Ordem dos Médicos considera inadmissível Viseu estar sem urgência pediátrica

Bastonário exigiu que “rapidamente e urgentemente” se encontre uma solução que passa, na sua opinião, por contratar mais pediatras para o hospital.

Foto
Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos, deixa elogios aos profissionais da ULS Viseu Dão-Lafões Matilde Fieschi
Ouça este artigo
00:00
04:42

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O bastonário da Ordem dos Médicos considerou esta quarta-feira inadmissível a Unidade Local de Saúde Viseu Dão-Lafões (ULSVDL) estar sem urgência pediátrica à noite e exigiu prioridade na solução, que passa pela contratação de pediatras.

"Não é admissível que Viseu não tenha resposta pediátrica como, infelizmente, não está a ter e esta situação merece prioridade e merece um atendimento específico do Ministério da Saúde e da direcção executiva" do Serviço Nacional de Saúde (SNS), exigiu Carlos Cortes.

O bastonário falava aos jornalistas ao final da manhã, em Viseu, depois de se ter reunido com o conselho de administração demissionário e os directores dos serviços da ULSVDL, e ainda os coordenadores das unidades de cuidados de saúde primários.

"Viseu é um hospital central, é um hospital que tem praticamente todas as especialidades e não há nenhum motivo para não ter uma resposta adequada na área da pediatria", defendeu.

Para Carlos Cortes, o "problema não deve ser deslocado" para os cuidados de saúde primários, "isso seria um erro", o foco deve passar por "encontrar, tentar por todos os meios, encontrar soluções para ter pediatras no hospital".

Um esforço que deve ser feito pelo Ministério da Saúde, pelo director executivo do SNS e por o conselho de administração da ULSVDL, entretanto demissionário e, neste sentido, Carlos Cortes disse que exigiu uma "solução rápida" para acabar "com este vazio".

O bastonário exigiu que "rapidamente e urgentemente" se encontre uma solução que passa, na sua opinião, por contratar mais pediatras para o hospital".

A administração da ULS Viseu Dão Lafões, demissionária desde 13 de Junho, activou em 1 de Março o plano de contingência, por falta de médicos, que implicou o encerramento exterior das urgências pediátricas de sexta-feira a domingo no período nocturno.

Entretanto, a saída de dois médicos e a chegada do período de férias agravaram a situação, levando a administração a encerrar as urgências pediátricas todas as noites da semana, desde 1 de Junho, entre as 20h00 e as 08h00.

No dia 17 de Junho, foi activado o plano "Lado a Lado na Pediatria", apresentado pela administração demissionária à ministra da Saúde, que reserva o acesso à urgência de pediatria no período nocturno à triagem da linha de Saúde 24 e aos médicos de família.

O plano envolve os cuidados de saúde primários, já que "das 20h00 às 23h00 e aos fins de semana vai haver um reforço de atendimento na Consulta de Atendimento Complementar Infantil dos Cuidados de Saúde Primários, no Centro de Saúde de Viseu 3, em Jugueiros".

"Não tenho conhecimento do plano. Devo dizer que fiquei surpreendido ao falar com os coordenadores das unidades dos cuidados de saúde primários de, eles próprios, não terem conhecimento do plano", reagiu Carlos Cortes quando questionado.

O bastonário defendeu que "muitos deles estão a ter, neste momento, resposta e estão a ser envolvidos no problema", o que, no seu entender, "erradamente, mas estão a ser envolvidos nesta questão e não têm conhecimento" do plano activado.

"Não acho esta solução adequada. A ULS Viseu Dão-Lafões precisa de pediatras para darem uma resposta adequada. Neste momento, não tem um número suficiente de pediatras para poder dar essa resposta. (...) Aquilo que as pessoas precisam é de uma resposta na área da pediatria", reforçou.

Pede rapidez para pôr fim a vazio

O bastonário da Ordem dos Médicos disse que já pediu para rapidamente ser encontrada uma solução para acabar com o vazio deixado pela demissão do conselho de administração da Unidade Local de Saúde Viseu Dão-Lafões (ULSVDL).

"Neste momento há um vazio, há um conselho de administração demissionário e eu já pedi à direcção executiva do SNS para rapidamente encontrar uma solução para não estarmos aqui a manter este período de vazio", afirmou Carlos Cortes.

"É preciso liderança, é preciso haver organização, coordenação, que não se compadece com esta situação que, neste momento, é de uma enorme confusão", acrescentou.

"Não vou comentar as palavras da senhora ministra, mas o que posso dizer é que encontrei no hospital dois aspectos que são importantes: uma grande falta de recursos humanos em todos os serviços, mas uma dedicação e um empenho dos profissionais que permite que muitas destas dificuldades estejam a ser ultrapassadas", afirmou Carlos Cortes.

Após as reuniões, o bastonário fez questão de deixar um "elogio muito forte" aos profissionais da ULS Viseu Dão-Lafões que "têm aguentado, apesar destas dificuldades, têm aguentado talvez como muitos outros hospitais não aguentam no país".

Neste sentido, apresentou uma lista de aspetos positivos na ULS Viseu Dão Lafões como, entre outras, "a ginecologia e obstetrícia que não tem falhas", "não há lista de espera para doentes oncológicos" e a medicina interna "com muita dificuldade, mas está a aguentar".

"Quero deixar uma mensagem de confiança, uma mensagem de tranquilidade, em que a ULS Viseu Dão Lafões está capacitada para dar uma resposta adequada a toda a população, mas há aqui também a necessidade de todos se juntarem para conseguir atrair mais profissionais, nomeadamente na área da pediatria", apelou.