Vinhos n’Aldeia. Um festival sem patrocínios, movido pela paixão de Maria Miguel

Na Aldeia Galega da Merceana, o Vinhos n’Aldeia juntou 600 pessoas para provar vinhos da região de Lisboa. Em 2025, volta a acontecer a 20 e 21 de Junho.

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O Vinhos n’Aldeia juntou 600 pessoas na Aldeia Galega da Merceana Conceição Mateus / Direitos Reservados
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Maria Miguel está habituada a organizar festas. O seu pai, agora com 91 anos, montava as festas da Aldeia Gavina, uma pequena aldeia em Alenquer colada à Aldeia Galega da Merceana, a uma hora de Lisboa. “Eu costumava acompanhá-lo”, conta Maria, de 49 anos. “Aliás, a primeira colectividade da aldeia nasceu das mãos do meu pai, porque os meus avós lhe emprestaram um armazém para começar a fazer os bailes.”

Quase meio século depois, tornou-se ela a “faz-tudo” da Aldeia Galega da Merceana, o sítio onde acontece em Junho o festival Vinhos n’Aldeia, no “coração dos vinhos de Lisboa”, diz Maria. O ano passado, o festival estreou-se com provas e jantares vínicos, visitas a adegas locais e concertos. Este ano, a proeza repetiu-se com uma segunda edição a 14 e 15 de Junho, mas “mais adaptada à vida pessoal” de Maria, diz a própria.

Os jantares vínicos saíram do programa, mas houve espaço para mesas-redondas, conversas num pátio emprestado pelo vizinho, provas com 35 produtores da região de Lisboa, música, ostras e hambúrgueres de choco. “Não temos bifanas, porque cada festa é uma festa. Esta é um festival de vinhos na aldeia e temos um cuidado imenso na fusão da gastronomia e do vinho.”

Até a música foi escolhida a dedo por Maria, com um duo brasileiro, os Bemquerê, e os portugueses Fado d’Alma. “Nasci num meio onde a festa, a organização de eventos e a contratação de bandas já fazem parte da alma”, afirma.

Produtor Quinta do Pinto, um dos que participaram no Vinhos n’Aldeia deste ano Conceição Mateus / Direitos Reservados
O Vinhos n’Aldeia, na Aldeia Galega da Merceana Conceição Mateus / Direitos Reservados
O Vinhos n’Aldeia animou de diferentes maneiras a Aldeia Galega da Merceana Conceição Mateus / Direitos Reservados
Houve espaço para tertúlias e conversas sobre vinho e a região de Lisboa no Vinhos n’Aldeia Conceição Mateus / Direitos Reservados
Um dos momentos musicais no Vinhos n’Aldeia deste ano Conceição Mateus / Direitos Reservados
A festa do Vinhos n’Aldeia entrou pela noite dentro Conceição Mateus / Direitos Reservados
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Produtor Quinta do Pinto, um dos que participaram no Vinhos n’Aldeia deste ano Conceição Mateus / Direitos Reservados

A ideia de organizar um festival na aldeia é antiga, mas ganhou forma nos “últimos sete anos”, quando Maria começou a trabalhar com a Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa (CVR Lisboa) – agora é responsável pela Loja de Vinhos da região, no Mercado da Ribeira. “Temos imensos eventos vínicos em Lisboa, dentro de hotéis e noutros espaços, mas no coração das vinhas, no meio de uma aldeia histórica, podemos crescer e trazer as pessoas a conhecer não só o território como todos os vinhos daqui da região de Lisboa.”

Apesar da distância da capital, a 45 quilómetros, faz sentido que o festival aconteça em Alenquer. “É a região com a maior mancha contínua visível de vinhas [no distrito de Lisboa] e achei que tinha as condições reunidas para começar a trilhar o caminho de um festival onde pudéssemos unir o que foi o meu passado, o que é o meu presente, e o que é o futuro.”

Este ano, foram 35 os produtores da região a marcar presença no festival, de zonas tão distintas como a Ericeira (Ouriceira), Bucelas (Monte do Roseiral), Óbidos (Quinta Várzea da Pedra), Arruda dos Vinhos (Casa do Remoinhal), ou Alenquer (Quinta da Chocapalha) – além, claro, de outros produtores locais, “que também quiseram trazer os seus vinhos”, diz Maria.

No sábado, na tertúlia “Lisboa de lés-a-lés”, com o público sentado de copo na mão em fardos de palha, o escanção Tiago Simões fez uma visita guiada pelos vinhos das nove áreas geográficas de Denominações de Origem (Carcavelos, Colares, Bucelas, Arruda, Torres Vedras, Alenquer, Lourinhã, Óbidos e Encostas d’Aire), mostrando as suas diferenças.

No dia anterior, na tertúlia “Mulheres de Copo na Mão”, a ideia foi juntar “várias mulheres que estão no terreno”, diz Maria, como Andrea Tavares da Silva, da Quinta de Chocapalha, Rita Cardoso Pinto, da Quinta do Pinto, ou Cláudia Paiva, fundadora do projecto Wine Crush. “A ideia era partilhar o que é o sentimento deste grupo de mulheres que está no terreno relativamente ao enoturismo, ao crescimento futuro e à divulgação do território. Temos uma região gigante com imensa gente e imensos projectos, mas não temos mais de cinco quintas a abrir de segunda a domingo”

O festival ainda é um work in progress na aldeia, em constante afinação. Este ano, ao segundo dia, Maria desafiou os produtores a mudarem a localização inicial dos stands para ficarem mais próximos do largo principal da aldeia, onde está o palco, e não da adega. Todos aceitaram.

Sem patrocínios, mas com o apoio da CVR Lisboa, o festival depende muito da comunidade local e da própria paixão de Maria pelo lugar onde cresceu “no meio das vinhas”. “O único patrocínio sou eu”, sublinha.

Este ano, terão passado pelos dois dias de festival, que tinha um bilhete único a 15 euros, cerca de 600 pessoas. A edição de 2025 está confirmada e já tem datas: 20 e 21 de Junho. “Queremos subir o número de produtores, trabalhar com projectos a nível nacional que nos possam acrescentar valor e, sobretudo, trabalharmos com os parceiros locais para crescermos”, afirma Maria.

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