BE convoca conferência nacional para debater papel do partido e alianças nas autárquicas

Liderança de Mariana Mortágua contestada na reunião da Mesa Nacional bloquista. Partido quer reflexão para preparar autárquicas e futuras legislativas.

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A coordenadora do Bloco apresentou as conclusões da reunião da Mesa Nacional ANTÓNIO COTRIM / LUSA
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A coordenadora do Bloco de Esquerda assumiu neste domingo o "mau resultado" nas europeias e anunciou uma conferência nacional para discutir o papel do partido no actual ciclo político e debater a política de alianças para as autárquicas do próximo ano.

Numa conferência de imprensa para apresentar os resultados da Mesa Nacional da véspera, Mariana Mortágua assumiu que o Bloco teve "um mau resultado" nas últimas eleições europeias, nas quais "perdeu votos, perdeu percentagem e perdeu um mandato", sendo esta a "sequência de uma perda eleitoral" que o partido não foi capaz de reverter.

Comprometendo-se a trabalhar para "reverter este ciclo político", a coordenadora do BE anunciou que foi decidido "abrir um debate alargado, dentro e fora do partido sobre a afirmação do Bloco de Esquerda como uma esquerda moderna, unitária". "Um primeiro passo nesse processo é uma conferência nacional que a Mesa Nacional convoca para o último trimestre de 2024", antecipou, referindo que este momento será de "participação aberta" aos militantes.

Mortágua recusou, no entanto, antecipar a convenção nacional como defendeu na reunião de sábado o ex-deputado Carlos Matias. "O Bloco de Esquerda teve uma convenção há pouco tempo, teve duas moções em debate, uma saiu minoritária, como sabem, e agora apresentou esta resolução e que faz parte do debate interno. Temos diferentes posições sobre diferentes assuntos, em particular sobre as questões de política internacional", começou por responder. Acrescentou que o partido define a sua "linha política na convenção" que vai acontecer no "próximo ano, de forma regular e ordinária". "Não me parece é que até essa convenção o Bloco não tenha que fazer um trabalho de reflexão, de debate interno e externo".

O objectivo dos bloquistas é que se faça um "debate muito alargado sobre o papel do Bloco de Esquerda no presente ciclo político, nacional e internacional". "Queremos que essa conferência sirva também para fazer um debate sobre as responsabilidades da esquerda perante um ciclo autárquico que se abre agora e em particular para discutir a política de alianças do BE nas eleições autárquicas", acrescentou.

A proposta da direcção do BE, segundo Mortágua, é que se "debatam as condições para convergências à esquerda que se possam traduzir em projectos verdadeiramente transformadores no território", dando como exemplo "a possibilidade de convergências mais alargadas para derrotar executivos de direita em sítios chave do país como em Lisboa", referiu.

Sobre as críticas da oposição interna de não ter sido feito um balanço sobre a linha política seguida na sequência da 'geringonça' e que terá levado a este ciclo de derrotas eleitorais, a coordenadora defendeu que "esse debate está feito e que o Bloco de Esquerda nunca fugiu a ele".

"Temos que reconhecer o que aconteceu; temos que reconhecer que o Bloco teve um mau resultado [nas europeias]. Temos que compreender o ciclo político que enfrentamos, a viragem à direita, que ela não se reverteu nestas eleições, embora tenha havido uma transferência de votos entre os partidos de direita que provocou uma derrota ao Chega que é sempre de ressalvar neste balanço", apontou. No entanto, para Mortágua, "no essencial o ciclo político é o mesmo".

"O debate que temos que fazer é como inverter este ciclo político e qual é o papel dos partidos de esquerda. Porque esta é uma perda de espaço do Bloco, certamente, mas de toda à esquerda, em particular à esquerda do PS, e isso deve provocar-nos uma vontade de uma reflexão sobre o futuro, sobre como é que a esquerda se afirma como uma alternativa", defendeu.

Sobre o desafio do Livre para reuniões de convergência com todos os partidos da esquerda e o PAN sobre as autárquicas do próximo ano, a líder bloquista mostrou total disponibilidade. "Aliás, vem na sequência de um primeiro movimento que fizemos a seguir às legislativas de debate com diferentes partidos do campo ecologista, à esquerda e que queremos ir aprofundando ao longo do tempo e isso quer dizer diálogo", acrescentou. Este deve ser um "diálogo interno e externo, com outros partidos, mas também com a sociedade civil, também com movimentos de cidadãos", defendeu Mortágua.

A última conferência nacional do BE, então a IV, realizou-se no final de Abril de 2022 com o objectivo de debater o rumo estratégico do partido, abordar a reorganização interna e a oposição dos bloquistas à então maioria absoluta do PS. Essa conferência tinha sido convocada pela Mesa Nacional que analisou os resultados eleitorais do partido nas legislativas antecipadas de 2022, nas quais o BE falhou os seus objectivos, deixou de ser a terceira força política, perdeu metade dos votos e ficou reduzido a cinco deputados.