É preciso ter calma: porque é que o impacto económico de Taylor Swift não é real

A cantora norte-americana pode ser uma megaestrela a revolucionar a indústria musical, mas depois de passada a excitação, é preciso uma lupa para ver os benefícios económicos.

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Concerto de Taylor Swift no estádio do Benfica, em Lisboa, em Maio passado Nuno Ferreira Santos/Arquivo
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Taylor Swift está a tomar a Europa de assalto, levando alguns especialistas a prever um impacto económico, à medida que os fãs acorrem a dezenas de espectáculos esgotados, de Dublin a Viena e mais além. Espera-se que Swift, juntamente com os Jogos Olímpicos, em França, e o campeonato de futebol Euro 2024, na Alemanha, dêem um impulso a um continente que apenas contornou a recessão durante a maior parte dos últimos dois anos e ficou muito atrás dos Estados Unidos.

Mas há um problema: a Swiftonomics não é realmente real. Ela pode ser uma megaestrela a revolucionar a indústria musical, mas depois de passada a excitação, é preciso uma lupa para ver os benefícios económicos.

Estocolmo é um exemplo disso. Cerca de 180.000 fãs assistiram aos seus três espectáculos em Maio, metade dos quais vindos do estrangeiro, gerando um volume de negócios de cerca de 850 milhões de coroas (cerca de 80 milhões de euros) para a cidade.

É uma grande viagem de três dias para Estocolmo, mas uma gota de água mesmo para a modesta economia sueca, que ocupa o oitavo lugar na União Europeia, com uma produção anual de 623 mil milhões de euros.

"Este volume de negócios adicional é um grande impulso para o fim-de-semana de Estocolmo e, em especial, para o seu sector turístico", afirma Carl Bergkvist, economista-chefe da Câmara de Comércio de Estocolmo. "Mas é apenas isso — um fim de semana, sem qualquer impacto visível ou significativo no crescimento económico global."

Segundo a câmara local, os hotéis e os restaurantes fizeram uma fortuna e até as vendas de chapéus de cowboy aumentaram 155%. Mas o impacto nos preços é invisível e poderá mesmo ser menor do que quando Beyoncé actuou na cidade um ano antes, provocando um susto temporário com a inflação. Com ou sem o efeito Beyoncé, a inflação sueca desceu desde então de 10% para pouco mais de 2% actualmente.

"Haverá um efeito Taylor Swift? É extremamente pequeno e temporário, na melhor das hipóteses", declara Carsten Brzeski, economista da ING. "No período que antecede os grandes eventos, há muita investigação que sublinha os benefícios económicos, mas depois é preciso uma lupa para encontrar os ditos benefícios nos números", acrescenta.

E o veredito é o mesmo para os Jogos Olímpicos ou para o Euro 2024. São uma vantagem para os restaurantes, as vendas de cerveja e os vendedores de merchandising, mas não afectam de forma duradoura os padrões de consumo.

"As despesas de consumo que ocorrem são despesas que aconteceriam de qualquer forma e tendem a ser uma forma de substituição", explica o professor Simon Shibli, da Universidade de Sheffield Hallam. O argumento é que o dinheiro gasto num bilhete para um concerto ou num hotel sairia do orçamento familiar, o que significa que não sobraria para outras despesas, como restaurantes ou viagens.

O "índice de cerveja" do Danske Bank, que não deixa de ser irónico, revelou um aumento significativo quando a Dinamarca disputou o seu último Campeonato Europeu de Futebol, atingindo um máximo de 106% nas receitas de bares e restaurantes num jogo contra a Inglaterra, em comparação com o habitual.

"A um nível micro, esses eventos dão um impulso, mas esse impulso é pequeno e temporário", confirma Piet Haines Christiansensa, da Danske. "São relevantes para sectores específicos, como a hotelaria e a restauração, onde quer que Taylor Swift vá, ou as vendas de cerveja nos países onde se joga futebol."

No mês passado, alguns meios de comunicação locais aproveitaram a investigação do Barclays sobre os hábitos de consumo dos suecos para sugerir que os concertos da cantora trariam mil milhões de libras esterlinas para a economia do Reino Unido.

Mas, para além do provável efeito de substituição que têm sobre as outras despesas, há também o facto de grande parte das receitas da digressão de Swift irem parar aos Estados Unidos, o que reduz um benefício económico local já de si reduzido. Para economias com a dimensão da Grã-Bretanha ou da Europa continental, essas transferências também não alterariam a balança comercial: a zona euro de 20 países tinha um saldo de exportações sobre importações de nada menos que 39 mil milhões de euros só em Abril.

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