Os vinhos que marcaram a minha vida: Ana Moura
A chef-proprietária do Lamelas tem longa relação com Porto Covo, terra do seu avô e poiso de férias desde que se lembra. Sem surpresa, os vinhos que mais a marcaram trazem sempre o mar por perto.
Em 2023, a Revista de Vinhos e o blogue Mesa Marcada elegeram-na “Chefe Revelação”, ainda que esta chef nascida em Lisboa há 39 anos seja tudo menos uma novata. Fez-se cozinheira no Eleven, ganhou consistência em Espanha (com o tri-estrela Arzak, em San Sebastián, no currículo) e deu que falar quando regressou à sua cidade, em 2015, para liderar o Cave 23, no Torel Palace, e, posteriormente, a Bacalhoaria Moderna, que fechou com a pandemia.
O capítulo seguinte começa em 2021, quando Ana Moura encontra o seu espaço – ou, nas suas palavras, “O restaurante onde sou mais eu” – num local “no meio do nada”. Escolheu Porto Covo porque fazia parte da sua vida. “O meu avô nasceu lá e passo lá férias desde que me lembro”, conta.
No restaurante Lamelas promete “sabor a Alentejo”, sendo que o mar é o principal fornecedor da carta, de mãos dadas com os vinhos das redondezas – uma aposta em parcerias que, defende, se baseiam “numa ligação humana, temos de gostar muito [dos produtores] e eles de nós, senão não faz sentido”. Se lhe perguntarem que vinhos a marcaram mais, logo vêm à conversa essas relações retribuídas.
Moscatel Armagnac, Horácio Simões
Gosto muito de Moscatel, desde nova. Lembro-me de ir com os meus pais a restaurantes e, com 12 anos – não bebia, calma! –, dava os meus golinhos no Moscatel. As outras pessoas ficavam meio chocadas com os meus pais, mas, obviamente, nem meio copo bebia, só dava um golinho ou outro. Quando provei este Moscatel, uns anos mais tarde, adorei. Nem consigo explicar bem porquê. Mas é diferente e muito, muito agradável.
Vinha do Rossio Branco, Herdade do Cebolal
O [produtor] Luís [Mota Capitão] acaba por fazer um trabalho, não obrigatoriamente definido como vinhos naturais, mas muito distinto dos [restantes] vinhos. Acho os vinhos dele incríveis. São muito bem-feitos e acompanham bem pratos de peixe mais pesados, como um arroz de peixe e camarão. E no Lamelas o nosso foco é o peixe.
Caios Branco, Herdade do Cebolal
Já não está sequer à venda, e estou sempre a pedir ao Luís para voltar a fazer. Foi um vinho que me marcou há alguns anos e é um dos meus preferidos de sempre. É um daqueles que eu que eu bebo e fico feliz. Ainda tenho garrafas antigas guardadas em casa. De vez em quando abro uma e penso, “Ah, é isto!”. Não consigo dizer que ano, mas a última vez que o tive num restaurante foi em 2015, portanto ele já não deve fazer desde essa altura.
Encruzado Laranja, Monte da Carochinha
O Monte da Carochinha é a herdade mais próxima de Porto Covo – tanto que são considerados vinhos de Porto Covo. Eles já trabalham com a casta encruzado há algum tempo. Quando me disseram que iam fazer um orange de encruzado, eu disse logo, “Quero provar isso, quero vender esse vinho no restaurante”. É perfeito para mim, porque adoro a casta e adoro os vinhos com curtimenta. Provei há dois meses e está incrível.
Grauvaque Y14 branco, A Serenada
A Serenada é outra adega local com quem trabalhamos muito. É um produtor que faz vinhos num estilo mais clássico, mas são vinhos incríveis. Adorava dizer coisas que sobre as castas, mas teria de pesquisar mais. O Y14 branco sempre foi um dos meus preferidos. Foi o vinho que me fez querer trabalhar com A Serenada.
Depoimento recolhido e editado por João Mestre
Este artigo foi publicado no n.º 7 da revista Solo.