Atletas de parkour danificam Património Mundial da UNESCO em Itália
O mesmo grupo de parkour, chamado Team Phat, já tinha sido expulso da cidade de Veneza.
Matera, no Sul de Itália, é considerada uma das mais antigas cidades continuamente habitadas no mundo. Os seus edifícios de pedra erguem-se no topo de uma encosta, enquanto as grutas milenares ajudaram a torná-la Património Mundial da UNESCO.
A história da cidade tem chamado a atenção de viajantes e de Hollywood: cenas do filme A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, foram lá filmadas, bem como partes de Mulher Maravilha, com realização de Patty Jenkins.
Mas Matera atraiu recentemente um novo tipo de atenção, depois de um grupo londrino de atletas de parkour ter usado o local para praticar a modalidade — e ter danificado um edifício histórico.
A acrobacia falhada surge num contexto de crescente escrutínio do impacto da actividade humana — dos turistas aos influencers, artistas de rua a atletas — em cidades e monumentos históricos.
Várias cidades tomaram medidas para conter o turismo excessivo, enquanto outras proibiram a entrada de visitantes em determinados locais devido a casos de comportamento abusivo.
Em Matera, os traceurs, como são designados os praticantes de parkour, filmaram-se a fazer um dos saltos num edifício e a provocar a queda de uma rocha saliente.
"Escondam as provas", ouve-se alguém dizer atrás da câmara, num vídeo publicado em Abril passado pelo grupo de parkour Team Phat.
Nem a cidade de Matera, nem a UNESCO, nem a Team Phat responderam aos pedidos de esclarecimentos enviados pelo The Washington Post nesta terça-feira.
Anteriormente, a Team Phat já tinha assumido a responsabilidade por uma acrobacia em Veneza, onde um atleta saltou de um edifício para um canal, o que levou o autarca da cidade a descrevê-lo como um "idiota" e a prometer que seria detido. Mais tarde, a Team Phat afirmou ter recebido uma multa e ter sido banida de Veneza.
Na versão de 23 minutos do vídeo gravado em Matera, ouve-se um dos membros do grupo dizer: "Fomos expulsos de Veneza, nunca mais podemos voltar. Por isso, viemos para o sítio que mais se assemelhava a ela."
As imagens mostram os traceurs a fazer acrobacias em Matera. A dada altura, um deles sugere a Devon McIntosh, também membro do grupo, que use uma pedra saliente na parede do edifício para se lançar para outro telhado.
"É suficientemente estável para te poderes agarrar a ela, mas tenho medo de que se parta", continua a mesma voz. "És um pouco mais leve do que eu, por isso, talvez seja um desafio melhor para ti. Prepara-te para saltar."
Devon McIntosh salta primeiro, com sucesso, da pedra para o telhado em frente. Outros dois traceurs avançam depois para o mesmo salto. Na segunda vez de McIntosh, a rocha cede sob os seus pés. Cai, diz para a câmara que se magoou no tornozelo e, mais tarde, mostra o que parecem ser lesões na coxa e no cotovelo. "Estávamos a confiar demasiado naquela coisa", acrescenta.
Um vídeo da acrobacia, visto mais de 2,4 milhões de vezes desde que foi publicado no Instagram, há duas semanas, motivou uma onda de indignação online, com muitos utilizadores a comentar que a modalidade deveria ser praticada com mais respeito pelos espaços.
"Mesmo que tenha sítios inacreditáveis, Matera não deveria ser usada como um parque de parkour", escreveu um dos críticos, que afirmou ser italiano e praticante de parkour.
"Foi muito mau derrubar aquela pedra, provavelmente tinha imensa história e era um orgulho para os donos e para os construtores de origem", acrescentou outro utilizador.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post