Milei chamou “cobarde” a Sánchez. Agora volta a Espanha para ser homenageado por Ayuso
Presidente da Argentina vai ser homenageado pela líder regional de Madrid (PP) e segue para Praga e Hamburgo para condecorações de institutos privados liberais. Mas reunião com Scholz foi cancelada.
Um mês depois do conflito diplomático entre Argentina e Espanha, o presidente “anarcocapitalista” Javier Milei volta a Madrid esta sexta-feira após novos insultos a Pedro Sánchez e sem cumprir a obrigação protocolar de pedir uma audiência ao chefe de Governo espanhol. Pediu, isso sim, para ser recebido pelo rei Felipe VI, sem sucesso. E também foi cancelada a reunião bilateral que chegou a estar prevista em Berlim com o chanceler alemão, o socialista Olaf Scholz, depois de o porta-voz deste Governo ter considerado “desagradáveis” as palavras do argentino sobre a mulher de Sánchez.
Como fagulha em mato seco, as palavras de Milei na convenção da direita radical que o Vox realizou em Madrid antes das europeias continuam a espalhar um incêndio diplomático que já ultrapassou as fronteiras dos dois países de língua espanhola. E, como sempre acontece nestas ocasiões, há quem tire partido da situação. É o caso da presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso (Partido Popular), que decidiu homenagear o Presidente argentino e assim marcar pontos junto do eleitorado do Vox.
Mas vamos por partes. Tudo começou a 17 de Maio, no comício internacional do Vox, onde Milei chamou “corrupta” a Begoña Gomez, mulher de Pedro Sánchez, devido às suspeitas de favorecimento de empresas privadas em que se viu envolvida e mesmo antes de o processo ser aberto. “Não sabem que tipo de sociedade e de país o socialismo pode produzir, que tipo de pessoas se metem no poder e que níveis de abuso pode gerar. Mesmo que ele tenha uma mulher corrupta, se suje e demore cinco dias a pensar nisso”, disse então.
No dia seguinte, o Governo de Espanha retirou a embaixadora do país em Buenos Aires e convocou a embaixadora argentina para uma reunião de urgência por causa de declarações de Milei, que Madrid considerou como insultos a Pedro Sánchez. O ministro espanhol dos Transportes, Óscar Puente, sugeriu que o argentino poderia ter consumido “substâncias”, levando a exigências cruzadas, e não correspondidas, de pedidos de desculpa pelos dois governos.
Na terça-feira, a menos de 72 horas de voltar a Madrid para ser homenageado pela Comunidade de Madrid e pelo think tank liberal Instituto Juan de Mariana, Milei voltou ao ataque a Sánchez. “O cobarde mandou todos os seus ministros para me insultar”, disse em entrevista ao canal argentino Tele Noticias, afirmando em seguida que se referia a Sánchez. “Começou com esse fulano dos Transportes e, como eu não respondi, ordenou que as mulheres me atacassem para depois me rotularem misógino”.
Nessa altura já saberia que Felipe VI tinha recusado a audiência que Milei lhe solicitara – embora não o tenha feito ao presidente do executivo, como é do protocolo. Fontes do Palácio da Zarzuela recordaram ao El País que o rei se “coordena com o Ministério dos Negócios Estrangeiros” e que “a política externa é competência exclusiva do Governo”. E já teria ouvido a porta-voz do executivo de Sánchez dizer que espera que, “durante as suas declarações, ele mantenha o respeito pelo povo de Espanha e pelas suas instituições”.
Nesta quinta-feira, na véspera de aterrar em Madrid, Milei foi o protagonista dos debates na assembleia regional madrilena, onde tanto o Vox como o PSOE criticaram a decisão pessoal de Isabel Díaz Ayuso de atribuir ao argentino a medalha internacional da comunidade.
“Quando Milei descobrir que os gastos públicos aumentaram e que ela [Ayuso] paga aos media subsidiados, ele vai entrar no [Portas do] Sol com uma motosserra”, disse Rocío Monasterio, do Vox. “Você não está a fazer isso em meu nome ou no de milhões de moradores de Madrid que acreditam no respeito e na boa política, o que é o oposto do que Milei e você fazem, que é o ódio constante”, exclamou Juan Lobato, líder do PSOE de Madrid.
Já Ayuso considera “uma honra” receber o líder radical sul-americano, que lhe serve ao mesmo tempo para marcar a agenda política, aborrecer o Governo socialista e ganhar pontos junto do eleitorado do Vox.
De Espanha, Milei segue para a Alemanha, para receber o prémio da liberal Fundação Hayek e onde deveria ter uma reunião bilateral com Scholz, entretanto cancelada pela diplomacia argentina. A mudança de planos aconteceu depois de o porta-voz do chanceler alemão ter considerado “desagradáveis” as palavras do sul-americano sobre Sánchez e a mulher.