaças de morte. Isto ultrapassou todos os limites”, revelou, citado pelo The Guardian. “O ódio que a AfD semeia todos os dias com as suas narrativas misantrópicas reflecte-se em violência psicologia e física concreta. Isto ameaça a coesão da nossa sociedade. Não podemos simplesmente aceitar isto.”
Em Janeiro de 2020, foram disparadas várias balas contra o gabinete de Diaby em Halle, na Saxónia-Anhalt. Há pouco mais de um ano, novo ataque: dessa vez, o edifício foi alvo de uma tentativa de fogo posto. Alguns dos seus funcionários foram ainda chantageados, numa tentativa de os forçar a deixar os seus cargos, e ameaçados.